quinta-feira, 7 de abril de 2011

Crítica - Sucker Punch (2011)

Realizado por Zack Snyder
Com Emily Browning, Jena Malone, Vanessa Hudgens, Carla Gugino e Jon Hamm

Segundo o Dicionário de Inglês de Oxford, o termo Sucker Punch foi usado pela primeira vez em 1947 para baptizar um golpe no Boxe. Em essência, um Sucker Punch é um murro de que não se está à espera. O Sucker, neste caso, é o tótó ou alguém de quem se pode abusar. Posteriormente, o termo passou a ser usado como expressão idiomática em inglês que significa - consequências negativas inesperadas. Por outro lado, o dicionário online Devil's define Sucker Punch como dizer adeus aos sogros no Dia de Acção de Graças, para depois descobrir que, afinal, eles regressarão para o Natal. De igual modo, Sucker Punch significa dor de cabeça ou ressaca que costuma acompanhar a ingestão abusiva de álcool. A ironia está presente em ambas as definições. E, curiosamente, também no filme de Zack Snyder, ou não tivesse ele criado uma Cinderela Punk-Gótica com inspiração Polly Pocket.


O realizador começou a sua prolífica carreira com Dawn of The Dead, numa homenagem a George A. Romero, para depois enveredar pelo género épico com 300, recriando a história de Esparta num Universo visual digno de um Michelangelo dos CGI. Seguiu-se Watchmen, onde os saiotes espartanos deram lugar a fatos de lycra, numa adaptação da Banda Desenhada com o mesmo nome, dedicada a um grupo de Super-Heróis. Com Lenda dos Guardiões fez uma passagem pela animação e chega-nos agora Sucker Punch, que muito tem de (desenho) animado.
Baby Doll (Emily Browning) é uma adolescente que é enviada para um manicómio pelo padrasto, após este descobrir que ela é a única herdeira da fortuna deixada pela mãe. O objectivo é submetê-la a uma lobotomia para poder ficar com todo o dinheiro. A jovem orfã descobre que tem muito pouco tempo até à operação e, nessa luta contra os ponteiros do relógio, acaba por encontrar a salvação num reino de fantasia, criado na sua mente. Com a ajuda de quatro amigas do manicómio, Sweet Pea (Abbie Cornish), Rocket (Jena Malone), Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie Chung), Baby Doll vai dar início a uma batalha interior sem precedentes, onde a realidade se confunde com o imaginário.


O universo dos contos góticos é bem presente e transversal ao filme. E o trabalho de fotografia e de efeitos especiais, a esse nível, prima pelo cuidado e pelo bom gosto. O mesmo não se pode dizer da narrativa, infelizmente. Almejando a originalidade, visto ser este o primeiro guião de sua autoria, Zack Snyder levou tudo ao extremo. A começar no estereótipo das personagens, que claramente ilustram fetiches masculinos para todos os gostos. Nos seus trajes menores, pavoneiam-se no reino fantástico da mente de Baby Doll, enquanto enchem de porrada as mais diferentes criaturas, desde Zombies a Orcs , há de tudo um pouco. Só faltam mesmo algumas criaturas políticas, caso conhecesse o fantástico reino nacional. Mas já basta ver por ali perdido um Jon Hamm muito longe do carisma de Don Draper.
Em termos de parafernália visual, o efeito bullet time (consagrado com Matrix) é usado até à náusea, as sequências de acção sucedem-se umas às outras que nem pãezinhos quentes a sairem do forno e no meio de tanto tiroteio perdemos a história. Sucker Punch é mesmo um murro que nos deixa atordoados, tal a misturada de géneros que para ali anda a circular durante 110 Minutos. As actrizes ainda tentam dar alguma profundidade à narrativa, mas infelizmente estão reduzidas a mulheres de acção de um qualquer jogo de Playstation. O que faria sentido, num jogo.


Sucker Punch é uma versão gótico-punk do conto da Cinderela se ela se tivesse cruzado com a Lady Gaga no refeitório do liceu, misturado com Os Anjos de Charlie - full throttle, apimentado com excertos de Edgar Allan Poe e cozinhado com música pop-gótico-romântica. No meio de tanto ingrediente, uma história que poderia inspirar adolescentes a armar-se até aos dentes, figurativamente falando, claro, acaba por reduzi-las a meros objectos de fantasia sexual. Zack Snyder é o menino bonito da estética videoclip mas a maturidade de Watchmen ficou perdida algures pelo caminho. É pena.

Classificação - 1,5 Estrelas em 5

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