Realizado por Susanne Bier
Com Mikael Persbrandt, Trine Dyrholm, William Johnk Nielsen, Markus Rygaard
Com Mikael Persbrandt, Trine Dyrholm, William Johnk Nielsen, Markus Rygaard
O vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro é sempre um filme a ver nas salas de cinema. O simples facto de ser consagrado com o mais famoso prémio de cinema do mundo torna-o um filme com presença assegurada em quase todos os mercados cinematográficos, dando aos espectadores portugueses a rara oportunidade de apreciar uma obra falada numa língua que não a inglesa. Este ano, esse privilégio ficou entregue ao filme dinamarquês “In a Better World” (“Haevnen”, no original). E ainda bem que a realizadora Susanne Bier levou o Óscar para casa, porque senão, muito provavelmente, não teríamos o prazer de assistir a uma das obras mais inconformadas dos últimos anos. Inconformada, porque é notório que “In a Better World” se esforça bastante por transmitir uma mensagem de alerta face ao rumo que a existência humana está a tomar. Uma existência que, cada vez mais, cai numa desumanidade cruel, num calculismo frio e numa indiferença autómata deveras perturbadora. É certo que, a espaços, esta obra parece ter sido formatada de propósito para os Óscares da Academia norte-americana, já que possui uma narrativa clássica, com uma linearidade a roçar o previsível, embora jamais conservadora e enfadonha. Mas por outro lado, “In a Better World” mantém um certo brilhozinho de filmmaking à europeia, presenteando-nos com cenas de um arrojo que dificilmente veríamos numa produção de Hollywood.
A história foca-se sobre dois rapazes que provêem de famílias distintas, mas que, fatalmente, acabam por chocar uma na outra. Elias (Markus Rygaard) é um menino enfezado que sofre de bullying às mãos do habitual grupo de trogloditas, de idade mais avançada. A sua popularidade escolar não é a melhor e o ambiente familiar também não passa por uma fase muito feliz, já que os seus pais se preparam para divorciar. Mas todo o seu mundo sofre um abalo quando Christian (William Johnk Nielsen) – um rapaz da mesma idade, que acabou de perder a mãe numa dolorosa batalha contra o cancro – ingressa na mesma escola. Elias depressa vê em Christian um amigo que não pode perder, custe o que custar. O problema é que, em virtude da inesperada morte da mãe, Christian se transforma num rapaz tão cruel e violento quanto os bullies que tanto despreza. E a problemática amizade entre os dois rapazes acaba por culminar num trágico incidente, que só Anton (Mikael Persbrandt) – um médico idealista, que passa grande parte da sua carreira em missões de solidariedade por território africano – terá a clarividência necessária para resolver.
Estamos perante uma obra que tenta passar uma mensagem importante, sem, no entanto, tombar no moralismo barato e na visão de um mundo analisado a preto e branco. A câmara de Bier esforça-se, acima de tudo, por captar um mundo realista e sem artifícios simplórios, levando o espectador a questionar-se se o mundo em que vivemos é, de facto, melhor do que aquele que tanto olhamos com desdém. “In a Better World” não é para casalinhos enamorados que pretendem divertir-se enquanto traçam umas pipocas, isso é certo. Este é um filme que tem como objectivo levar o espectador a reflectir sobre aquilo que vê, desafiando-o a questionar as suas próprias crenças sociais, políticas e educativas.
Pela forma crua e dura como tenta filmar a realidade, “In a Better World” merece toda a atenção que lhe possamos dar. As próprias ideologias da humanidade são postas à prova, numa obra que tanto nos arrepia pelas interpretações soberbamente seguras do leque de actores, como nos encanta pela direcção de fotografia de Morten Soborg. Até pela maneira como filma a narrativa, torna-se claro que Susanne Bier fez por arquitectar um filme reflexivo e ponderado, onde um simples olhar pode dizer muito mais que mil palavras e onde um mero ritmo musical nos pode levar a experimentar um misto de emoções emaranhadas.
Por tudo isto e muito mais, “In a Better World” é um filme de visionamento obrigatório. Pode não ser um filme que fique para a História do cinema contemporâneo. Mas é, sem dúvida alguma, um dos grandes filmes do ano transacto, facilmente se afirmando como uma alternativa artística bastante válida para quem não tenha medo de enfrentar duas horas de cinema clássico e humanista.
Classificação – 4 Estrelas Em 5
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