Com Michael Cera, Mary Elizabeth Winstead, Ellen Wong, Kieran Culkin, Jason Schwartzman
Scott Pilgrim (Michael Cera) é um jovem como tantos outros. Azarado no amor e pouco popular entre os seus pares, Pilgrim divide um apartamento com um homossexual desvairado chamado Wallace (cómico Kieran Culkin, irmão do famoso Macaulay Culkin, do mítico “Home Alone”), que só o quer ver pelas costas. As suas paixões são os clássicos jogos de computador (preferencialmente da Sega) e o contrabaixo, instrumento musical de que se ocupa numa banda de garagem designada de Sex Bob-Omb. Ainda a sofrer as chagas do seu último amor fracassado, Pilgrim encontra consolo nos braços de uma jovem de 17 anos chamada Knives Chau (Ellen Wong) que, em virtude da sua inocência, idolatra o pobre rapaz e encara os Sex Bob-Omb como se fossem a mais assombrosa banda musical à face da Terra. Até aqui, tudo bem; Pilgrim vive uma existência perfeitamente normal. Porém, todo o seu mundo dá uma enorme cambalhota quando ele conhece Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead), uma jovem cool e misteriosa, acabada de chegar à cidade de Toronto. O tímido e franzino Scott Pilgrim fica imediatamente obcecado pela nova rapariga de cabelos cor-de-rosa. E após persegui-la como uma autêntica melga, lá consegue sacar um encontro amoroso com ela e assim desenvolver uma bizarra relação de intimidade. Mas o que o pobre Pilgrim estava longe de imaginar era que Ramona Flowers possuía sete ex-namorados maléficos (e completamente excêntricos) que lhe iriam fazer a vida negra. Pertencentes à Liga dos Ex-Namorados Maléficos criada pelo pérfido Gideon Graves (hilariante Jason Schwartzman), estes sete ex-pombinhos de Ramona invadem prontamente a vida tranquila de Pilgrim, bafejando-o com todo o tipo de ameaças de morte e golpeando-o com tresloucados golpes de kung-fu e fulminantes poderes mágicos dignos de um Street Fighter ou de um Mortal Kombat. E perfeitamente desnorteado com toda esta insanidade, com o objectivo final de ganhar a afeição da miúda dos seus sonhos, Pilgrim vê-se obrigado a lutar (literalmente) pela sua triste e tresloucada vidinha.
Assim se resume a essência da narrativa deste audaz, surpreendente e deliciosamente criativo “Scott Pilgrim vs. The World”. Inevitavelmente, a primeira coisa que tem de ser dita acerca deste filme é que não se trata de uma obra para todos os públicos. Longe disso. Como paródia (ou será antes uma homenagem?) ao modus operandi dos clássicos videojogos de luta dos anos 90, “Scott Pilgrim vs. The World” agradará sobretudo a um público mais jovem e irreverente. As referências ao mundo dos videojogos são mais que muitas e, mais do que em qualquer outra obra cinematográfica, faz aqui todo o sentido falarmos de uma aliança entre a Sétima Arte e esse mesmo reino dos videojogos. À medida que a fita se vai desenrolando, ficamos com a nítida sensação de que estamos a assistir ao “Modo Campanha” de um qualquer Tekken ou Virtua Fighter. E para quem for conhecedor destes mundos das consolas, “Scott Pilgrim vs. The World” desabrocha como uma experiência cinematográfica extremamente original e divertida. Afinal de contas, não são muitos os filmes onde o protagonista executa golpes especiais com uma barra de vida presente no canto inferior esquerdo do ecrã, e onde os supostos vilões (digo “supostos” porque, por vezes, são vilões tão patéticos que quase nos dão vontade de chorar… a rir!) se transformam em moedas ao emitirem o último suspiro. E assim sendo, goste-se ou não da forma como a película está arquitectada, jamais se poderá retirar-lhe o prémio de obra mais original do ano.
O aspecto técnico que mais salta à vista é o arrojo visual com que todas as sequências (especialmente as sequências de batalha) são filmadas. Os pormenores técnicos oriundos de uma fase de pós-produção bem pensada e trabalhada são de tal forma imensos, que “Scott Pilgrim vs. The World” facilmente se transforma num filme deliciosamente belo e delirante. Estamos, de facto, na presença de uma obra deveras invulgar. Edgar Wright (jovem realizador de memoráveis filmes como “Shaun of the Dead” e “Hot Fuzz”) marca o passo da narrativa com um ritmo extremamente fluido e uma atitude em tudo semelhante à que se pode encontrar no fabuloso “Kick-Ass”, estreado entre nós no início deste ano que está a chegar ao fim. Se a isto juntarmos um elenco de actores divertido e despretensioso, com inúmeros cameos (desde Anna Kendrick a Brandon Routh) que nos fazem rir e chorar por mais, “Scott Pilgrim vs. The World” não tem muito que se esforçar para adquirir o estatuto de filme absolutamente imperdível.
Não se trata do melhor filme do ano. Não é um filme com potencial para levar dezenas de prémios cinematográficos para casa. Não é um filme que nos marca pela qualidade da sua história, ou pelo virtuosismo das suas personagens. Mas é um filme que fica na retina. Um daqueles filmes que nos espanta e que, pela simples absurdidade da sua trama, nos obriga a sorrir até o rosto começar a doer. E sem sombra de dúvida, é um filme que merece uma oportunidade de visionamento, desde que se entre na sala com o estado de espírito adequado à ocasião. Os cinéfilos de idade mais avançada apreciá-lo-ão pela enorme criatividade artística que respira; e os mais jovens acarinhá-lo-ão como uma divertida obra de arte que homenageia o tão menosprezado mundo dos videojogos. Tornando-se assim, de certa forma, uma película de virtudes variadas e universais.
Classificação – 4 Estrelas Em 5
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