terça-feira, 12 de outubro de 2010

Crítica - Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole (2010)

Realizado por Zack Snyder
Com Hugo Weaving, Hugh Jackman, Helen Mirren, Geoffrey Rush, Jim Sturgess

Os quinzes livros que compõem a saga infantil “Guardians of Ga'Hoole” da autoria de Kathryn Lasky nunca conseguiram singrar comercialmente nos Estados Unidos da América ou na Europa mas conseguiram cativar a Warner Bros. e Zack Snyder que agora nos apresentam este “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole”, uma animação cinematográfica que nos leva numa fantástica viagem por Ga'Hoole, um universo mágico que nos é apresentado através de uma magnífica vertente visual que utiliza a mais recente tecnologia computorizada para nos encantar e fascinar. A sua história é protagonizada por Soren (Jim Sturgess), uma jovem e sonhadora coruja que adora as histórias que o seu pai lhe conta sobre os Guardiões de Ga’Hoole, um mítico bando de guerreiros que defendem o Reino das Corujas (Kingdom of Ga'Hoole) dos temíveis Pure Ones, um grupo de renegados que são liderados por Metalbeak (Joel Edgerton) e Nyra (Helen Mirren). O grande sonho de Soren é ser um Guardião de Ga’Hoole, um sonho que é constantemente ridicularizado pelo seu irmão mais velho, Kludd (Ryan Kwanten), que tem inveja da atenção que Soren recebe do seu pai e que acredita que ele nunca conseguirá ser uma coruja guerreira porque é demasiado fraco. Um dia, os dois irmãos caem acidentalmente da árvore onde estão e são capturados por Jatt (Leigh Whannell) e Jutt (Angus Sampson), dois membros dos Pure Ones que os levam para a St. Aegolious Academy for Orphaned Owls, uma espécie de academia militar onde os Pure Ones tentam transformar jovens corujas em violentos rebeldes, no entanto, eles não conseguem convencer Soren que juntamente com a sua nova amiga, Gylfie (Emily Barclay), vai tentar libertar todas as corujas raptadas e avisar os Guardiões de Ga’Hoole sobre os planos maléficos dos Pure Ones.


O enredo de “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole” explora os principais acontecimentos dos três primeiros livros desta saga infantil (Guardians of Ga'Hoole Book 1: The Capture, Guardians of Ga'Hoole Book 2: The Journey e Guardians of Ga'Hoole Book 3: The Rescue) mas também explora vários temas que não são propriamente os mais indicados para uma animação que tem as crianças como o seu público-alvo. Os guionistas deste filme, John Orloff e John Collee, tentaram imitar os recentes sucessos comerciais da Pixar/Disney, “Up” (2009) e Wall-E” (2008), duas obras animadas que exploraram com subtileza e criatividade alguns temas complexos como a morte ou a solidão, no entanto, essas características (subtileza e criatividade) não foram incutidas em “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole” pelos seus guionistas que não souberam desenvolver correctamente temáticas igualmente complicadas. A sua incapacidade é particularmente evidente quando abordam sem qualquer sentido de moralidade ou compaixão a complexa relação entre Soren e Kluud, dois irmãos que embarcam numa intensa rivalidade que envolve vários sentimentos amargos que conduzem a uma inesperada traição e a uma luta violenta. John Orloff e John Collee também não conseguiram explorar com habilidade e criatividade outras temáticas secundárias mas igualmente importantes, como por exemplo, as preferências parentais que levaram Kludd a se revoltar contra Soren e Ga’Hoole ou as inúmeras visões politicas que vão aparecendo ao longo da história. É dentro desta última temática que encontramos o elemento mais controversa deste “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole”, ou seja, as fortes ideologias extremistas que são constantemente avocadas pelos Pure Ones (Os Puros), ideologias essas que nos remetem perigosamente para o idealismo extremista de purificação racial e étnica que foi evocado por Hitler e pelo Partido Nazi durante a Segunda Guerra Mundial. As proximidades entre o Partido Nazi e os Pure Ones são mais que evidentes e os seus líderes, Metalbeak e Nyra, utilizam técnicas psicológicas e políticas muito semelhantes às que os líderes do Partido Nazi utilizaram para impingir uma ideologia racista a um povo civilizado, assim sendo, tendo em conta as inevitáveis comparações entre o St. Aegolious Academy for Orphaned Owls e a Juventude Hitleriana ou entre Metalbeak/Nyra e Adolf Hitler/Joseph Goebbels chegamos à simples conclusão que um filme infantil como “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole” nunca deveria ter abordado este tema de uma forma tão insensível.


O enredo de “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole” também é excessivamente dramático, um facto que é exacerbado pela notória ausência de momentos humorísticos de relevo, assim sendo, somos confrontado com um filme infantil que mais se assemelha a uma versão animalesca e animada de “The Lord of The Rings” porque aborda temas complexos e também porque nos apresenta algumas características narrativas muito próprias de um grande épico cinematográfico como conferir ao seu protagonista uma heroicidade exagerada. É certo que os espectadores mais velhos vão ficar muito agradados com esta animação mas também é verdade que os espectadores mais novos vão se sentir muito perdidos e confusos com alguns elementos que compõem este enredo. O elemento mais interessante de “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole” é claramente a sua vertente técnica/ visual que foi idealizada pela Animal Logic de “Happy Feet” (2006) e comandada por Zack Snyder, um cineasta que costuma oferecer aos seus filmes um visual muito detalhado e criativo, “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole” não representa uma excepção à regra e também tem uma vertente visual muito interessante que é composta por vastos e pormenorizados cenários e por uma construção computorizada muito realista das personagens que o protagonizam. Zack Snyder também é mundialmente conhecido pelo seu interesse por violência explicita e por sequências de acção que exteriorizem essa mesma violência, assim sendo, não é de estranhar que esta animação esteja cheia de sequências de batalha onde as adoráveis corujas lutam praticamente até à morte num festival de golpes e contragolpes aéreos que só não culminam em massacres sanguinários porque Snyder deve-se ter lembrado que não estava a realizar um “300” ou um “Watchmen” mas sim um filme infantil, ainda assim, “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole” apresenta alguns confrontos físicos impróprios para crianças que não estejam habituadas a cenas deste género, no entanto, não nos podemos esquecer que Zack Snyder nunca tinha realizado uma obra animada ou infantil, assim sendo, acredito que ele vai aprender com este erro e não irá colocar nenhuma cena exageradamente violenta na segunda entrega cinematográfica de “Guardians of Ga'Hoole”. O elenco vocal deste filme é constituído por várias estrelas de Hollywood como Hugo Weaving, Hugh Jackman ou Helen Mirren, actores experientes que cumprem satisfatoriamente as suas respectivas funções mas sem nos apresentarem uma performance irrepreensível. “Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole” não está ao nível dos grandes sucessos animados da Pixar/Disney ou da DreamWorks porque apesar de nos apresentar uma vertente visual muito interessante, não nos consegue deslumbrar com a sua narrativa que é razoável mas não é a mais adequada para um público mais jovem.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

0 comentários :

Postar um comentário