Realizado por Daniel Stamm
Com Patrick Fabian, Ashley Bell, Iris Bahr, Louis Herthum
Ora aqui está um daqueles filmes que nos deixa com um travo verdadeiramente amargo na boca. A primeira coisa que se pode dizer de “The Last Exorcism” é que este apresenta uma sequência final que borra a pintura toda. Materializem o famoso quadro da Mona Lisa na vossa cabeça. Já o fizeram? Óptimo. Agora imaginem que, para dar um toque final à sua grande obra-prima, o genial Leonardo Da Vinci decide pintar os lábios da mulher retratada na pintura com um espampanante tom de rosa fluorescente. Este subtil toque final daria cabo de tudo, não é verdade? Pois bem… de certa forma, é exactamente isso que acontece com este “The Last Exorcism”. E é uma pena que assim seja.
Com Patrick Fabian, Ashley Bell, Iris Bahr, Louis Herthum
Ora aqui está um daqueles filmes que nos deixa com um travo verdadeiramente amargo na boca. A primeira coisa que se pode dizer de “The Last Exorcism” é que este apresenta uma sequência final que borra a pintura toda. Materializem o famoso quadro da Mona Lisa na vossa cabeça. Já o fizeram? Óptimo. Agora imaginem que, para dar um toque final à sua grande obra-prima, o genial Leonardo Da Vinci decide pintar os lábios da mulher retratada na pintura com um espampanante tom de rosa fluorescente. Este subtil toque final daria cabo de tudo, não é verdade? Pois bem… de certa forma, é exactamente isso que acontece com este “The Last Exorcism”. E é uma pena que assim seja.
Trazido até nós pelas mãos do realizador/actor/produtor Eli Roth (realizador de filmes tão sangrentos como “Hostel”, mas apenas produtor na obra aqui em questão), “The Last Exorcism” afirma-se como uma obra de terror sóbria, sofisticada, inteligente e narrativamente sólida. O problema é que a película tem 87 minutos de duração e isto que acabei de escrever só é válido para os primeiros 80 minutos da mesma. Pois os últimos 7 minutos, por incrível que pareça, arruínam por completo aquilo que bem poderia ter sido o melhor filme de exorcismos desde o velhinho “The Exorcist”. Parece difícil de acreditar que apenas 7 minutos possam deitar por terra toda uma obra que, até então, estava a ser surpreendentemente satisfatória para quem adora um filme de terror com uma certa aura de classicismo incorporada. Porém, infelizmente, o final de “The Last Exorcism” é de tal forma escabroso, que acaba por estragar tudo e mais alguma coisa.
Com uma filmagem ao estilo de um documentário não-editado (tal como os brilhantes “The Blair Witch Project”, “[REC]” ou “Cloverfield”), “The Last Exorcism” coloca-nos numa arrepiante viagem pelo mundo de Cotton Marcus (Patrick Fabian). Cotton é um resoluto e extrovertido pastor evangélico que, desde tenra idade, se dedica a pregar sermões nas missas de Domingo e a escorraçar demónios dos corpos de todos aqueles que procuram a sua ajuda. Contrariando a ideia de que o exorcismo é uma arte do passado, Cotton não tem qualquer problema em realizar os mais diversos exorcismos, nos mais variados locais. O problema é que Cotton não acredita em Deus. E, consequentemente, também não acredita no Diabo. Com o passar dos anos, o pastor torna-se descrente e passa a encarar os exorcismos como uma forma pouco ortodoxa de pagar as despesas da casa e da família. De certa forma, ele convence-se de que está a prestar um serviço público a todos aqueles que necessitam da sua ajuda e não vê nenhum inconveniente na sua profissão. Mas é então que surge a notícia de uma criança morta pela primitiva prática do exorcismo. E a partir daí, Cotton decide que é tempo de se retirar desta prática e também de repudiar qualquer forma de exorcismo. Razão pela qual decide contratar uma equipa de televisão, para que esta o acompanhe na execução de um último exorcismo em terras do sul da América. Nobre e corajoso, o objectivo era expor o exorcismo pela prática fraudulenta que é. Porém, ao iniciar o seu ritual com a frágil e inocente Nell Sweetzer (excelente Ashley Bell), Cotton começa a desconfiar de que, afinal de contas, os demónios são bem reais… e aquilo que não passaria de uma sessão de engodo de 20 minutos, depressa se transforma num autêntico choque de fés e forças sobrenaturais.
É justo dizer que esta obra do realizador alemão Daniel Stamm é filmada com uma sobriedade digna dos mais aclamados filmes de terror. Até à já referida sequência final, a narrativa de “The Last Exorcism” desenvolve-se de forma séria, competente e até mesmo surpreendente. Já deu também para perceber que este estilo de filmagem a fazer lembrar um documentário televisivo se encaixa como uma luva no género cinematográfico do terror. Esta abordagem contribui para que o espectador sinta que está a ver algo real, transportando a audiência para a própria acção da película de uma forma verdadeiramente assustadora. Como simulacro da realidade que é, “The Last Exorcism” não é dotado de uma espalhafatosa banda-sonora nem de um trabalho de edição muito aprimorado. Aqui, e em abono de uma experiência de terror mais gratificante, aquilo que salta imediatamente à vista (e aos ouvidos) é a forma serena e calculada como os jogos de som e de luz constroem uma atmosfera tensamente sombria. Nota-se que Stamm tinha a lição bem estudada. Em vez de apostar em sequências brutalmente gráficas e sangrentas, Stamm aposta na simplicidade das sombras e no poder dos estrondos para criar uma atmosfera deveras intensa e arrepiante. E em virtude disso, contando também com a relevância das questões morais levantadas pela narrativa, “The Last Exorcism” apresenta-se-nos como um dos filmes mais interessantes dos últimos tempos.
Mas está na altura de regressarmos ao fatídico tema da horrível sequência que encerra o filme. A sensação que dá é que, algures na construção da história, os argumentistas perderam a criatividade e ficaram sem ideias de como terminar a película em condições. Se não foi isso que aconteceu, então só encontro uma explicação: não resistindo à moda dos twists finais para tentar surpreender o espectador, acabaram por destruir uma história que estava a decorrer da melhor forma, encerrando a película da pior maneira possível. De facto, em vez de servirem o espectador com aquilo que ele está à espera (e que deseja ver), os argumentistas terão querido armar-se em espertos, acabando por borrar a pintura toda. E a isto, nem o mais talentoso realizador pode sobreviver. Sem querer entrar no campo dos spoilers, digamos apenas que a sequência final transforma uma narrativa perfeitamente verosímil numa nojenta sopa de clichés aparvalhados que desferem um golpe fatalíssimo na autenticidade da mesma.
Enfim… não fossem os tais 7 minutos finais, “The Last Exorcism” poderia bem vir a ser um daqueles filmes de culto que muitos jamais iriam esquecer. Sem cair em grandes delírios e fanfarronices, o filme acompanha-se com agrado e, até por manter o espectador em constante estado de dúvida, consegue manter-se interessante até bem perto do fim. Mas como se houvesse sido arquitectado com o único objectivo de manter a funesta tradição de flops de terror norte-americanos, aquele desastroso final acaba por dar cabo de tudo. Numa derradeira frase e para quem gosta de analogias, poder-se-á mesmo dizer que este final está para “The Last Exorcism” como o famoso meteorito de há 65 milhões de anos está para os extintos dinossauros. Ou seja, um final que vai enviar a obra de Stamm para os poeirentos arquivos de um qualquer museu cinematográfico, como algo que existiu há muito tempo atrás mas que depressa caiu no esquecimento de todos.
Classificação – 3,5 Estrelas Em 5
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