sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Crítica - Toy Story 3 (2010)

Realizado por Lee Unkrich
Com Vozes de Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Michael Keaton

Em virtude deste ser já o terceiro capítulo da saga Toy Story, poder-se-ia esperar (ou recear) que “Toy Story 3” pudesse sofrer com as chagas de uma fórmula desgastada, apresentando um infeliz decréscimo de qualidade. O grande problema de qualquer saga cinematográfica é o seguinte: a cada capítulo, o sumo da fórmula que deu frutos esvai-se cada vez mais e, consequentemente, a originalidade de uma história outrora inovadora corre o risco de desaparecer por completo. Como referido anteriormente, poder-se-ia recear que este terceiro tomo da saga Toy Story começasse a apresentar tais sinais de desgaste criativo. Porém, jamais poderíamos esquecer-nos de que Woody e Buzz Lightyear possuem um grande trunfo na manga. Algo que os protege de toda e qualquer quebra de qualidade. Estou, como é óbvio, a falar dos inevitáveis estúdios Pixar.
Para bem da saga Toy Story, estes geniais e admiráveis estúdios de animação parecem ser (verdadeiramente) à prova de bala. Os filmes sucedem-se e as obras-primas nascem. Assim sendo, os fãs dos bonecos que ganham vida podem dormir descansados. Pois “Toy Story 3” é uma autêntica explosão de criatividade artística misturada com um apuradíssimo sentido de storytelling. Uma vez mais, a Pixar alia os talentos gráficos dos seus animadores à sensibilidade narrativa dos seus argumentistas. E a obra que nasce de tal união ultrapassa as mais delirantes e optimistas expectativas, encerrando (ou não…) esta saga da melhor forma possível. Senhoras e senhores, dividindo a glória com o sempiterno “WALL-E”, aqui está a nova obra-prima da Pixar Animation Studios.


A narrativa de “Toy Story 3” coloca os famosos bonecos num período existencial apenas imaginado (e muito temido) no anterior capítulo da saga. Andy (John Morris) – o jovem dono de Woody (Hanks) e companhia – é agora um adolescente pronto a partir para a Universidade e assim embarcar para uma nova fase da sua vida. A sua infância é agora um mero sussurro de um passado distante. Presentemente mais interessado em telemóveis e computadores, Andy guarda os antigos brinquedos num velho baú e pouco ou nada lhes presta atenção. Temendo ser abandonados para todo o sempre, os brinquedos fazem de tudo para que Andy volte a viver uma última aventura com eles… mas em vão. Andy já não é um miúdo e os bonecos convencem-se de que têm de aceitar este período mais cinzento e conturbado das suas existências. Ainda assim, Andy continua a guardar um lugar especial no seu coração para os fiéis companheiros de infância, não se sentindo preparado para abdicar deles… pelo menos por enquanto. Seguindo as ordens da mãe, Andy reúne uma colecção dos seus bonecos preferidos num saco do lixo. Um cantinho do sótão aguarda Buzz Lightyear (Allen) e companhia enquanto Andy se mantiver na faculdade. Porém, acidentalmente, o saco com os brinquedos é confundido com um vulgar saco do lixo e, através de uma série de eventos infelizes, Woody e companhia acabam doados a um infantário. De início, revoltados com o seu dono humano, os brinquedos parecem dispostos a aceitar este novo e inesperado destino. Porém, depressa compreendem que não se encontram em terreno seguro e que têm de voltar para casa. Seja como for, custe o que custar, o cowboy, o ranger espacial e companhia terão de regressar às mãos do seu dono de sempre. Para que tal aconteça, porém, terão de ultrapassar os maiores obstáculos que alguma vez tiveram pela frente… e apenas o espírito de união e infalível amizade poderá levá-los de encontro a uma aventura com final feliz.


“Toy Story 3” apresenta todos os condimentos de um filme de sucesso. As suas cómicas e simpáticas personagens parecem tornar-se mais interessantes a cada filme que passa. As tecnologias da animação computorizada evoluem com assombro, fazendo com que as aventuras dos carismáticos bonecos se nos apresentem na tela de forma cada vez mais espectacular. Para além disso, o argumento de Michael Arndt é de uma competência e, acima de tudo, de um humanismo absolutamente impressionante. Mais uma vez se comprova (a Pixar é especialista neste aspecto) que um filme de animação não tem necessariamente de ser um filme para crianças. Pois os temas abordados nesta película são de uma profundidade dramática verdadeiramente impressionante. Garanto-vos que “Toy Story 3” tem o poder de colocar uma lágrima no canto do olho do mais másculo e corpulento halterofilista. Lágrimas que, contudo, se escondem facilmente atrás dos óculos 3D (que parecem ser oferecidos nas bilheteiras única e exclusivamente para esse efeito, já que o deslumbre do 3D pouco ou nada se faz notar).
Qualquer espectador facilmente se identificará com os dilemas de Andy. “Toy Story 3” faz-nos relembrar a magia das nossas infâncias perdidas e isto faz com que esta obra possua uma temática genuinamente universal. Para além dos aspectos positivos já mencionados, destaque também para a personagem de Ken – o predestinado namorado de Barbie. Este efeminado “boneco de menina” (como uma das personagens tem o dom de apelidá-lo) concentra em si muitos dos aspectos cómicos do filme, afirmando-se como uma aposta ganha dos produtores que nele viram um enorme potencial para criar piadas atrás de piadas.


Na minha opinião, para além do já abordado 3D muito fraquinho (ou serei eu que me começo a habituar ao seu deslumbre inicial?), “Toy Story 3” apresenta apenas um aspecto um pouco mais negativo: a história deste terceiro capítulo, apesar de brilhante e extremamente bem contada, é ligeiramente semelhante à do capítulo anterior. Isto denota apenas que, por muito geniais que os animadores da Pixar sejam, ao fim de três capítulos começa a ser difícil surpreender o espectador com algo de realmente original. Razão pela qual eu torço para que a saga Toy Story fique por aqui; finalizando em beleza e não correndo o risco de desiludir numa quarta entrega (até porque o poderoso final deste filme é o melhor momento de toda a película, terminando as aventuras de Woody e Buzz Lightyear com chave de ouro).
Resumindo e concluindo, ainda não é desta que a Pixar fez um mau filme. E desta vez, até superou a difícil prova das sequelas. Será que os seus animadores venderam a alma ao Diabo, ou simplesmente são um caso sério de pura genialidade? Tendo a inclinar-me para a segunda opção, mas nunca se sabe… Aquilo que realmente sei é que “Toy Story 3” é um dos mais fascinantes filmes de todos os tempos. Uma obra quase perfeita que, certamente, conquistará o coração do mais acabrunhado e pessimista dos espectadores.

Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

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