domingo, 4 de julho de 2010

Crítica - The Twilight Saga: Eclipse (2010)

Realizado por David Slade
Com Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Bryce Dallas Howard, Xavier Samuel

Apenas alguns meses após a estreia de “New Moon”, eis que a terceira parte da melodramática saga vampírica chega às salas de cinema portuguesas, para autêntico delírio de milhares de jovens entregues à irracionalidade daquilo que lhes ferve nos palpitantes corações. “The Twilight Saga: Eclipse” traz de volta a indecisa Bella Swan (Stewart), o sorumbático Edward Cullen (Pattinson) e o musculado Jacob Black (Lautner) para aquele que prometia ser o capítulo mais negro e melancólico da saga. A própria escolha de David Slade (realizador de filmes como “Hard Candy” e “30 Days of Night”) para a cadeira de realizador acabava por reflectir essa aposta numa abordagem mais negra e, quiçá, arrepiantemente sombria. O grande problema é que nada disto obteve qualquer confirmação no resultado final da película. Ao contrário do que se esperava, este terceiro tomo da saga acaba por ser o menos negro e o que menos conteúdo apresenta na sua pobre e eclipsada narrativa. De facto, talvez por causa de um argumento miserável, a talentosa mão de David Slade não se faz sentir em nenhum momento da película. Pobre em conteúdo e parco em criatividade, “The Twilight Saga: Eclipse” afirma-se como o filme mais fraquinho até agora e, para mal dos muitos fãs dos livros de Stephenie Meyer, começa a levar esta saga para níveis de mediocridade dignos do “nosso” horripilante Lua Vermelha.


É nesta terceira parte que o triângulo amoroso constituído por Bella, Edward e Jacob atinge o seu auge. Mais do que nunca, Bella confronta-se com os seus próprios sentimentos e não sabe qual dos rapazes há-de escolher para uma vida mais segura e sustentada. A sua paixão por Edward é mais intensa. Mas Jacob é muito mais do que um simples amigo de infância e o seu amor acarretaria sacrifícios muito menores por parte da rapariga. Começando a denotar estas inseguranças na sua amada, Edward torna-se mais ciumento e deseja apenas ver Jacob pelas costas. E para dificultar ainda mais a vida a Bella, Jacob revela-lhe os seus mais profundos sentimentos e diz que nunca irá desistir de batalhar pelo amor da jovem. Enquanto esta batalha sentimental decorre entre estas três personagens, uma outra batalha fermenta-se no horizonte: ainda magoada pela morte do seu companheiro às mãos de Edward, Victoria (Bryce Dallas Howard) encontra em Riley (Xavier Samuel) o líder ideal para formar um feroz exército de vampiros sedentos de sangue. A vida de Bella continua, desta forma, ameaçada. Victoria, Riley e o seu cruel exército de vampiros não descansarão enquanto a jovem humana não estiver morta. E como tal, no sentido de proteger Bella, Edward e Jacob terão de esquecer a sua rivalidade e unir esforços para uma batalha que se augura brutal e sangrenta. E tudo isto enquanto Bella decide se deve ou não tornar-se vampira. Pois os Volturi estão à espreita e não tolerarão uma relação amorosa entre vampiro e humana…
Como facilmente se percebe, “The Twilight Saga: Eclipse” não oferece nada de verdadeiramente novo ao espectador. É como se este novo capítulo fosse uma simples extensão das problemáticas já retratadas e abordadas em “New Moon”. Bella continua indecisa entre uma eterna vida vampírica ao lado do romântico Edward Cullen, ou uma vida mais “normal” em redor do forte e impetuoso lobisomem chamado Jacob Black. Victoria continua também à procura de executar a sua vingança (aparentemente, já há dois ou três anos que não faz mais nada senão saltar de galho em galho na floresta em busca dessa oportunidade…). Ou seja, esta terceira parte não traz nada de refrescante ou original, limitando-se a aprofundar as tramas que já provêm dos filmes anteriores. Talvez a única novidade se prenda com a temporária aliança entre vampiros e lobisomens. Muito pouco, contudo, para um filme que pretendia marcar uma geração e entrar para a História da Sétima Arte.


Para além desta tremenda falta de criatividade no que à narrativa diz respeito, “The Twilight Saga: Eclipse” é também aquele que, em termos puramente cinematográficos, se revela mais medíocre. Nunca chega a haver um verdadeiro estado de cumplicidade entre o espectador e aquilo que se passa no grande ecrã. A narrativa desenvolve-se demasiado rápido, sem qualquer espaço a uma sempre necessária profundidade dramática. Os actores actuam sempre em piloto automático e raramente conseguem fazer com que as suas personagens surpreendam o espectador com algo de novo e inesperado. Fiel ao título da obra, o único eclipse aqui presente é o do talento do realizador. Como já referi, o argumento demonstra fraquezas. Porém, um bom realizador tem a obrigação de tirar algo de positivo do fundo do mais lamacento e obscurecido poço. E David Slade falhou redondamente. O pulso com que Slade filmou o fabuloso “Hard Candy” e o interessante “30 Days of Night” não está aqui presente. E isso reflecte-se no resultado final. Acima de tudo, a direcção de Slade (neste filme) não demonstra qualquer paixão pelo cinema. Tudo é filmado de forma algo sensaborona, dando a sensação de que este projecto lhe foi encomendado à pressa e para obter resultados rápidos. “The Twilight Saga: Eclipse” beneficiaria de um período de produção mais cuidado e extenso. A fome dos produtores pelos recordes de bilheteira está a obrigar toda a equipa de produção a trabalhar a uma velocidade sobre-humana, o que prejudica indelevelmente a qualidade de toda a saga. Estou convicto de que, apesar de a matéria-prima não ser propriamente brilhante, não fosse a loucura de estar a lançar os filmes em catadupa (apenas com alguns meses de intervalo), a saga Twilight poderia obter resultados muito mais gratificantes. Mas o que é certo é que as salas continuam a esgotar e, enquanto este fenómeno perdurar, os responsáveis da Summit Entertainment vão continuar a apostar nos dólares, ignorando totalmente a qualidade artística do produto final.


Sem querer aborrecer os fãs desta saga vampírica, é inegável o facto de que “The Twilight Saga: Eclipse” possui pouca ou nenhuma qualidade cinematográfica. Mais do que qualquer um dos outros dois capítulos, esta terceira parte desilude bastante e não me deixa grandes dúvidas de que encontrará adeptos única e exclusivamente num público juvenil. Os capítulos sucedem-se e a qualidade vai diminuindo. Por diversas vezes, vejo o fenómeno Twilight ser comparado ao fenómeno Harry Potter. Mas as diferenças entre ambos são mais que muitas. E sem querer entrar em grandes debates comparativos, basta atender a um aspecto para comprovar este mesmo facto: os filmes da saga Harry Potter tornam-se cada vez mais adultos, sombrios e ricos em conteúdo simbólico e cinematográfico; os filmes da saga Twilight tornam-se cada vez mais juvenis, inconsequentes e medíocres. “The Twilight Saga: Eclipse” deixa-nos com um sabor deveras amargo na boca. A ver vamos se o último capítulo consegue inverter a tendência decadente e voltar a cativar a crítica internacional. Mas, e numa altura em que esta expressão está muito na moda, eu cá tenho um feeling de que tal reviravolta não irá ocorrer.

Classificação – 2 Estrelas Em 5

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