domingo, 11 de julho de 2010

Crítica - Shrek Forever After (2010)

Realizado por Mike Mitchell
Com Vozes de Mike Myers, Eddie Murphy, Cameron Diaz, Antonio Banderas, Walt Dohrn

Ao fim de quatro divertidos e insanos capítulos, a saga do ogre verde e dos seus amigos oriundos dos mais célebres contos de fadas chega finalmente a uma conclusão. “Shrek Forever After” marca o fim de uma bem-sucedida saga de animação que teve os seus altos e baixos. Os dois primeiros capítulos primaram pela sua originalidade e criatividade artística. De forma verdadeiramente brilhante, a narrativa desses dois filmes usufruiu do mediatismo de personagens como Pinóquio, o Lobo Mau, os 3 Porquinhos ou a Bela Adormecida para criar uma aventura absolutamente cómica e tresloucada. Mas, por sua vez, o terceiro capítulo deixou algo a desejar, não ocultando uma quebra qualitativa a todos os níveis. Assim sendo, “Shrek Forever After” depressa assumiu contornos de alta imprevisibilidade. Numa altura em que a saga parecia estar a definhar, seria este último capítulo capaz de atribuir ao ogre verde a festa de despedida que ele tanto merecia? As dúvidas eram muitas. Porém, felizmente, posso dizer-vos que, na minha opinião, Shrek e os seus amigos despedem-se do grande público com toda a pompa e circunstância. “Shrek Forever After” pode não ser o capítulo mais brilhante e divertido de toda a saga. Mas pelo menos, tem o dom de devolver ao reino de Far Far Away uma certa magia que se julgava perdida ou desgastada pelo tempo.


Nesta quarta entrega da mirabolante saga da Dreamworks Animation, Shrek (Myers) vive os dias mais calmos e monótonos da sua existência. Depois de salvar o reino de Far Far Away dos diabólicos planos do Príncipe Encantado, Shrek deixa de ser perseguido pela população humana. Pelo contrário, agora todos o adoram e o encaram como uma espécie de estrela de Hollywood. A ritmo diário, realizam-se excursões para visitar a cabana do herói improvável e pequenas crianças desesperam por obter o seu autógrafo. Os dias de aventura parecem estar arredados da sua vida para todo o sempre. Shrek dedica-se à sua numerosa família por inteiro e entretém-se a receber os seus amigos em casa para faustosas jantaradas que terminam sempre da mesma forma: com o relato das gloriosas aventuras do passado. De início, o ogre encontra conforto neste pacífico estilo de vida. Porém, uma certa crise de meia-idade acaba por abater-se sobre ele, fazendo-o questionar-se se aquela é a vida com que sempre sonhou. Os dias tornam-se cada vez mais monótonos e desgastantes. E Shrek apercebe-se de que, sem saber bem como, perdeu a virilidade que conferia algum sentido à sua existência. Farto daquela aborrecida e enfadonha existência, o ogre tem uma discussão com a sua amada Fiona (Diaz) e irrompe pelo pântano adentro, proferindo todo o tipo de maldições e impropérios. E é aí que se depara com o pequeno e matreiro Rumpelstiltskin (Dohrn). Procurando vingança por um episódio do passado, Rumpelstiltskin ludibria Shrek, levando-o a assinar um contrato mágico que prometia devolvê-lo aos gloriosos confrontos do passado por apenas um dia. Contudo, o que este contrato realmente faz é com que Shrek se torne anónimo aos olhos de todos os seus amigos e familiares. E quando o ogre se apercebe de que Rumpelstiltskin é o novo e maléfico Rei de Far Far Away, depressa compreende que mergulhou na maior alhada da sua vida. Para devolver tudo à normalidade, Shrek terá de fazer com que Fiona se apaixone por ele novamente… num curtíssimo espaço de 24 horas. Senão… o ogre desaparecerá para sempre e o reino de Far Far Away estará condenado ao sombrio reinado de um mágico traiçoeiro e das suas fiéis bruxas.
O que este capítulo final tem o dom de recuperar é aquele espírito de aventura crua e dura que caracterizava os dois primeiros filmes. Em “Shrek Forever After”, os engraçados mas enfadonhos bebés de família desaparecem e Shrek volta ao ponto de partida. Estamos perante uma infernal corrida contra o tempo e contra as probabilidades de sucesso do herói, servida ao espectador em altas doses de adrenalina e divertimento. Tal fórmula, sem sombra de dúvida, é muito mais aliciante para uma plateia mais adulta.


Para além de possuir uma narrativa bem mais interessante do que a do capítulo precedente, “Shrek Forever After” prima também nos aspectos técnicos da sua animação. Preparem-se para cenários absolutamente deslumbrantes. O cuidado com o detalhe sobressai de forma espectacular e, apesar de o 3D (uma vez mais) não trazer nada de espantoso à película, a beleza dos cenários e a dinâmica com que certas cenas são filmadas valem o preço do bilhete por inteiro.
As personagens continuam também tão carismáticas como sempre, apesar de as suas tiradas cómicas começarem a mergulhar numa vulgaridade e inconsequência própria de uma saga que vai já na sua quarta entrega. Nota-se que a fórmula de Shrek começa a esgotar-se, pelo que a decisão de fazer deste o último capítulo da saga é, na minha opinião, uma excelente decisão. Ainda assim, o hiperactivo Donkey (Murphy) e o fabuloso Puss in Boots (Banderas) continuam a assegurar momentos de pura diversão, sendo talvez as duas personagens da saga que mais saudades vão deixar aos cinéfilos de todo o mundo.
Um dos pontos fortes deste “Shrek Forever After” encontra-se também na mensagem que nos transmite. Ao bom estilo dos antigos clássicos da Disney e das actuais pérolas dos estúdios Pixar, esta obra aborda alguns temas com uma profundidade dramática que só um público adulto compreenderá e, mais importante do que isso, apreciará. São estes pormenores narrativos que afastam estes filmes de animação do rótulo de “filmes para crianças” e que os transformam em películas para todas as idades. Concluindo, “Shrek Forever After” não é o melhor filme do ano, pois nem sequer chega a ser o melhor filme da saga Shrek. Nota-se que esta saga começa a perder alguma força e frescura narrativa. Mas ainda assim, não deixa de ser um excelente encerramento das aventuras do ogre verde e do seu tresloucado bando de amigos. Talvez não seja um filme de rir às gargalhadas (como eram, aliás, os dois primeiros capítulos). Mas é, sem sombra de dúvida, uma obra belíssima a nível técnico e extremamente competente a nível narrativo.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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