Realizado por Christopher Nolan
Com Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ken Watanabe, Ellen Page, Cillian Murphy, Marion Cotillard
"Inception" é daqueles filmes que nos relembram o porquê de gostarmos de cinema, o porquê de gastar 6€ para ver um filme numa loja de pipocas que por acaso vende bilhetes de cinema. É daqueles filmes que nos relembram o maravilhamento que ainda é possível sentir dentro de uma sala escura de ecrã gigante. Christopher Nolan é um dos derradeiros magos da 7ª Arte. Conseguir fazer um filme como "Inception" no momento de crise criativa em que o cinema norte-americano se encontra, é o suficiente para provar que estamos perante um grande realizador, se os seus filmes não o dissessem já. Não é preciso efeitos especiais fenomenais, nem 3D, nem ser visualmente arrebatador, é só preciso ter imaginação e perceber do que tratam as emoções humanas. E assim assina a mais interessante, pelo menos até agora, oferta cinematográfica do ano.
O filme parte de uma excelente premissa: descobrir segredos entrando no subconsciente das pessoas durante o seu sono. A questão é que, para aceder à mente de outrem, os "extractores" têm de estar também a dormir e dentro do sonho da pessoa. Mas são eles que constroem esse sonho, que conhecem os seus meandros, os pormenores dos acessos, a vítima apenas o povoa com as suas projecções da realidade, com elementos familiares. A ideia é de que a pessoa não se aperceba de que está a dormir e que revele os seus segredos, já que o subconsciente, à partida, não levanta barreiras como a mente acordada, está mais indefeso. É essa a função da equipa de Cobb (DiCaprio) e Arthur (Gordon-Levitt). Mas um poderoso empresário (Watanabe) propõe-lhes um outro desafio: em vez de desvendar, implantar uma ideia na mente de alguém, neste caso fazer com que o filho de um magnata às portas da morte, Robert Fischer (Murphy) "tenha a ideia" de dissolver o império do pai, evitando assim a hegemonia energética por parte de uma única empresa.Tanto os extractores como o alvo participam de um sonho comum e, como tal, introduzem elementos seus nesse mundo. Mas o que acontece quando um deles tem fantasmas do passado que procura reprimir? Os fantasmas habitam o subconsciente e é o subconsciente que está à solta nos sonhos. O que acontece quando esses fantasmas vêm à tona em mentes alheias?
O filme parte de uma excelente premissa: descobrir segredos entrando no subconsciente das pessoas durante o seu sono. A questão é que, para aceder à mente de outrem, os "extractores" têm de estar também a dormir e dentro do sonho da pessoa. Mas são eles que constroem esse sonho, que conhecem os seus meandros, os pormenores dos acessos, a vítima apenas o povoa com as suas projecções da realidade, com elementos familiares. A ideia é de que a pessoa não se aperceba de que está a dormir e que revele os seus segredos, já que o subconsciente, à partida, não levanta barreiras como a mente acordada, está mais indefeso. É essa a função da equipa de Cobb (DiCaprio) e Arthur (Gordon-Levitt). Mas um poderoso empresário (Watanabe) propõe-lhes um outro desafio: em vez de desvendar, implantar uma ideia na mente de alguém, neste caso fazer com que o filho de um magnata às portas da morte, Robert Fischer (Murphy) "tenha a ideia" de dissolver o império do pai, evitando assim a hegemonia energética por parte de uma única empresa.Tanto os extractores como o alvo participam de um sonho comum e, como tal, introduzem elementos seus nesse mundo. Mas o que acontece quando um deles tem fantasmas do passado que procura reprimir? Os fantasmas habitam o subconsciente e é o subconsciente que está à solta nos sonhos. O que acontece quando esses fantasmas vêm à tona em mentes alheias?
O tema realidade versus fantasia não é novidade, nem a exploração dos seus limites, da capacidade de os distinguir, das diferenças de percepção. Mas estamos perante um mestre dos jogos mentais, o pátio de recreio de Nolan é a mente humana. Nunca esta tinha sido tão visualmente apresentada, tão palpável, tão nítida. Entre os meus favoritos nestas temáticas estão "Dark City" de Alex Proyas e "The Science of Sleep" de Michel Gondry, que abordam os sonhos do ponto de vista sensorial, abraçam o seu caos, esticam a percepção da fantasia ao limite. Nolan confere-lhe ordem, organização, partindo da ideia de que, quando sonhamos, não sabemos que estamos a sonhar, tão real é a experiência. Só quando acordamos nos apercebemos de que algo estava mal. Tão organizada é a mente que pode ser treinada para se defender de invasores e os estranhos que se aventurem por lá serão recebidos por um autêntico exército armado. Tão palpável é o subconsciente que somos levados através dos seus diversos níveis, aos sítios recônditos do cérebro, onde se torna cada vez mais difícil distinguir a realidade e dos quais é possível não mais voltar. E o perigo é: queremos, de facto, voltar à realidade?
Eis a base e o tom da película tal como a percepcionei, tentando revelar o mínimo. É um filme mental mas linear e cheio de coração. Depois de explorar a amnésia contando a história ao contrário ("Memento", 2000), a privação de sono e suas consequências na percepção da realidade ("Insomnia", 2002), o medo como ferramenta de poder mas também de indução de loucura ("Batman Begins", 2005), e o poder enganador das aparências e da ilusão ("The Prestige", 2006), já para não falar na viagem arrebatadora às trevas do ser humano num dos melhores filmes da década, "The Dark Knight" (2008), "Inception" segue como descendente natural na filmografia de Nolan. Uma demanda nos confins do cérebro, a exploração dos mecanismos da mente, a concretização do mundo infinito que existe no subconsciente, a capacidade de criação derivante do poder da imaginação, o amor e a perda como gatilho para o surgimento de negrumes inconcebíveis (já patente em "The Prestige" e "The Dark Knight"), os monstros inomináveis que habitam as profundezas do nosso ser. Tudo isto com uma estética e um toque únicos, a manipulação excepcional das velocidades de película para ilustrar as diferentes noções da passagem do tempo, castelos de areia construídos até ao céu, mundos que desafiam as leis da Física, "Je ne regrette rien" ("Não me arrependo de nada") de Edith Piaf ecoando no infinito alertando para o final iminente do sonho.
Eis a base e o tom da película tal como a percepcionei, tentando revelar o mínimo. É um filme mental mas linear e cheio de coração. Depois de explorar a amnésia contando a história ao contrário ("Memento", 2000), a privação de sono e suas consequências na percepção da realidade ("Insomnia", 2002), o medo como ferramenta de poder mas também de indução de loucura ("Batman Begins", 2005), e o poder enganador das aparências e da ilusão ("The Prestige", 2006), já para não falar na viagem arrebatadora às trevas do ser humano num dos melhores filmes da década, "The Dark Knight" (2008), "Inception" segue como descendente natural na filmografia de Nolan. Uma demanda nos confins do cérebro, a exploração dos mecanismos da mente, a concretização do mundo infinito que existe no subconsciente, a capacidade de criação derivante do poder da imaginação, o amor e a perda como gatilho para o surgimento de negrumes inconcebíveis (já patente em "The Prestige" e "The Dark Knight"), os monstros inomináveis que habitam as profundezas do nosso ser. Tudo isto com uma estética e um toque únicos, a manipulação excepcional das velocidades de película para ilustrar as diferentes noções da passagem do tempo, castelos de areia construídos até ao céu, mundos que desafiam as leis da Física, "Je ne regrette rien" ("Não me arrependo de nada") de Edith Piaf ecoando no infinito alertando para o final iminente do sonho.
Os actores parecem ter sido talhados para os seus papéis. Apesar de alguns tiques de DiCaprio, é um actor que tem vindo a ser muito bem sucedido na representação do conflito e da dor. Joseph Gordon-Levitt tem aqui uma sobriedade surpreendente, e Ellen Page inversamente uma ternura pouco habitual. A personagem de Cillian Murphy, infelizmente, tem poucas oportunidades de sobressair, enquanto que o quase desconhecido Tom Hardy traz uma certa classe e leviandade à trama. E se Watanabe consegue incutir muito carácter à sua personagem, Marion Cottilard está absolutamente genial. A actriz francesa é das mais internacionais, com as suas frequentes incursões em Hollywood e um Oscar pela sua interpretação de Edith Piaf, mas tem aqui uma interpretação fabulosa, como memória dolorosa a assolar os sonhos de Cobb. É sem dúvida a melhor representação em campo. Que mais dizer? Perante este filme, as trinta mil adaptações, novas versões e outras que tais parecem sensaboronas e irrelevantes. Nenhum blockbuster de Verão poderá chegar perto em qualidade, muito menos suplantar em originalidade. Vou esperar até ao fim do ano, mas para já é o melhor que vi este ano no cinema.
Classificação - 5 Estrelas Em 5
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