Realizado por Marco Bellocchio
Com Giovanna Mezzogiorno, Filippo Timi, Michela Cescon
O único filme italiano nomeado para a Palma de Ouro no último Festival de Cannes é este Vincere de Marco Bellocchio, uma narrativa sobre um caso amoroso de Mussolini (Filippo Timi) com Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno) do qual resultou um filho. O casal perde o contacto durante a Primeira Grande Guerra e, quando Ida o reencontra num hospital de campanha, este está casado, tem uma filha e repudia Ida bem como ao seu filho que anteriormente perfilhara. Esta mulher passará o resto dos seus dias a reclamar o estatuto de esposa legítima do Duce e os direitos do seu filho. Tanta insistência condu-la a um internamento forçado em hospitais psiquiátricos onde perde toda a credibilidade e ao afastamento do seu filho, que é criado num colégio interno sob as directivas distantes do pai que nunca o procurou. Ida morreria num manicómio em 1937 e o seu filho em 1942 também num hospício onde foi parar por ordem do pai.
A narrativa é muito intensa, contudo o argumento é demasiado ambíguo no modo como conta a história. Não houve nunca qualquer prova de que Mussolini tenha de facto sido formalmente casado com Ida, como esta reclamava, e a sua insistência até ao último minuto, o modo como se agarrou a um amor não correspondido, o facto de ter sacrificado a companhia do filho para continuar a persistir nas suas razões fazem-nos ter pena da personagem mas não conquistam a nossa admiração. Ida conhecera Mussolini enquanto jovem militante do partido socialista e financiou com o seu próprio dinheiro a criação de um jornal fascista Il Popolo d’Italia, dirigido por Benito. A denúncia desta historia encapotada durante tanto tempo é interessante mas não contribui particularmente nem para denegrir ainda mais a figura do líder italiano, cujas atrocidades são conhecidas, nem para dignificar Ida, uma mulher fascista enganada como tantas outras por tantos outros homens fascistas ou não. É esse traço patético de uma mulher que acredita conseguir com as suas cartas abanar de algum modo o estado italiano de Mussolini que é trágico e desconfortável. A interpretação de Giovanna Mezzogiorno e a versatilidade de Filippo Timi como Mussolini pai e filho é digna de nota.
A tensão dramática desta história sem saída, sem qualquer possibilidade de justiça é reforçada pelo sábio desaparecimento de Benito a partir do momento em que se torna Il Duce, passando apenas a ser referido e representado num busto, que simbolicamente o filho destrói, mas também por uma sábia montagem que nos transporta para o desvario mental daquelas personagens, não só de Ida e Benito mas toda a população que adere ao fascismo sem o questionar e executa as mais bárbaras atrocidades contra os seus irmãos em nome de um valor social completamente hipócrita. É interessante notar com o esta obra surge um ano depois de Il Divo, outra magistral película italiana onde um outro dirigente de ferro, Giulio Andreotti, é observado de perto sem se conseguir, ainda assim, desmistificá-lo ou compreendê-lo.
Com Giovanna Mezzogiorno, Filippo Timi, Michela Cescon
O único filme italiano nomeado para a Palma de Ouro no último Festival de Cannes é este Vincere de Marco Bellocchio, uma narrativa sobre um caso amoroso de Mussolini (Filippo Timi) com Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno) do qual resultou um filho. O casal perde o contacto durante a Primeira Grande Guerra e, quando Ida o reencontra num hospital de campanha, este está casado, tem uma filha e repudia Ida bem como ao seu filho que anteriormente perfilhara. Esta mulher passará o resto dos seus dias a reclamar o estatuto de esposa legítima do Duce e os direitos do seu filho. Tanta insistência condu-la a um internamento forçado em hospitais psiquiátricos onde perde toda a credibilidade e ao afastamento do seu filho, que é criado num colégio interno sob as directivas distantes do pai que nunca o procurou. Ida morreria num manicómio em 1937 e o seu filho em 1942 também num hospício onde foi parar por ordem do pai.
A narrativa é muito intensa, contudo o argumento é demasiado ambíguo no modo como conta a história. Não houve nunca qualquer prova de que Mussolini tenha de facto sido formalmente casado com Ida, como esta reclamava, e a sua insistência até ao último minuto, o modo como se agarrou a um amor não correspondido, o facto de ter sacrificado a companhia do filho para continuar a persistir nas suas razões fazem-nos ter pena da personagem mas não conquistam a nossa admiração. Ida conhecera Mussolini enquanto jovem militante do partido socialista e financiou com o seu próprio dinheiro a criação de um jornal fascista Il Popolo d’Italia, dirigido por Benito. A denúncia desta historia encapotada durante tanto tempo é interessante mas não contribui particularmente nem para denegrir ainda mais a figura do líder italiano, cujas atrocidades são conhecidas, nem para dignificar Ida, uma mulher fascista enganada como tantas outras por tantos outros homens fascistas ou não. É esse traço patético de uma mulher que acredita conseguir com as suas cartas abanar de algum modo o estado italiano de Mussolini que é trágico e desconfortável. A interpretação de Giovanna Mezzogiorno e a versatilidade de Filippo Timi como Mussolini pai e filho é digna de nota.
A tensão dramática desta história sem saída, sem qualquer possibilidade de justiça é reforçada pelo sábio desaparecimento de Benito a partir do momento em que se torna Il Duce, passando apenas a ser referido e representado num busto, que simbolicamente o filho destrói, mas também por uma sábia montagem que nos transporta para o desvario mental daquelas personagens, não só de Ida e Benito mas toda a população que adere ao fascismo sem o questionar e executa as mais bárbaras atrocidades contra os seus irmãos em nome de um valor social completamente hipócrita. É interessante notar com o esta obra surge um ano depois de Il Divo, outra magistral película italiana onde um outro dirigente de ferro, Giulio Andreotti, é observado de perto sem se conseguir, ainda assim, desmistificá-lo ou compreendê-lo.
Classificação - 4 Estrelas Em 5
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