Realizado por Sérgio Machado
Com Mariana Ximenes, Marieta Severo, Paulo José
Crítica de Laís Sartori
Blog - http://anti-sujeito.blogspot.com/
Pense numa vida chata: um cargo que você não gosta, uma família que não te dá orgulho, uma pessoa superficial e controladora ao seu lado, colegas de trabalho insuportáveis. Pensou? Agora, imagine que enquanto você atura tudo isso, lá fora o sol reina pleno, as moças caminham com pouca roupa nas praias e os boêmios e bêbados se divertem a noite toda. Insuportável, não é? Para Quincas foi. Cansado dessa semi-vida, farto de tudo, Quincas (Paulo José) deixou esposa e filha e foi se juntar aos vagabundos (Frank Menezes, Irandhir Santos, Luís Miranda e Flávio Bauraqui, Marieta Severo e muitos outros) da Bahia. Logo tornou-se líder do grupo e com seu 'pelotão', encharcado de álcool, trocava a noite pelo dia, frequentava o terreiro de candomblé e farreava até altas horas com prostitutas. Pela primeira vez, viveu. Agora era movido a cachaça e nunca mais tomou um gole sequer de água. Foi vivendo assim, até que um dia, que calhou de ser justamente o dia em que faria anos, entrou pela sua porta um raio de uma indesejada morte bem da sem graça. O homem caiu na cama, tomou um gole e pronto, estava morto. Os amigos, que haviam preparado uma festa surpresa a qual Quincas nunca compareceu, inconsoláveis, foram avisar a família, que a essa altura era composta apenas por sua filha (Mariana Ximenes), já casada. É então que a história ganha um nó: humilhada e envergonhada pela decisão do marido, a ex de Quincas tinha inventado que ele havia sido nomeado para um cargo importante no exterior. Mesmo sabendo a verdade, a filha nunca havia desmentido e agora, teria que não só enterrar o próprio pai ausente, como enfrentar o deboche da sociedade baiana ao admitir que o homem a havia abandonado para se tornar um vagabundo de marca maior. Seu marido (Vladimir Brichta), funcionário público, resolve tirar proveito da situação e prosseguir com o fingimento da sogra. Inventa então, que o corpo do importante Quincas estava chegando ao país para ser enterrado aqui. Convence a esposa que era só pegar o corpo, vesti-lo adequadamente e aproveitar os benefícios que a morte de tão importante figura traria a ele na repartição. Um plano que não teria como dar errado, não fosse o pelotão de vagabundos que Quincas comandava: A corja boêmia da Bahia não queria desperdiçar a bebida e a comida que havia levado para a festa surpresa do homem e resolve levar o corpo do falecido para uma última gandaia. Afinal de contas, era esse o tipo de cerimonial que ele gostaria de ter. Arma-se o circo e um hilário jogo de gato e rato começa: A família querendo o corpo a todo custo para poder enterrar logo e se exibir, enquanto os amigos arrastam o defunto pelas ladeiras da Bahia. Prostíbulos, bares, delegacia e até terreiro de candomblé são visitados por nosso póstumo herói. Ele vai se despedindo do mundo da melhor forma possível, com muita festa, mulher e bebida, enquanto a família se descabela e pede ajuda às autoridades.
Essa baderna toda, faz parte de um livro de Jorge Amado chamado A morte e a morte de Quincas Berro D'Água, que acabou de ser adaptado para ao cinema, pelas competentes mãos de Sérgio Machado e ganhou o nome de “A Morte de Quincas Berro d'Água'”. Devo admitir que entrei na sala de cinema esperando pouco do filme, afinal, adaptações de obras literárias sempre deixam a desejar (acho que tem toda uma questão semiótica que explica isso, devido aos meios diferentes e diferentes restrições, mas isso é outra história...). Porém, o filme me surpreendeu bastante em vários momentos, com algumas cenas de destaque (todas as de Paulo José, que mesmo morto, dá um show) e a actuação competente de Marieta Severo, Mariana Ximenes, Frank Menezes, Irandhir Santos, Luís Miranda e Flávio Bauraqui. Confesso que achei que a personagem Manuela, de uma Marieta Severo bastante caricata, apareceu pouco e podia ter dado mais pano pra manga. Também achei umas poucas cenas do início demasiado longas e outras um pouco escuras, mas a versão que vi ainda seria ajustada. Ri demais com o filme, principalmente quando algum personagem conta alguma estripulia ou frase dita por Quincas, gostei muito do figurino, achei as adaptações do roteiro bastante eficazes, o recurso de flashback bem empregado e tanto a trilha sonora e quanto a animação inserida nos créditos muito criativas e pertinentes. Aliás, repare que a animaçãozinha te lembrará outras coisas (vertigo). No fim, sai com uma sensação parecida com aquela de quando assisti o Auto da Compadecida. Apesar de filmes bastante diferentes, ambos me deixaram com aquela sensaçãozinha de bem-estar que nos dá quando vemos um trabalho bem feito. Recomendo!
Como no livro de Jorge Amado, há bastante expressões de baixo calão, que podem levar o filme perder o público mais jovem naquela truqueiragem toda de indicação etária dos cinemas. Eu acho uma pena, pois uma obra assim, tão divertida, despertaria o interesse dos adolescentes pelo livro e quiçá (adoro essa palavra) pela obra do nosso primeiro 'fazedor de best-sellers'. Afinal é assim, através de um primeiro livro, lido por vontade própria, que somos arrastados para todo sempre pra esse mundão de meu-Deus que é a Literatura.
Com Mariana Ximenes, Marieta Severo, Paulo José
Crítica de Laís Sartori
Blog - http://anti-sujeito.blogspot.com/
Pense numa vida chata: um cargo que você não gosta, uma família que não te dá orgulho, uma pessoa superficial e controladora ao seu lado, colegas de trabalho insuportáveis. Pensou? Agora, imagine que enquanto você atura tudo isso, lá fora o sol reina pleno, as moças caminham com pouca roupa nas praias e os boêmios e bêbados se divertem a noite toda. Insuportável, não é? Para Quincas foi. Cansado dessa semi-vida, farto de tudo, Quincas (Paulo José) deixou esposa e filha e foi se juntar aos vagabundos (Frank Menezes, Irandhir Santos, Luís Miranda e Flávio Bauraqui, Marieta Severo e muitos outros) da Bahia. Logo tornou-se líder do grupo e com seu 'pelotão', encharcado de álcool, trocava a noite pelo dia, frequentava o terreiro de candomblé e farreava até altas horas com prostitutas. Pela primeira vez, viveu. Agora era movido a cachaça e nunca mais tomou um gole sequer de água. Foi vivendo assim, até que um dia, que calhou de ser justamente o dia em que faria anos, entrou pela sua porta um raio de uma indesejada morte bem da sem graça. O homem caiu na cama, tomou um gole e pronto, estava morto. Os amigos, que haviam preparado uma festa surpresa a qual Quincas nunca compareceu, inconsoláveis, foram avisar a família, que a essa altura era composta apenas por sua filha (Mariana Ximenes), já casada. É então que a história ganha um nó: humilhada e envergonhada pela decisão do marido, a ex de Quincas tinha inventado que ele havia sido nomeado para um cargo importante no exterior. Mesmo sabendo a verdade, a filha nunca havia desmentido e agora, teria que não só enterrar o próprio pai ausente, como enfrentar o deboche da sociedade baiana ao admitir que o homem a havia abandonado para se tornar um vagabundo de marca maior. Seu marido (Vladimir Brichta), funcionário público, resolve tirar proveito da situação e prosseguir com o fingimento da sogra. Inventa então, que o corpo do importante Quincas estava chegando ao país para ser enterrado aqui. Convence a esposa que era só pegar o corpo, vesti-lo adequadamente e aproveitar os benefícios que a morte de tão importante figura traria a ele na repartição. Um plano que não teria como dar errado, não fosse o pelotão de vagabundos que Quincas comandava: A corja boêmia da Bahia não queria desperdiçar a bebida e a comida que havia levado para a festa surpresa do homem e resolve levar o corpo do falecido para uma última gandaia. Afinal de contas, era esse o tipo de cerimonial que ele gostaria de ter. Arma-se o circo e um hilário jogo de gato e rato começa: A família querendo o corpo a todo custo para poder enterrar logo e se exibir, enquanto os amigos arrastam o defunto pelas ladeiras da Bahia. Prostíbulos, bares, delegacia e até terreiro de candomblé são visitados por nosso póstumo herói. Ele vai se despedindo do mundo da melhor forma possível, com muita festa, mulher e bebida, enquanto a família se descabela e pede ajuda às autoridades.
Essa baderna toda, faz parte de um livro de Jorge Amado chamado A morte e a morte de Quincas Berro D'Água, que acabou de ser adaptado para ao cinema, pelas competentes mãos de Sérgio Machado e ganhou o nome de “A Morte de Quincas Berro d'Água'”. Devo admitir que entrei na sala de cinema esperando pouco do filme, afinal, adaptações de obras literárias sempre deixam a desejar (acho que tem toda uma questão semiótica que explica isso, devido aos meios diferentes e diferentes restrições, mas isso é outra história...). Porém, o filme me surpreendeu bastante em vários momentos, com algumas cenas de destaque (todas as de Paulo José, que mesmo morto, dá um show) e a actuação competente de Marieta Severo, Mariana Ximenes, Frank Menezes, Irandhir Santos, Luís Miranda e Flávio Bauraqui. Confesso que achei que a personagem Manuela, de uma Marieta Severo bastante caricata, apareceu pouco e podia ter dado mais pano pra manga. Também achei umas poucas cenas do início demasiado longas e outras um pouco escuras, mas a versão que vi ainda seria ajustada. Ri demais com o filme, principalmente quando algum personagem conta alguma estripulia ou frase dita por Quincas, gostei muito do figurino, achei as adaptações do roteiro bastante eficazes, o recurso de flashback bem empregado e tanto a trilha sonora e quanto a animação inserida nos créditos muito criativas e pertinentes. Aliás, repare que a animaçãozinha te lembrará outras coisas (vertigo). No fim, sai com uma sensação parecida com aquela de quando assisti o Auto da Compadecida. Apesar de filmes bastante diferentes, ambos me deixaram com aquela sensaçãozinha de bem-estar que nos dá quando vemos um trabalho bem feito. Recomendo!
Como no livro de Jorge Amado, há bastante expressões de baixo calão, que podem levar o filme perder o público mais jovem naquela truqueiragem toda de indicação etária dos cinemas. Eu acho uma pena, pois uma obra assim, tão divertida, despertaria o interesse dos adolescentes pelo livro e quiçá (adoro essa palavra) pela obra do nosso primeiro 'fazedor de best-sellers'. Afinal é assim, através de um primeiro livro, lido por vontade própria, que somos arrastados para todo sempre pra esse mundão de meu-Deus que é a Literatura.
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