sexta-feira, 2 de abril de 2010

Crítica - Law Abiding Citizen (2009)

Realizado por F. Gary Gray
Com Jamie Foxx, Gerard Butler, Colm Meaney, Bruce McGill

A violência exacerbada está amplamente presente em “Law Abiding Citizen”, uma produção extremamente superficial e muito pouco credível que nos apresenta inúmeras sequências irrealistas onde as explosões e os macabros homicídios são os principais intervenientes, assim sendo, estamos perante um produto cinematográfico bastante incompleto que apenas se preocupa em fornecer ao espectador a maior quantidade possível de violência e de adrenalina através dos seus medíocres e implausíveis segmentos que não são convenientemente acompanhados pela sua leviana narrativa. Clyde Shelton (Gerard Butler) é um cidadão exemplar que vê a sua mulher e filha serem brutalmente assassinadas durante uma invasão a sua casa. Quando os assassinos são detidos, Nick Rice (Jamie Foxx), um jovem e ambicioso procurador, é chamado para participar no processo. Apesar dos seus protestos, Nick é forçado pelo seu chefe a oferecer a um dos suspeitos uma sentença leve em troca de um testemunho contra o seu cúmplice. Uma década depois, o homem que se safou da acusação de homicídio é encontrado morto e Clyde Shelton admite friamente que é o culpado e em seguida faz um enigmático aviso ao procurador, ou compõe o sistema de justiça que falhou com a sua família ou as pessoas importantes do processo morrerão. Shelton avança com as suas ameaças, orquestrando a partir da sua cela prisional, um fio de impressionantes e diabólicos assassínios que não podem ser previstos ou prevenidos. A cidade de Filadélfia está dominada pelo medo à medida que os alvos de Shelton são mortos uns a seguir aos outros e as autoridades não têm poder para acabar com esta onda de terror. Apenas Nick poderá parar esta matança, e para tal, terá de ser mais astuto que este brilhante sociopata, num crucial concurso de vontades em que o menor descuido significa a morte e com a sua própria família na mira do intrépido assassino, Nick vê-se envolvido numa corrida exasperante contra o tempo, enfrentando um adversário mortal que parece estar sempre um passo à sua frente.


O conceito de “Law Abiding Citizen” é, no mínimo, pouco imaginativo porque não é a primeira vez que somos confrontados com uma personagem aparentemente normal e estável que adoptou um caminho de violência e vingança após uma experiência traumática, no entanto, este conceito previsível e recorrente é levado ao extremo do ilusório e do superficial por esta medíocre produção que é protagonizada por um individuo traumatizado que prossegue uma perturbante e desconexa vendeta contra o sistema judicial, vendeta essa que é pautada pela utilização de impressionantes apetrechos tecnológicos e por avançadas estratégias militares. A utilização de impressionantes estratégias militares não é completamente irrealista porque apesar do interveniente ser um engenheiro é possível que este seja um sobredotado e que possa ter apreendido todas as suas estratégias através de um estudo exaustivo, assim se explica as suas constantes citações de conhecidos estrategas e generais, no entanto, é a sua utilização de engenhos e de equipamentos tecnologicamente avançados para executar essas estratégias que levantam inúmeras questões para as quais a história não fornece quaisquer respostas.


O principal objectivo da narrativa é explorar as fragilidades do sistema judicial e as possíveis consequências que essas fragilidades têm no quotidiano dos cidadãos que os responsáveis judiciais deveriam proteger, no entanto, esse objectivo é meramente hipotético porque em nenhum momento somos confrontados com uma abordagem devidamente aprofundada sobre o funcionamento incorrecto ou inadequado do sistema judicial americano, somos sim confrontados com uma análise artificial e irrealista de uma situação concreta que é protagonizada por um justiceiro desequilibrado e um procurador arrogante, duas personagens que acabam por encontrar a sua redenção individual através das suas respectivas acções que se entrosam constantemente num verdadeiro confronto de vontades e de intenções, ou seja, Clyde Shelton encontra o seu conforto emocional na sua sangrenta vingança que envolve a violenta aniquilação de todos os elementos que contribuíram para a sua injustiça judicial que foi parcialmente obtida graças à intervenção de Nick Rice, uma figura que representa o típico procurador americano e que tenta emendar as inúmeras injustiças que cometeu ao londo do seu passado profissional através do confronto intelectual com o resultado directo da sua maior injustiça judicial, Clyde Shelton. A relação que se desenvolve entre estas duas personagens é necessária para estabelecer uma distinção entre o correcto e o errado, no entanto, chegamos à simples conclusão de que nenhuma das duas está correcta porque ambos são responsáveis por situações completamente inaceitáveis e incompreensíveis. O espectador conseguirá compreender facilmente as motivações individuais e subjectivas de cada um desses intrevenientes mas será muito difícil defender as suas atitudes e os seus comportamentos sem colocar em dúvida os seus sentidos de justiça e de vingança. Os diálogos em “Law Abiding Citizen” são extremamente triviais e em alguns dos casos são mesmo pretensiosos porque tentam conferir uma intelectualidade inexistente à história através de citações históricas ou divagações filosóficas.


O confronto pseudo-intelectual entre os protagonistas é constantemente interrompido pelas superficiais e explosivas sequências de violência que se assumem como o principal elemento desta produção, no entanto, essa preponderância não é acompanhada por uma presença assídua de qualidade ou de imaginação. Os primeiros segmentos até são razoavelmente interessantes e até conseguem entreter minimamente o espectador porque obedecem a uma construção inteligente que assenta essencialmente na imprevisibilidade mas à medida que a história se vai desenvolvendo e essas sequências se vão sucedendo sem demonstrar uma grande evolução imaginativa, os espectadores vão perdendo gradualmente o seu interesse por elas. O grande culpado por esta situação é F. Gary Gray, um cineasta que não conseguiu editar convenientemente essas sequências e que também não se preocupou em construir e desenvolver menos segmentos desse género mas com mais qualidade e interesse porque o principal problema de “Law Abiding Citizen” é precisamente a presença excessiva dessas sequências que são compostas por efeitos especiais que aumentam inegavelmente a sua espectacularidade mas que em nada contribuem para a sua eficácia ou qualidade. Gerard Butler e Jamie Fox não têm aqui as melhores performances das suas carreiras, muito pelo contrário, não conseguem deslumbrar o espectador com as suas interpretações unidimensionais. As performances secundárias de Viola Davis, Colm Meaney e Bruce McGill também não são melhores e também não conseguem cativar a atenção do público.


À semelhança de inúmeras produções do género, “Law Abiding Citizen” foi claramente prejudicado pela sua excessiva artificialidade e pela sua aposta desmedida em sequências de violência e de acção exacerbada, no entanto, esses segmentos poderão entreter e agradar aos espectadores que apreciem um espectáculo cinematográfico de pirotécnica e de violência desmedida.

Classificação – 2 Estrelas em 5

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