segunda-feira, 19 de abril de 2010

Crítica - Dorian Gray (2009)


Realizado por Oliver Parker
Com Colin Firth, Ben Barnes, Rebecca Hall

O trabalho literário mais famoso de Oscar Wilde, “The Picture of Dorian Gray”, recebeu a sua primeira adaptação cinematográfica em 1945 por intermédio de Albert Lewin e da Metro-Goldwyn-Mayer. O filme recebeu críticas maioritariamente positivas e até conquistou o Óscar de Melhor Fotografia a Preto e Branco. A sua segunda adaptação é agora apresentada por Oliver Parker, um cineasta que conseguiu oferecer ao icónico romance gótico mais uma razoável produção cinematográfica. A história de “Dorian Gray” é ambientada na Inglaterra Vitoriana (Século XIX) e é protagonizada por Dorian Gray (Ben Barnes), um adolescente que é possuidor de uma beleza quase sobrenatural que consegue seduzir todos os indivíduos que o rodeiam. Lord Henry Wotton (Colin Firth) é um poderoso homem que também fica imediatamente subjugado ao seu encanto e que o arrasta para os misteriosos prazeres do submundo londrino, onde a moralidade se submete à eterna busca dos prazeres carnais. Henry solicita a Basil Hallward (Ben Chaplin), um amigo íntimo e um conhecida artista inglês, que perpetue a magnifica perfeição daquele esbelto adolescente numa gloriosa pintura e quando Dorian Gray se depara com a magnificência do seu próprio retrato decide pedir um desejo que irá alterar para sempre o curso da sua vida. O jovem decide trocar a sua própria alma pela beleza eterna, assim sendo, é o seu retrato que passa a sofrer as devastadoras consequências da acção do tempo, no entanto, a sua beleza estará para sempre amaldiçoada por uma constante infelicidade e uma permanente insatisfação.


O grande enfoque narrativo de “Dorian Gray” é a complexa abordagem psicológica que é efectuada ao seu protagonista, uma análise constante e evolutiva às significativas alterações na sua personalidade e às devastadoras consequências que a corrupção moral e a influência social acabam por ter no seu comportamento. A sua regressão comportamental é causada por inúmeras ocorrências que o transformaram numa criatura sobrenatural que é obcecada pela sua beleza eterna, um obsessão superficial que envenena progressivamente a sua mentalidade. O romance também está amplamente presente em “Dorian Gray” através das principais relações amorosas que o protagonista estabelece, relações essas que demonstram as suas fragilidades psicológicas e as suas limitações emocionais. “Dorian Gray” não é tão obscuro ou tão sobrenatural como o seu antecessor, “The Picture of Dorian Gray” (1945), no entanto, consegue compensar essa ausência com uma abordagem mais intimista e subjectiva do interveniente principal, uma análise extremamente cativante que nos oferece uma visão muito peculiar sobre a fragilidade humana. O argumento desta produção não é completamente fidedigno ao produto literário que lhe serviu de inspiração, um pormenor que acaba por não afectar gravemente este produto cinematográfico que transmite ao espectador as mesmas mensagens e as mesmas moralidades que a história original pretende transmitir, assim sendo, somos confrontados com uma interessante narrativa que pretende demonstrar ao espectador as consequências que as obsessões e as influencias exteriores podem ter na nossa existência.


O trabalho de Oliver Parker não é exemplar mas é competente. O cineasta não conseguiu ser tão eficiente como Albert Lewin em “The Picture of Dorian Gray”, no entanto, oferece ao espectador uma realização que é cuidada e agradável mas que não nos apresenta muitos elementos místicos ou góticos, uma situação que não foi muito benéfica para a sua fotografia que acabou por ficar muito àquem das expectativas. Os aspectos mais técnicos como a maquilhagem ou o guarda-roupa são competentes e historicamente correctos. O elenco não é um exemplo de competência ou de perfeição. Colin Firth não tem aqui a melhor performance da sua ilustre carreira, no entanto, consegue nos convencer com a sua charmosa interpretação. Ben Barnes deixa muito a desejar como Dorian Gray. O jovem actor nunca conseguiu incorporar as características intimistas da sua personagem e isso prejudicou inegavelmente a sua performance. O elenco feminino cumpre mas não deslumbra.


A história sobrenatural que foi imaginada por Oscar Wilde em 1890 é, no mínimo, fascinante. “Dorian Gray” é uma agradável adaptação desse excelente romance gótico e deverá conseguir agradar facilmente a qualquer espectador que esteja minimamente familiarizado com este icónico conto literário.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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