domingo, 28 de março de 2010

Crítica - How To Train Your Dragon (2010)



Realizado por Dean DeBlois, Chris Sanders
Com America Ferrera, Gerard Butler, Jay Baruchel

As fantásticas produções de animação da Pixar/Disney são sempre louvadas e classificadas como as melhores e as mais completas do mercado animado mas ocasionalmente a DreamWorks Animation consegue desenvolver algumas animações que lhes conseguem fazer concorrência, como por exemplo, “Kung-Fu Panda”, “Shrek” e “How To Train Your Dragon”, uma extraordinária longa-metragem que nos oferece todos os elementos que devem integrar uma animação de qualidade, ou seja, uma narrativa completa e cativante que consiga agradar facilmente a todos os espectadores de todas as faixas etárias e uma sofisticada direcção que seja capaz de nos apresentar um visual atraente e criativo. O protagonista de “How To Train Your Dragon” é Hiccup (Jay Baruchel), um pequeno viking muito pouco convencional que habita na Ilha de Berk. A sua força intelectual ultrapassa em muito as suas capacidades físicas e, por isso, é o motivo de chacota de toda a sua tribo. O facto de ser filho do chefe cria uma pressão ainda maior sobre si e sobre o seu pai que não encontra nele a audácia necessária para ser um verdadeiro caçador de dragões e, menos ainda, um futuro líder. Quando Hiccup é incluído no Treino de Dragão com outros jovens vikings, percebe que essa é a oportunidade para provar que tem tudo para ser um combatente, no entanto, tudo isso muda quando conhece um dragão ferido, Toothless, de quem se torna amigo, e tudo o que acreditava e desejava parece perder todo o sentido. Agora o seu principal objectivo é demonstrar a cada um dos membros da sua tribo que nem todos os dragões são criaturas mortíferas e malévolas.



A história de “How to Train Your Dragon” é inspirada no homónimo produto literário de Cressida Cowell mas essa inspiração é bastante livre porque não existem grandes semelhanças entre o trabalho literário e o cinematográfico, no entanto, quem fica a ganhar é claramente este último porque a história do livro não é tão cativante e envolvente como a que foi desenvolvida pelos guionistas desta produção. O argumento de “How to Train Your Dragon” não é muito diferente do de outros trabalhos do género mas consegue nos apresentar alguns elementos narrativos de interesse que conseguem fornecer alguma imprevisibilidade à história que também é mais dramática que as da esmagadora maioria das animações que não são desenvolvidas pela Pixar/Disney. O enfoque temático e sentimental da história é a amizade que se forma entre o simpático protagonista e um afável dragão, uma demonstração fantasiosa de como uma relação de amizade não se tem de restringir aos humanos, assim sendo, esta temática é utilizada como uma espécie de comparação entre as relações de amizade que são formadas durante a produção entre os humanos e os dragões e as relações de amizade que se formam no quotidiano entre os animais domésticos e os seus proprietários. A narrativa também desenvolve e transmite de uma forma mais delicada outras mensagens importantes que só deverão ser compreendidas pelos espectadores mais velhos, como por exemplo, esta necessidade/obrigação intrínseca que temos de respeitar e de compreender as criaturas com quem compartilhamos os ecossistemas. O humor também está presente em “How to Train Your Dragon” através de pequenas estocadas cómicas que conseguem arrebatar algumas gargalhadas devido à sua objectividade e simplicidade. A vertente romântica está restringida a uma simples mas especial relação de amizade entre o protagonista e a rapariga mais popular da sua aldeia por quem tem uma atracção, no entanto, essa relação nunca ultrapassa a barreira da inocência e apenas existe porque introduz um pouco de romance a esta história que é dominada pela amizade. Os estereótipos históricos e culturais estão presentes na construção das personagens humanas e animalescas, no entanto, essa estereotipização não é negativa ou prejudicial porque auxilia os espectadores mais novos a compreenderem a história porque afinal de contas são os espectadores mais novos que são o público-alvo desta produção, assim sendo, essa construção não é muito complexa, muito pelo contrario, todas as personagens tem as suas prioridades e as suas personalidades bem explicitadas e o seu desenvolvimento não acarreta nenhuma surpresa. Os diálogos explicam muito bem todas as situações fundamentais e contextualizam constantemente os sentimentos das personagens, no entanto, estas constatações podem ser cansativas para um espectador adulto mas são necessárias para um espectador mais jovem ou mais desatento.

Os melhores elementos de “How to Train Your Dragon” estão presentes nas suas vertentes técnicas e visuais. A direcção de Dean DeBlois e Chris Sanders é absolutamente impecável e consegue rivalizar facilmente com os trabalhos criativos de Pete Docter em “Up” ou de Andrew Stanton em “Wall-E”. Os cenários são ricos em pormenores e são compostos por um magnífico conjunto de cores que conseguem exteriorizar os sentimentos das personagens. A tecnologia tridimensional rentabiliza esses cenários porque os consegue tornar mais credíveis e mais expressivos mas é nas fantásticas sequências de batalha que essa tecnologia é realmente preponderante porque transforma as explosões e os combates entre dragões e humanos num verdadeiro espectáculo de animação que surpreenderá qualquer espectador. As sequências mais pacíficas também beneficiam da maravilha tecnológica que é a tridimensionalidade, assim sendo, os voos dos dragões são mais emocionantes e oferecem ao público uma imensidão de sensações que vão desde a adrenalina à surpresa e à satisfação. A construção gráfica das personagens também é maravilhosa. O design gráfico dos dragões é especialmente interessante porque essas criaturas mitológicas estão carregadas de originalidade e de um carisma muito particular porque todas essas criaturas são diferentes umas das outras, uma situação que reforça a sua individualidade e que as torna mais atraente para um público mais jovem. A única falha técnica de “How To Train Your Dragon” é a escassez de sonoridades de qualidade, assim sendo, ao contrário de “Up” ou de “Shrek”, esta produção não nos apresenta nenhuma sonoridade memorável. O elenco vocal desta produção é competente mas passa um bocado despercebido porque é ofuscado pelos magníficos efeitos visuais da produção, ainda assim, Gerard Butler consegue obter algum destaque graças ao seu característico sotaque que reforça as características nórdicas da sua personagem.


Após um desastroso “Monsters Vs Aliens” a DreamWorks Animation volta a se afirmar como a maior concorrente comercial e qualitativa da Pixar/Disney que nos últimos tempos tem dominado este mercado. “How To Train Your Dragon” deverá conseguir facilmente uma nomeação ao Óscar de Melhor Filme de Animação e as novas apostas da Pixar/Disney, “Tangled” e “Toy Story 3”, deverão ser as únicas animações que conseguirão rivalizar com a sua qualidade.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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