Realizado por Tim Burton
Com Johnny Depp, Freddie Highmore, Helena Bonham-Carter, Christopher Lee
Na antecipação de "Alice no País das Maravilhas", que promete ser mais um devaneio bombástico do sempre desajustado (mas não obstante consagrado) Tim Burton, vale a pena recordar a também fábula "Charlie e a Fábrica de Chocolate". Conta a história de Charlie, um rapazinho extremamente pobre e de bom coração, que vive com a família num casebre ofuscado pela monumental fábrica de chocolate de Willy Wonka. Um dia, este excêntrico e misterioso homem dá oportunidade a cinco crianças de visitar a fábrica. Charlie é uma delas, juntamente com quatro das mais mimadas e arrogantes crianças do planeta, e é aqui que começa a mirabolante e onírica viagem por um mundo originalmente imaginado por Roald Dahl, mas pintado à imagem de um realizador conhecido pela sua extraordinária capacidade de expressão visual e perspectiva muito própria do mundo que o rodeia.
O peculiar universo de Burton é povoado por estranhas mas adoráveis criaturas, atormentadas e incompreendidas, que tentam em vão adaptar-se ao cruel "mundo normal". Outrora algo obscuro e mórbido, a fábula melodramática de "O Grande Peixe" trouxe-lhe luz e cor, e uma qualidade de esperança e redenção. Charlie e a Fábrica de Chocolate segue esse trilho e o realizador oferece-nos mais uma visita a esse mundo, sempre de um modo profundamente genuíno, pois, em trinta anos, "à sua maneira" é a única forma como sabe veicular as suas histórias e as suas personagens.
À primeira vista, trata-se apenas de uma história com moral para crianças, onde, através da sátira, se criticam os vícios e os excessos que os pais, por indulgência ou negligência, permitem aos filhos e se enfatizam os valores familiares, a honestidade e a pureza de coração, sem paternalismos ou condescendências de nenhum tipo. Para o olho atento, porém, há uma imensidão de maravilhas com que deleitar os olhos e o coração. Willy Wonka é o herói desajustado deste filme. É tudo aquilo que podíamos NÃO esperar da personagem original. Numa pitoresca representação de Johnny Depp, de roupas extravagantes e maneiras de desenho animado, descobrimos uma criança em ponto grande, cuja franqueza e inocência são desarmantes. A diferença é que, desta vez, são as "pessoas normais" a entrar no mundo da "aberração" e a cingir-se às suas regras. E é curioso verificar que os sentimentos que habitualmente levam à condenação e expulsão da segunda (hipocrisia, mesquinhez, ganância) são precisamente o que dita o falhanço das primeiras. Depois, no meio da fanfarra de cor e música, há os sempre presentes pormenores deliciosos, como o horrendo aparelho dentário do jovem Wonka, a adorável casa torta de Charlie que se opõe à perfeita simetria das restantes, os bonecos amorosos de boas-vindas incendiados até à disformidade, os umpa-lumpas com tanto de amável como de aterrador e Depp como o derradeiro marginal de Burton, através de quem este exorciza os seus demónios e ganha vida nos seus próprios filmes.
Todo o filme de Tim Burton não está completo sem a música de Danny Elfman (não desdenhando Ed Wood). Depois da partitura emotiva mas sóbria de O Grande Peixe, é empolgante vê-lo aqui dar largas à imaginação e criar uma partitura extravagante e selvagem, extremamente inventiva e, ao mesmo tempo, íntima e sentimental, repleta dos seus bemóis característicos. Para os temas individuais, Elfman revisita a sua faceta anos 80 de Oingo Boingo e reveste as letras de Dahl de pura diversão, inesperada doçura e contagioso frenesim, ao mesmo tempo que dá ênfase ao escárnio nelas presente. Em suma, um delírio auditivo em perfeita sintonia com o delírio visual que é Charlie e a Fábrica de Chocolate.
Com Johnny Depp, Freddie Highmore, Helena Bonham-Carter, Christopher Lee
Na antecipação de "Alice no País das Maravilhas", que promete ser mais um devaneio bombástico do sempre desajustado (mas não obstante consagrado) Tim Burton, vale a pena recordar a também fábula "Charlie e a Fábrica de Chocolate". Conta a história de Charlie, um rapazinho extremamente pobre e de bom coração, que vive com a família num casebre ofuscado pela monumental fábrica de chocolate de Willy Wonka. Um dia, este excêntrico e misterioso homem dá oportunidade a cinco crianças de visitar a fábrica. Charlie é uma delas, juntamente com quatro das mais mimadas e arrogantes crianças do planeta, e é aqui que começa a mirabolante e onírica viagem por um mundo originalmente imaginado por Roald Dahl, mas pintado à imagem de um realizador conhecido pela sua extraordinária capacidade de expressão visual e perspectiva muito própria do mundo que o rodeia.
O peculiar universo de Burton é povoado por estranhas mas adoráveis criaturas, atormentadas e incompreendidas, que tentam em vão adaptar-se ao cruel "mundo normal". Outrora algo obscuro e mórbido, a fábula melodramática de "O Grande Peixe" trouxe-lhe luz e cor, e uma qualidade de esperança e redenção. Charlie e a Fábrica de Chocolate segue esse trilho e o realizador oferece-nos mais uma visita a esse mundo, sempre de um modo profundamente genuíno, pois, em trinta anos, "à sua maneira" é a única forma como sabe veicular as suas histórias e as suas personagens.
À primeira vista, trata-se apenas de uma história com moral para crianças, onde, através da sátira, se criticam os vícios e os excessos que os pais, por indulgência ou negligência, permitem aos filhos e se enfatizam os valores familiares, a honestidade e a pureza de coração, sem paternalismos ou condescendências de nenhum tipo. Para o olho atento, porém, há uma imensidão de maravilhas com que deleitar os olhos e o coração. Willy Wonka é o herói desajustado deste filme. É tudo aquilo que podíamos NÃO esperar da personagem original. Numa pitoresca representação de Johnny Depp, de roupas extravagantes e maneiras de desenho animado, descobrimos uma criança em ponto grande, cuja franqueza e inocência são desarmantes. A diferença é que, desta vez, são as "pessoas normais" a entrar no mundo da "aberração" e a cingir-se às suas regras. E é curioso verificar que os sentimentos que habitualmente levam à condenação e expulsão da segunda (hipocrisia, mesquinhez, ganância) são precisamente o que dita o falhanço das primeiras. Depois, no meio da fanfarra de cor e música, há os sempre presentes pormenores deliciosos, como o horrendo aparelho dentário do jovem Wonka, a adorável casa torta de Charlie que se opõe à perfeita simetria das restantes, os bonecos amorosos de boas-vindas incendiados até à disformidade, os umpa-lumpas com tanto de amável como de aterrador e Depp como o derradeiro marginal de Burton, através de quem este exorciza os seus demónios e ganha vida nos seus próprios filmes.
Todo o filme de Tim Burton não está completo sem a música de Danny Elfman (não desdenhando Ed Wood). Depois da partitura emotiva mas sóbria de O Grande Peixe, é empolgante vê-lo aqui dar largas à imaginação e criar uma partitura extravagante e selvagem, extremamente inventiva e, ao mesmo tempo, íntima e sentimental, repleta dos seus bemóis característicos. Para os temas individuais, Elfman revisita a sua faceta anos 80 de Oingo Boingo e reveste as letras de Dahl de pura diversão, inesperada doçura e contagioso frenesim, ao mesmo tempo que dá ênfase ao escárnio nelas presente. Em suma, um delírio auditivo em perfeita sintonia com o delírio visual que é Charlie e a Fábrica de Chocolate.
Classificação - 4,5 Estrelas Em 5
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