De Joel Hopkins
Com Dustin Hoffman, Emma Thompson, Eileen Atkins, Kathy Baker
"Last Chance Harvey" não é original. Não parte de uma premissa nunca antes vista nem tão-pouco se desenrola surpreendentemente ou com qualquer tipo de reviravolta. Mas, dependendo do ponto de vista, esta qualidade do filme tanto pode resultar na razão do seu fracasso como precisamente na sua maior força. Porque, na verdade, "Last Chance Harvey" não tem qualquer pretensão de ser um filme diferente ou marcante. É antes um relato simples, mas sem deixar de ser tocante, de um encontro entre duas pessoas. É um "rapaz-encontra-rapariga" na meia idade.
Harvey (Dustin Hoffman) é um nova-iorquino que compõe músicas para anúncios publicitários mas cujo talento se vê ultrapassado pelas novas tecnologias e pela nova geração que as domina. Kate (Emma Thompson) é uma londrina solitária responsável pelo departamento de estatística do aeroporto de Heathrow com uma mãe paranóica e uma amiga empenhada em lhe arranjar encontros amorosos com desconhecidos. O primeiro breve encontro do par não só resume na perfeição o estado de espírito das personagens, como define o tom e o tema da história: duas pessoas que não se encaixam no tempo em que vivem, que não se revêem nas pessoas que conhecem e que estão simplesmente cansadas de tentar, limitando-se a viver desapaixonada e conformadamente. O curioso é que este encontro acontece passado pelo menos um terço de filme, senão metade. Até aqui acompanhamos os protagonistas nas suas tentativas frustradas de inserção/socialização, em especial no que diz respeito a Harvey. Sendo um filme de actores, no retrato de homem amargo e que perdeu algo pelo caminho a escolha não poderia ter sido mais certeira. Um Dustin Hoffman real, envelhecido, totalmente desprovido de artifício, filmado grande parte das vezes em grande plano para enfatizar tudo isto, capta uma solidão que parece verter de todos os poros, patente e dolorosa. Na viagem da personagem a Londres para assistir ao casamento da filha, a sua alienação da família originada pela sua ausência enquanto pai e o seu fracasso enquanto marido, que culminam no padrasto perfeito, delineiam uma pessoa estilhaçada que vê o seu emprego, a sua última utilidade, escapar-se-lhe também.
Trata-se portanto de um homem sem nada a perder que encontra uma mulher tão marcada pela desilusão que já encontra conforto nela e na sua certeza (a personagem de Emma Thompson faz lembrar a que interpretou em “O Amor Acontece” numa realidade alternativa). E daí se aceita com naturalidade que haja uma empatia imediata e não explicada entre eles, de tal forma que Harvey insiste em seguir Kate para todo o lado. É a sua última oportunidade. A partir daqui, o filme transforma-se numa espécie de “Antes do Amanhecer” sénior, mas sem os pensamentos filosóficos nem o anseio do conhecimento recíproco, porque não é necessário nem vale a pena. É aqui que começa a saber a pouco. É aqui que pela primeira vez fazem falta explicações, é um argumento pouco rico que se apoia claramente na força e expressividade dos actores, incumbindo-os de veicular toda a emoção da história. Ao que eles respondem com todo o mérito, visto serem os actores grandiosos que são. A realização é linear, competente no retrato individual, melancólica mas luminosa, não arrebatadora.
O que nos remete para a introdução deste texto: ou aceitamos a simplicidade do filme ou apontamo-lo como simplista ou simplório. O impacto emotivo depende essencialmente da sensibilidade de quem o vir. Se não compreendemos as motivações das personagens, dificilmente acharemos o filme digno de nota. Para os corações moles (como eu) o filme tem o seu encanto. A melhor cena: tentativa de Kate em explicar com gestos o que é um "upperlip stiffer" (empertigado, mas que numa tradução literal seria algo como "lábio superior retesado") ao descrever os modos dos britânicos!
Com Dustin Hoffman, Emma Thompson, Eileen Atkins, Kathy Baker
"Last Chance Harvey" não é original. Não parte de uma premissa nunca antes vista nem tão-pouco se desenrola surpreendentemente ou com qualquer tipo de reviravolta. Mas, dependendo do ponto de vista, esta qualidade do filme tanto pode resultar na razão do seu fracasso como precisamente na sua maior força. Porque, na verdade, "Last Chance Harvey" não tem qualquer pretensão de ser um filme diferente ou marcante. É antes um relato simples, mas sem deixar de ser tocante, de um encontro entre duas pessoas. É um "rapaz-encontra-rapariga" na meia idade.
Harvey (Dustin Hoffman) é um nova-iorquino que compõe músicas para anúncios publicitários mas cujo talento se vê ultrapassado pelas novas tecnologias e pela nova geração que as domina. Kate (Emma Thompson) é uma londrina solitária responsável pelo departamento de estatística do aeroporto de Heathrow com uma mãe paranóica e uma amiga empenhada em lhe arranjar encontros amorosos com desconhecidos. O primeiro breve encontro do par não só resume na perfeição o estado de espírito das personagens, como define o tom e o tema da história: duas pessoas que não se encaixam no tempo em que vivem, que não se revêem nas pessoas que conhecem e que estão simplesmente cansadas de tentar, limitando-se a viver desapaixonada e conformadamente. O curioso é que este encontro acontece passado pelo menos um terço de filme, senão metade. Até aqui acompanhamos os protagonistas nas suas tentativas frustradas de inserção/socialização, em especial no que diz respeito a Harvey. Sendo um filme de actores, no retrato de homem amargo e que perdeu algo pelo caminho a escolha não poderia ter sido mais certeira. Um Dustin Hoffman real, envelhecido, totalmente desprovido de artifício, filmado grande parte das vezes em grande plano para enfatizar tudo isto, capta uma solidão que parece verter de todos os poros, patente e dolorosa. Na viagem da personagem a Londres para assistir ao casamento da filha, a sua alienação da família originada pela sua ausência enquanto pai e o seu fracasso enquanto marido, que culminam no padrasto perfeito, delineiam uma pessoa estilhaçada que vê o seu emprego, a sua última utilidade, escapar-se-lhe também.
Trata-se portanto de um homem sem nada a perder que encontra uma mulher tão marcada pela desilusão que já encontra conforto nela e na sua certeza (a personagem de Emma Thompson faz lembrar a que interpretou em “O Amor Acontece” numa realidade alternativa). E daí se aceita com naturalidade que haja uma empatia imediata e não explicada entre eles, de tal forma que Harvey insiste em seguir Kate para todo o lado. É a sua última oportunidade. A partir daqui, o filme transforma-se numa espécie de “Antes do Amanhecer” sénior, mas sem os pensamentos filosóficos nem o anseio do conhecimento recíproco, porque não é necessário nem vale a pena. É aqui que começa a saber a pouco. É aqui que pela primeira vez fazem falta explicações, é um argumento pouco rico que se apoia claramente na força e expressividade dos actores, incumbindo-os de veicular toda a emoção da história. Ao que eles respondem com todo o mérito, visto serem os actores grandiosos que são. A realização é linear, competente no retrato individual, melancólica mas luminosa, não arrebatadora.
O que nos remete para a introdução deste texto: ou aceitamos a simplicidade do filme ou apontamo-lo como simplista ou simplório. O impacto emotivo depende essencialmente da sensibilidade de quem o vir. Se não compreendemos as motivações das personagens, dificilmente acharemos o filme digno de nota. Para os corações moles (como eu) o filme tem o seu encanto. A melhor cena: tentativa de Kate em explicar com gestos o que é um "upperlip stiffer" (empertigado, mas que numa tradução literal seria algo como "lábio superior retesado") ao descrever os modos dos britânicos!
Classificação - 3,5 Estrelas Em 5
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