Crítica – The Deer Hunter (1978)

Realizado por Michael Cimino
Com Robert De Niro, John Cazale, John Savage, Christopher Walken, Meryl Streep

O cineasta Michael Cimino não é conhecido pelo seu prestigiado palmares cinematográfico mas em 1978 “transcendeu-se” e apresentou-nos o magnífico “The Deer Hunter” que obteve 9 nomeações para os Óscares ganhando 5 delas (Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor Secundário - Cristopher Walken, Melhor Montagem e Melhor Som). O filme está dividido em três partes distintas. A primeira aborda diversos temas ligados à amizade e ao amor, exteriorizados nas três personagens principais (Michael – Robert De Niro; Nick – Cristopher Walken e Steven - John Savage), amigos e colegas de profissão que têm de encarar os seus problemas e dramas caseiros. Esta primeira parte é muito longa e pode levar a muitas críticas, mas para mim é genial porque nos permite conhecer as personagens na sua forma mais lúcida. Esta parte introdutória mostra-nos as três personagens no seu ambiente familiar e prepara-nos para as tragédias presentes no resto do filme. A segunda parte mostra-nos os três amigos na Guerra do Vietname. Esta parte é bastante diferente do que costumamos ver num filme de guerra porque não nos mostra muitas batalhas ou cenas de combate que envolvem tiroteios, como acontece por exemplo no início de “Saving Private Ryan”. Esta sequência narrativa limita-se a acompanhar a captura dos três amigos pelos vietnamitas e o drama do cativeiro que eles enfrentam. É durante esta altura que somos apresentados a uma das mais fantásticas e marcantes cenas que já vi porque graças à sua inerente profundidade, consegue exteriorizar na perfeição os sentimentos e emoções das personagens, ao mesmo tempo que nos dá bastante em que pensar através da sua forma psicológica e filosófica. Nessa cena, os três amigos são obrigados a jogar à roleta russa, um jogo horrível em que uma pessoa aponta uma arma à sua própria cabeça e os vietcongues apostam se sairá uma bala ou não, quando for permido o gatilho. O que quer isto dizer? A guerra é um jogo? A vida é como uma roleta russa? Nesta parte, Michael, que era sem dúvida o mais corajoso e rebelde dos três protagonistas, consegue planear uma fuga que o trio aproveita para se salvar. A terceira parte obriga-nos a reflectir sobre as consequências físicas e psicológicas dos três amigos, é uma fase de desespero onde nada voltou a ser como era antes. O trio regressa a casa sem glória e sem felicidade, porque a população sabe que aqueles homens nunca mais serão os mesmos. Michael, o menos afectado do trio, tenta recuperar o folgo de antigamente mas quando tenta reunir-se como Steven e Nick, apercebe-se que os seus amigos estão irremediavelmente perdidos, as suas recuperações são impossíveis e os danos são irreversíveis. Uma guerra estúpida acabou com a amizade e a pureza que existia naquela comunidade.
Este “The Deer Hunter” é um filme de guerra claramente diferente do habitual mas esta patente diferença, não o impede de ser um dos melhores filmes do género e uma das várias obras-primas sobre a Guerra do Vietname, tal como “Platoon” ou “Apocalypse Now”. O filme conseguiu este patamar de excelência através dum argumento muito bem conseguido e explorado ao pormenor, uma banda sonora fantástica e várias cenas bastante fortes que podem marcar o espectador mais sensível. A estes aspectos de luxo junta-se um competente elenco, onde se destacam as belas interpretações de Cristopher Walken, John Savage e Robert De Niro que manteve assim o seu estatuo de actor fantástico. Este filme da autoria de Michael Cimino é uma fantástica obra-prima, indispensável a qualquer amante de bom cinema. Um filme marcante e um fantástico épico clássico-trágico que aborda de forma psicológica, a transformação que a mente humana pode sofrer por causa duma guerra estúpida criada pelo próprio homem.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

Escrito e Enviado por Slrem