Talvez este não seja um grande filme, um filme marcante na história da 7ª arte, mas é certamente um filme que faz todo o sentido. Num momento histórico que convoca todos os mitos ancestrais das várias culturas em diálogo, urgia uma versão do arquetípico amor de Tristão de Aragão (James Franco) e Isolda (Sophia Myles).
Esta história, da qual se conhecem várias versões e que terá inspirado mesmo Shakespeare na concepção do seu Romeu e Julieta, fala-nos de um amor que tem tanto de indestrutível como de impossível. Fidelíssimo ao homem que lhe salvou a vida em criança, o Rei Marke da Bretanha (Rufus Sewell), rei que tenta a custo unir as diferentes tribos rivais que dominam a ilha desde o fim do Império Romano, Tristão conquista num torneio a mão da filha do rei da Irlanda para o seu protector. O que ele só mais tarde descobrirá é que esta jovem era a mesma que o salvara algum tempo antes quando, dado como morto pelos seus conterrâneos, foi dar à costa irlandesa inconsciente, dentro de um barco. Nessa altura, Isolda sob uma falsa identidade, tratou do jovem, protegeu-o, trouxe-o de novo à vida e roubou-lhe o coração. Agora, impedidos pela lealdade ao Rei Marke , esposo legítimo de Isolda, tentam em vão calar o seu amor, no entanto a paixão fala mais alto e tornam-se amantes. Quando são finalmente descobertos, numa armadilha arranjada pelo próprio pai de Isolda, despedaçam o coração de Marke mas acabam por o convencer da veracidade do seu amor, e assim este deixa-os fugir, enquanto no reino se trava uma desleal luta contra os invasores irlandeses. Não conseguindo fugir à honra da cavalaria de que era tão bom exemplo, Tristão volta para combater ao lado de Marke. Acaba por ser mortalmente ferido na batalha, e expira nos braços de Isolda que o sepultará e desaparecerá em seguida.
A idade das trevas britânica é bem recriada por um ambiente extraordinariamente soturno e bélico. A guerra de facto animava todos os gestos das tribos de então, sendo a morte uma presença constante. Encontramos por isso a fiel reconstituição de aldeias e fortificações muito toscas ainda, bem como um guarda-roupa bem adequado à época. Abundam as malhas de metal e não só, as cotas, os elmos e demais armaria. Pouco explorada na história é o lado feminino desta cultura, onde os homens eram heróis e as mulheres feiticeiras - só ao de leve se aborda o facto de Isolda ser entendida nos poderes mágicos das plantas – resumindo-se as figuras femininas apenas à própria Isolda, à sua ama (Lucy Russell) e à irmã do Rei Marke, uma espécie de mãe adoptiva de Tristão. Uma atmosfera tão viril exigia que a figura de Isolda e a paixão carnal entre esta e Tristão desse calor humano ao filme, mas isso não acontece. Embora Sophia Myles exale uma aura de encanto e beleza a sua interpretação bem como a de James Franco, em particular nos momentos em que contracenam, são correctas mas ficam aquém do que se esperava de dois dos maiores amantes de toda a civilização ocidental. Ainda assim continuo a achar que a magia do cinema consiste exactamente na capacidade de contar histórias ou de as recontar a uma nova luz.
Classificação - 3,5 Estrelas Em 5
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