Estamos habituados a assistir a uma sublimação dos traumas de diferentes guerras no cinema americano, já não estamos tão habituados a fazê-lo no cinema europeu e muito menos sobre um passado tão recente para os alemães como foi o Terceiro Reich e a euforia nazi. Em Der Untergang, Oliver Hirschbielgel parte das memórias de Traudl Junge, secretária particular do Füher, e da obra do historiador Joachim Fest, Inside Hitler’s Bunker: The Last Days of the Third Teich, para nos transportar para dentro do bunker onde Hitler (Bruno Ganz), Eva Braun (Juliane Köhler), Traudl Junge (Alexandra Maria Lara) e outros fiéis seguidores do ditador acompanharam os seus últimos 12 dias de vida.
Não é fácil para os alemães viverem com o facto de muitos deles e dos seus familiares terem sido apoiantes do regime nazi e o filme choca exactamente pelo modo humano como os nazis são apresentados. Bruno Ganz faz, como sempre, um papel extraordinário ao interpretar um Hitler cada vez mais alquebrado, tentado a todo custo evitar encarar a realidade da ofensiva soviética através de ordens duríssimas, inexequíveis e cruéis que pouco a pouco nem o seus generais mais convictos cumpriam. É a humanidade destes homens, as suas contradições, a sua fidelidade ao líder, contrabalançada pelas suas próprias fraquezas que nos perturba. Os agentes do horror do Holocausto eram homens como nós. A vida dentro do bunker era pacata, organizada e, de certo modo, muito confortável. Eva Braun mantinha a todo o custo a euforia ariana com festas, jantares e música, apesar dos bombardeamentos numa prova de fidelidade ímpar aos ideias do seu amante e, por fim , marido. O fanatismo da cultura nazi está bem representado no papel de Magda Goebbels (Corinna Harfouch), mulher do Ministro da Propaganda, fria e profundamente convicta dos seu s ideais, mais ainda do que o marido, que envenena friamente os seus seis filhos, as únicas crianças no bunker que animavam o Tio Hitler com as suas ingénuas canções, quando vê que a guerra está perdida para depois pediu ao marido que a matasse e se suicidasse em seguida. Aliás o suicídio dos militares que habitavam o bunker tornou-se a maneira mais honrosa de morrer depois do Füher , ele próprio, ter anunciado a sua intenção de se suicidar juntamente com Eva e de ter imposto a cremação dos seus corpos a fim de, nem depois de morto, poder ser alvo dos maus tratos soviéticos. Esta cobardia tremenda daquele que tanto apelara aos mais altos valores de heroicíssimo aos seus homens é a pedra de toque do filme, é a assumpção de que Hitler era um alucinado megalómano incapaz de ver a realidade mesmo quando ela estava diante do seus olhos. Mas este alucinado era tremendamente convincente e mobilizador .
Uma das cenas mais interessantes do filme é quando a fria e composta Magda Goebbels suplica uma ultima palavra a Hilter, quando este se preparava já para consumar o suicídio e se arrasta a seus pés suplicando-lhe que não se mate, que não os abandone. Hilter era pois o Grande Pai, um homem polido e cortês, de acordo com o relato da sua secretária e narradora do inicio e do fim do filme. Um líder que terá afirmado no final da sua vida não se importar com a destruição dos alemães pois não lutaram para merecer melhor.
As duas horas e meia de duração são talvez excessivas mas, de certo modo, passam para o espectador a exasperante agonia do Terceiro Reich, as oscilações entre o desespero e a esperança, a ilusão que se vivia dentro do bunker, os sucessivos suicídios. O filme começa e termina com as declarações de Traudl Junge onde afirma desconhecer a dimensão da atrocidade e assumir o facto de hoje, não considerar uma desculpa aceitável para isso a sua juventude de então. Mas que mais podem dizer os nazis deste período na Alemanha de hoje (não me refiro aos neo-nazis pois são uma movimento posterior que não foi agente da 2ª Grande Guerra). Essa pergunta fica no ar. Até que ponto podemos desculpar e aceitar os antigos nazis cujo destino nos é apresentado no final do filme, estando alguns dos quais ainda hoje vivos? Der Untergang é portanto, na minha opinião, um interessantíssimo questionar interno das culpas alemãs na Guerra e um filme que, consequentemente, nos faz reflectir muito sobre a natureza humana.
As duas horas e meia de duração são talvez excessivas mas, de certo modo, passam para o espectador a exasperante agonia do Terceiro Reich, as oscilações entre o desespero e a esperança, a ilusão que se vivia dentro do bunker, os sucessivos suicídios. O filme começa e termina com as declarações de Traudl Junge onde afirma desconhecer a dimensão da atrocidade e assumir o facto de hoje, não considerar uma desculpa aceitável para isso a sua juventude de então. Mas que mais podem dizer os nazis deste período na Alemanha de hoje (não me refiro aos neo-nazis pois são uma movimento posterior que não foi agente da 2ª Grande Guerra). Essa pergunta fica no ar. Até que ponto podemos desculpar e aceitar os antigos nazis cujo destino nos é apresentado no final do filme, estando alguns dos quais ainda hoje vivos? Der Untergang é portanto, na minha opinião, um interessantíssimo questionar interno das culpas alemãs na Guerra e um filme que, consequentemente, nos faz reflectir muito sobre a natureza humana.
Classificação - 4,5 Estrelas Em 5
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