Realizado por Carlos Coelho da Silva
Com Sandra Barata Belo, Carla Chambel, Leonor Seixas, António Pedro Cerdeira
Estreou ontem, dia 4 de Dezembro, um filme inspirado na vida de Amália. Íamos escrever "sobre a vida de Amália", mas confessamos que depois de vermos o filme, não podemos afirmar ou acreditar que a fadista tenha levado uma vida tão trágica e assombrada quanto o filme quer transparecer. Não queremos com isto dizer, que o filme foi uma desilusão. Muito pelo contrário, este filme tem um resultado final muito positivo, por comparação ao que se tem vindo a fazer até aqui e vale mesmo a pena ver! O filme tenta agarrar-nos logo no primeiro momento. Amália está em Nova York, sozinha e já velha, prepara-se para saltar de um arranha-céus. Os planos vão saltando entre aquele tempo e as recordações de infância mais fortes da fadista: a separação da sua irmã Celeste, que parte para o Norte com os pais, deixando Amália em Lisboa com os Avós. Até que Amália desiste de se suicidar, quando houve uma voz do passado chamar pelo seu nome. Durante todo o filme, é com Celeste que Amália tem o elo mais forte. Celeste também canta, e embora chegue a ter ciúmes de Amália, o sentimento que as une é sempre mais forte do que tudo, e envelhecem juntas.
Durante todo o filme, Amália tenta suicidar-se por 4 vezes. Desde pequena até ser velha, é assombrada por um homem de chapéu que vai aparecendo durante todo o filme. Sempre que Amália o vê, vê também o ano de 1984. Não nos perguntem porque é que o homem aparece associado ao ano 1984, o filme acaba por não explicar. Mas pensamos que talvez, se o homem representar a morte que a vem buscar e que também ela acaba por perseguir através das sucessivas tentativas de suicídio, esse ano 1984 pode ser o ano representativo do final da sua carreira. Fica a dúvida. Amália é representada como uma mulher mal amada, sem sorte no amor. Moderna demais para o seu tempo e viciada em tabaco. A mãe finge não gostar dela, a irmã asmática acaba por morrer ainda em tenra idade, a família que só a vê pelo dinheiro. No amor, primeiro, entrega a sua virgindade a um guitarrista, que acaba por casar-se obrigado com ela; mais tarde quando já tinha carreira no fado e já divorciada, mantém uma relação secreta com Eduardo, um "menino riquinho" que a esconde por esta pertencer ao povo.
Entretanto Ricardo, um homem importante e rico mas casado, continua a declarar-lhe o seu amor e fascínio e a persegui-la pelos continentes; mas ela resiste-lhe por este ser casado. Chega a pedir a Deus para que este a faça amá-lo, por saber que só com ele poderia ser feliz. Mas logo quando decide corresponder ao amor de Ricardo, abandonando a relação secreta com Eduardo, acaba por encontrar Ricardo já morto no hospital. Mas não acaba aqui! Após a morte de Ricardo e farta da solidão e do desespero de se sentir assim tão só, decide aceitar o pedido de casamento de César, um brasileiro corista. Aqui, Ricardo Carriço faz de brasileiro. Um brasileiro que não convence ninguém, com um sotaque terrível. Aliás esta opção de fazer Carriço passar por brasileiro acaba por ser ridícula mas aguenta-se, mal mas aguenta-se.
Entrando assim nos pontos fracos do filme, para além do ridículo sotaque de Carriço, temos o sotaque dos pais e da irmã mais nova, a ridicularizarem por completo o sotaque do Norte, este aspecto foi bastante negativo logo no inicio do filme, poderia e deveria ter sido evitado. Outro aspecto negativo foi a caracterização da Amália enquanto velha, que embora por vezes em relances fosse mesmo parecida, por outras (que aniquilavam por completo os ângulos bem conseguidos) Amália parecia um travesti. A expressão é dura mas é a imagem literal. Foi de facto pena, que não soubessem insistir nos planos mais favoráveis, como também o facto de não terem investido numa caracterização boa para a Amália que surge no palco no pós 25 de Abril.
Outro aspecto que poderia ter sido evitado ou até cortado é a cena em que uma rapariga muçulmana e grávida (que também ninguém acredita que seja muçulmana) aborda Amália no mercado em Inglês, e diz-lhe que vai baptizar a sua criança com o nome da fadista. Foi uma maneira que achamos um pouco forçada, para justificar que a Fadista voltasse a cantar, depois de ter desistido durante ano e meio da carreira, quando se decidiu casar com César e culpar o fado pela sua infelicidade. O final do filme é marcado por duas frases, que a nosso ver também saíram um pouco forçadas: "Dizem que morreu em 1999 mas enganam-se" e acaba assim, num suspense já desgastado. Mas o balanço final em termos de ficção é positivo. O cinema português precisa de filmes que avancem e aumentem a fasquia. Aos poucos vamos conseguindo. Pena que tenha passado a ideia de uma Amália tão frágil, tão depressiva e obcecada pela morte, não queremos lembrá-la assim. Mas ainda bem que no final é esclarecido que o filme se baseia na vida de Amália de "forma livre". Bem hajas Amália, que abraçaste o xaile como se tivesses nos braços Portugal. Não só o tiveste como ainda o tens. Até sempre."
Crítica enviada por - http://www.tickets4three.blogspot.com/
Com Sandra Barata Belo, Carla Chambel, Leonor Seixas, António Pedro Cerdeira
Estreou ontem, dia 4 de Dezembro, um filme inspirado na vida de Amália. Íamos escrever "sobre a vida de Amália", mas confessamos que depois de vermos o filme, não podemos afirmar ou acreditar que a fadista tenha levado uma vida tão trágica e assombrada quanto o filme quer transparecer. Não queremos com isto dizer, que o filme foi uma desilusão. Muito pelo contrário, este filme tem um resultado final muito positivo, por comparação ao que se tem vindo a fazer até aqui e vale mesmo a pena ver! O filme tenta agarrar-nos logo no primeiro momento. Amália está em Nova York, sozinha e já velha, prepara-se para saltar de um arranha-céus. Os planos vão saltando entre aquele tempo e as recordações de infância mais fortes da fadista: a separação da sua irmã Celeste, que parte para o Norte com os pais, deixando Amália em Lisboa com os Avós. Até que Amália desiste de se suicidar, quando houve uma voz do passado chamar pelo seu nome. Durante todo o filme, é com Celeste que Amália tem o elo mais forte. Celeste também canta, e embora chegue a ter ciúmes de Amália, o sentimento que as une é sempre mais forte do que tudo, e envelhecem juntas.
Durante todo o filme, Amália tenta suicidar-se por 4 vezes. Desde pequena até ser velha, é assombrada por um homem de chapéu que vai aparecendo durante todo o filme. Sempre que Amália o vê, vê também o ano de 1984. Não nos perguntem porque é que o homem aparece associado ao ano 1984, o filme acaba por não explicar. Mas pensamos que talvez, se o homem representar a morte que a vem buscar e que também ela acaba por perseguir através das sucessivas tentativas de suicídio, esse ano 1984 pode ser o ano representativo do final da sua carreira. Fica a dúvida. Amália é representada como uma mulher mal amada, sem sorte no amor. Moderna demais para o seu tempo e viciada em tabaco. A mãe finge não gostar dela, a irmã asmática acaba por morrer ainda em tenra idade, a família que só a vê pelo dinheiro. No amor, primeiro, entrega a sua virgindade a um guitarrista, que acaba por casar-se obrigado com ela; mais tarde quando já tinha carreira no fado e já divorciada, mantém uma relação secreta com Eduardo, um "menino riquinho" que a esconde por esta pertencer ao povo.
Entretanto Ricardo, um homem importante e rico mas casado, continua a declarar-lhe o seu amor e fascínio e a persegui-la pelos continentes; mas ela resiste-lhe por este ser casado. Chega a pedir a Deus para que este a faça amá-lo, por saber que só com ele poderia ser feliz. Mas logo quando decide corresponder ao amor de Ricardo, abandonando a relação secreta com Eduardo, acaba por encontrar Ricardo já morto no hospital. Mas não acaba aqui! Após a morte de Ricardo e farta da solidão e do desespero de se sentir assim tão só, decide aceitar o pedido de casamento de César, um brasileiro corista. Aqui, Ricardo Carriço faz de brasileiro. Um brasileiro que não convence ninguém, com um sotaque terrível. Aliás esta opção de fazer Carriço passar por brasileiro acaba por ser ridícula mas aguenta-se, mal mas aguenta-se.
Entrando assim nos pontos fracos do filme, para além do ridículo sotaque de Carriço, temos o sotaque dos pais e da irmã mais nova, a ridicularizarem por completo o sotaque do Norte, este aspecto foi bastante negativo logo no inicio do filme, poderia e deveria ter sido evitado. Outro aspecto negativo foi a caracterização da Amália enquanto velha, que embora por vezes em relances fosse mesmo parecida, por outras (que aniquilavam por completo os ângulos bem conseguidos) Amália parecia um travesti. A expressão é dura mas é a imagem literal. Foi de facto pena, que não soubessem insistir nos planos mais favoráveis, como também o facto de não terem investido numa caracterização boa para a Amália que surge no palco no pós 25 de Abril.
Outro aspecto que poderia ter sido evitado ou até cortado é a cena em que uma rapariga muçulmana e grávida (que também ninguém acredita que seja muçulmana) aborda Amália no mercado em Inglês, e diz-lhe que vai baptizar a sua criança com o nome da fadista. Foi uma maneira que achamos um pouco forçada, para justificar que a Fadista voltasse a cantar, depois de ter desistido durante ano e meio da carreira, quando se decidiu casar com César e culpar o fado pela sua infelicidade. O final do filme é marcado por duas frases, que a nosso ver também saíram um pouco forçadas: "Dizem que morreu em 1999 mas enganam-se" e acaba assim, num suspense já desgastado. Mas o balanço final em termos de ficção é positivo. O cinema português precisa de filmes que avancem e aumentem a fasquia. Aos poucos vamos conseguindo. Pena que tenha passado a ideia de uma Amália tão frágil, tão depressiva e obcecada pela morte, não queremos lembrá-la assim. Mas ainda bem que no final é esclarecido que o filme se baseia na vida de Amália de "forma livre". Bem hajas Amália, que abraçaste o xaile como se tivesses nos braços Portugal. Não só o tiveste como ainda o tens. Até sempre."
Crítica enviada por - http://www.tickets4three.blogspot.com/
0 comentários :
Postar um comentário