sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Crítica - In Bruges (2008)

Realizado por Martin McDonagh
Com Colin Farrell, Brendan Gleeson, Ralph Fiennes, Clémence Poésy

A escola Tarantino começa a frutificar nas suas mais variadas e saborosas formas e o estilo Guy Ritchie anda em voga por estes dias. Snatch foi A CENA, e nos últimos meses Shoot'Em Up e este delicioso In Burges comprovam que a categoria comedy-thriller tem muito para dar. Tanto assim é, que Martin McDonagh, dramaturgo até agora, se estreia num comedy-thriller que por acaso saca a Colin Farrell a melhor interpretação desde "A Home at the End of the World".
A sinopse é simples: dois irlandeses (Ray e Ken - respectivamente Colin Farrell e Brendan Gleeson) que para sustento matam pessoas ali para os lados de Londres, são enviados para Bruges - é na Bélgica - com o objectivo de evitar que a polícia dê com eles, já que o mais novo e principiante, matou acidentalmente uma criança na sua missão carrasca. Quem os mandou para Burges foi o seu chefe, Harry (Ralph Fiennes), um vilão com princípios que não cede rigorosamente nada em situação alguma. Ken é um indivíduo calmo, deslumbrado com a beleza da cidade e com a sua história. Já Ray está desterrado, incomodado, excruciado e consumido pela culpa. Mas nada disto é tratado em dramalhices domesticadas e plásticas, bem pelo contrário. As situações hilárias somam-se e subtilmente. A natural psicose gandim dotada de um humor impecabilíssimo que se viu a Farrell no "Intermission" alia-se a uma panóplia de trejeitos faciais que caem na perfeição, consubstaciando o estado psicológico do malogrado Ray.


Para dramaturgo, McDonagh manifesta cinefilia QB: dentro do filme roda-se um outro, cujo actor conhecido por Ray e Ken é um anão deprimido que contrata prostitutas e tem trips onde se revela racista. Ray tem uma obsessão com anões cujo fundamento, apesar de angustiado, não impede que se gargalhe com as suas reacções. Nessa ambiência cinemática Ray engata uma dealer com um "ex" estúpido o suficiente para atacar outro homem com uma pistola munida de pólvora seca e permitir que o seu oponente lha saque das mãos e a dispare contra um dos seus olhos... Dá para perceber que aqui nada foi concebido para obedecer a coisa nenhuma que não seja contar a história num estilo muito próprio. A trama vai adensando e a ordem de Harry é dada a Ken: liquidar Ray. Até este exacto momento tudo está perfeito. Depois há pontas que se soltam, pouca elegância na conjugação das múltiplas personagens e situações. Alcançando-se somente a justa harmonia na sequência final: contrastam-se a beleza e a quietude das horas da noite no tal cenário onírico com o ajuste de contas do epílogo que Harry veio para saldar. No final: a redenção, qualquer que ela seja.
In Bruges vale o dinheiro do bilhete pelas gargalhadas da primeira metade. Ainda melhor: vale o dinheiro do bilhete pela cena em que Ray se senta ao lado de um tipo com um cão ao colo. O assassino e o canino olham-se nos olhos. A conjuntivite do segundo espelha a alma do primeiro. Não via uma cena deste calibre desde o monólogo inicial do Tom Wilkinson no Michael Clayton. Ainda que em registos 100% diferentes... Aqui há um 50/50 de drama e humor sublime. Vale o dinheiro do bilhete por n motivos. Ainda assim fica-se por aí: é bonzinho, uma agradável surpresa. Sobretudo porque as expectativas não eram elevadas.

Classificação - 3,5 Estrelas Em 5

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