Realizado por Dziga Vertov
Depois do fim da Primeira Guerra Mundial, aliados ao ritmo mecânico que vida ia tomando e à procura de uma ruptura com os sistemas mais convencionais das manifestações artísticas anteriores, surgiram diversos movimentos por toda a Europa conhecidos como os –ismos de vanguarda. Na Rússia, essa busca tomou vários caminhos, mas filho directo da Revolução de 1917 e preso às convicções políticas que a motivaram surgiu o importantíssimo movimento construtivista russo que procurava, nas diferentes manifestações da arte, uma arte útil que quebrasse a barreira das elites artísticas para chegar à verdade da vida na convicção de que habitavam agora num mundo novo, mecanizado, industrial e próximo do povo a quem deviam servir.
Em 1929, quando o movimento construtivista assumia já a maturidade e dentro do pensamento leninista de que o cinema era o meio por excelência de divulgação da nova ordem, surgiu Vertov com uma das primeiras obras-primas do cinema, O Homem da Câmara de Filmar, um filme-documentário sobre a vida quotidiana em Moscovo com cenários reais e pessoas verdadeiras. Esta obra procurava ser uma forma de comunicação cinematográfica universal, sem legendas intermédias, bastando-se a imagem a si mesma. Poético e viril na adesão à máquina, à produção industrial em série , à mecânica e acima de tudo ao ritmo do movimento vertiginoso que era o da cidade, O Homem da Câmara de Filmar é um filme-olho que tudo vê e tudo mostra mas que contém em si mesmo a contradição dos seus pressupostos. A organização das cenas pela montagem filtra a verdade, manipula-a e afasta-se assim voluntariamente do puro registo da realidade. Em relação à técnica utilizada esta obra lançou as bases do cinema como hoje o conhecemos.
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