sábado, 18 de outubro de 2008

Crítica - Max Payne (2008)

Realizado por John Moore
Com Mark Wahlberg, Mila Kunis, Beau Bridges, Donal Logue

Uma das novas modas de Hollywood é adaptar as histórias dos mais lucrativos e famosos videojogos ao cinema, infelizmente estas adaptações apresentam, no geral, pouca qualidade, ficando bem longe do nível qualitativo da sua base de inspiração. A maus exemplos do passado como “Resident Evil”, “Tomb Raider” ou “Alone in the Dark” junta-se agora “Max Payne”, um filme baseado na homónima saga de videojogos que desde 2001 tem cativado milhares de jogadores pelo mundo fora e que agora recebe uma adaptação cinematográfica bastante pobre em todas as áreas. A sua história centra-se no revoltado Max Payne (Mark Wahlberg), um polícia desertor que está determinado a encontrar o responsável pelo brutal assassinato da sua família e do seu parceiro. Nesta sua luta pela justiça, Max vai contar com a preciosa ajuda do seu mentor, B.B. Hensley (Beau Bridges), e da misteriosa assassina Mona Sax (Mila Kunis) que procura vingança pela brutal morte da irmã, no entanto, a vida deste grupo de justiceiros não será fácil já que a sua investigação ameaça os interesses da polícia, da máfia e de uma corporação sem escrúpulos. Cego pela vingança e pelo desejo de matar, Max embarca numa terrível viagem por um mundo de trevas no qual é forçado a lutar com inimigos para além do mundo natural e lidar com uma traição impensável.


Os videojogos “Max Payne” sempre pautaram pela excelência narrativa. Os vários jogos da saga sempre apresentaram uma história interessante e capaz de transportar o jogador para o obscuro mundo do protagonista. Infelizmente, o argumento do filme não acompanha essa patente qualidade já que apresenta um enredo bastante confuso que deriva de uma débil construção e idealização narrativa. Esta mostra-se incapaz de contextualizar e explicar as partes verdadeiramente interessantes e úteis da história, o que por sua vez impede uma clara percepção da lógica dos avanços e recuos de uma obra que se perde demasiadas vezes nas excessivas e mal construídas cenas de acção. No final, Max Payne consegue a sua vingança mas para trás ficaram inúmeras questões por responder, nomeadamente a lógica por detrás das personagens Mona Sax e Lupino e, acima de tudo, a forma exacta de como Max chegou onde chegou. Em suma, a única parte verdadeiramente clara e concreta do filme é a ideia de que Max Payne quer vingar a morte da sua família, no entanto, a forma como o faz é que se torna pouco perceptível.


Em termos visuais, John Moore até se esforçou na tentativa de recriar um ambiente semelhante ao dos videojogos, daí a aposta num ambiente recheado de sombras, fumo e pouca luz que nos faz relembrar os clássicos filmes noir. Infelizmente este ambiente é completamente estragado pelas cenas de acção que assumem uma completa falta de criatividade e emoção. Muitas dessas cenas apostam no efeito especial Slow Motion, uma inovação tecnológica/computorizada imortalizada pelos filmes “Matrix” mas que também foi amplamente usada pelos jogos da saga “Max Payne”, contudo este efeito especial não foi muito bem utilizado nas várias sequências de acção do filme, muito por culpa de John Moore que não soube refrear o seu uso. Outro problema destas cenas são a sua clara falta de credibilidade e emoção, é certo que num filme categoricamente comercial nunca se pode esperar o melhor, no entanto, tendo em conta a sua inspiração, esperava-se algo mais destas sequências que no fundo são um dos pontos fortes do videojogo e também deveriam ser do filme.


Na sua generalidade, o elenco do filme apresenta uma performance medíocre onde nenhum actor se consegue destacar pela positiva. Mark Wahlberg parecia apresentar o perfil ideal para interpretar o protagonista Max Payne. A sua fisionomia e a sua experiência em filmes do género levavam a crer que Wahlberg poderia ter aqui um dos seus melhores papeis, no entanto, tal não aconteceu muito por culpa do argumento desta obra mas também por culpa do próprio Wahlberg que nunca conseguiu assumir devidamente as características e sentimentos intrínsecos da sua personagem. Mila Kunis e Olga Kurylenko apresentam uma performance sofrível que condiz na perfeição com a insignificância das suas personagens que só servem para incorporar o elemento feminino no filme. O único actor que quase chega à nota positiva é Beau Bridges, o único membro do elenco secundário que realmente interessa à história. "Max Payne" é mais um caso em que Hollywood pegou num famoso videojogo e atribuiu-lhe uma péssima adaptação cinematográfica. Eu acho que começa a ficar provado que a indústria do cinema não consegue criar obras baseadas em videojogos que se aproximem sequer de um parâmetro aceitável de qualidade, no entanto, enquanto estas obras de baixo nível continuarem a serem rentáveis para a indústria do cinema, esta não parará de insultar indirectamente a qualidade da indústria rival e a inteligência dos próprios fãs dos videojogos.

Classificação - 2 Estrelas Em 5

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