Com Scarlett Johansson e Bill Murey
“Everyone wants to be find” é o slogan que anuncia e bem o filme cujo magistral argumento da própria Sofia Coppola aborda de uma forma muito subtil o vazio emocional que ocupa um grande espaço em muitos casamentos. Acompanhando o marido fotógrafo numa viagem de trabalho a Tóquio, Charlotte (Scarlett Johansson) vê-se obrigada a passar muito tempo sozinha no hotel onde estão hospedados o que lhe dá tempo para reflectir sobre o seu casamento que está muito longe de a satisfazer. É no bar desse hotel que conhece o actor Bob Harris (Bill Murey) que está de passagem por Tóquio para filmar um lucrativo anúncio a um whisky. Casado há vinte e cinco anos, Bob Harris também sente que o seu casamento, embora confortável e amistoso (a mulher envia-lhe faxes para o hotel para ele dar a sua opinião sobre a alcatifa do escritório) não o preenche afectivamente como desejaria. Tal panorama leva o espectador a imaginar logo uma história de amor entre os protagonistas, mas tal nunca chega a acontecer. Embora se descubram mutuamente ao logo do filme, partilhem segredos, carinhos e intimidade não existe entre eles uma relação erótica, ambos parecem se sentir presos ao seu próprio casamento e, quando Bob Harris opta pela traição física, é a cantora do bar que escolhe. Charlotte e Bob Harris são dois universos humanos que por uns dias e por pura coincidência se cruzam e se modificam de alguma forma. Pouca é, como se vê, a acção do filme mas isso não o torna aborrecido porque cada instante é um momento de sedução velada, um momento de descoberta de exposição do eu interior. Por outro lado, o exotismo de Tóquio, a aberração das imitações estéticas dos looks ocidentais, o glamour do meio artístico em que ambos os protagonistas se movem dá ao filme uma beleza rara.
Sofia Coppola recebeu a estatueta de Melhor Argumento Original com este filme, apenas o segundo da sua muito promissora carreira. Curioso é notar também que a belíssima Scarlett Johansson tinha apenas 19 anos a quando da rodagem do filme o que dá uma grande candura à sua sensualidade, Bill Murey por seu turno tinha 52 anos na altura. Este desfasamento de idades gera uma tensão erótica muito subtil no filme, pois embora nada se concretiza estão lá o adultério, o Édipo, a Lolita, vários dos fantasmas ainda não definitivamente exorcizados da nossa sexualidade. O que se perde na tradução é a impossibilidade de levar de regresso a casa os instantes aí vividos Lost in Translation, lamentavelmente traduzido para português por O Amor é um lugar estranho, está disponível em DVD numa edição Focus Features.
Classificação - 4,5 Estrelas Em 5
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