Nos últimos anos, têm vindo a ser produzidas algumas obras cinematográficas sobre a situação de alguns países africanos que sofrem com violentos governos ditatoriais e não menos violentos grupos rebeldes, alguns dos exemplos recentes englobam os filmes "Hotel Ruanda" e "Diamante de Sangue". Baseado num romance de Giles Foden, “The Last King Of Scotland” (O Último Rei da Escócia) é mais uma dessas produções que nos elucida sobre as violentas histórias que pautam o quotidiano da grande maioria dos países africanos, neste caso concreto aprofundamos uma das múltiplas sagas de violência do Uganda. Estamos perante uma descrição romanceada da ascensão ao poder de um dos mais violentos ditadores da história mundial mais recente, o General Idi Amin (Forest Whitaker) que, depois de conquistar o poder, espalhou uma onda de assassinatos que visava qualquer pessoa que criticasse o governo ou que levantasse suspeitas em relação à sua fidelidade perante o presidente. A história é contada sob o ponto de vista do jovem escocês Nicholas Garrigan (James McAvoy), um recém-formado em medicina que viaja até ao Uganda, não necessariamente para salvar o mundo ou os pobres flagelados do país mas para escapar do tédio do Reino Unido. Quando chega ao país, este mulherengo irremediável torna-se rapidamente no médico pessoal do presidente e no seu principal confidente, passando a testemunhar em primeira mão as atrocidades cometidas pelo novo líder da nação. A euforia do povo, incendiada pela esperança neste novo governo, contagia o médico que espera alcançar o máximo de poder possível mas quando o regime começa a ser fortemente contestado. Nicholas é apresentado às crises de consciência e às dúvidas existenciais que o levam a questionar o seu novo estilo de vida.
O filme gira em torno da ilusão, algo que inicialmente causa a euforia de ambas as personagens mas que posteriormente também provoca a sua decadência. Garrigan e Amin são de formações completamente diferentes mas a falta de maturidade une-os e destrói-os da mesma forma, no fundo estamos perante duas personagens desprezíveis que evoluem consoante a sua formação e capacidade mental. “The Last King Of Scotland” é dirigido pelo especialista em documentários Kevin Macdonald, um facto que influencia o filme, tornando-o mais informativo e significativo. A câmara perde a firmeza e ganha mobilidade entre os conflitos da história, os enquadramentos não convencionais fazem com que o espectador tenha a impressão de estar a ver algo que não deveria, como se de uma denúncia documental se tratasse. O desenvolvimento do argumento, assinado por Peter Morgan (The Queen), é escalativo, os personagens passam da euforia ao terror de uma forma rápida e totalmente justificada. Na verdade, a história em si é totalmente apoiada nos personagens e na relação entre os dois protagonistas.
O elenco é dominado pela fabulosa prestação de Forest Whitaker que assume na perfeição o difícil papel de Amin. Numa das suas melhores performances até à data, Whitaker consegue caracterizar Amin como um líder dependente e abastado que depende largamente do seu carisma para conquistar a simpatia e apoio da população e dos estrangeiros que estão no país, especialmente Garrigan. James McAvoy também brilha e convence o espectador mas a sua prestação é completamente ofuscada pelo óptimo trabalho de Forest Whitaker. O filme também apresenta alguns pontos negativos. Devido à sua longa duração, não deverá agradar a todo o tipo de espectadores que também poderão sentir-se ameaçados pelos temas do argumento porque o filme anda muito à volta da guerra, crueldade e jogos de poder. Somente uma pessoa que goste desse tipo de filmes é que consegue suportar a duração da produção e não se perder na complexa intriga e análise psicológica das personagens. O filme não é aconselhável a pessoas com estômagos ou emoções fracas mas é uma obra que vale a pena, nem que seja pela interpretação de Whitaker.
Classificação - 4 Estrelas Em 5
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