Com Angelina Jolie,Robin Wright, Anthony Hopkins, Sonje Fortag.
Robert Zemeckis de regresso. Esforço inspirado, fortemente direccionado para o público-alvo que parece dominar as salas de cinema mundiais, tecnologicamente superior, narrativa épica… tudo condimentos mais do que suficientes para o sucesso. O resultado, porém, parece-me diferente. Beowulf assume-se como um filme épico, reunindo os ingredientes indispensáveis para uma daquelas deliciosas caldeiradas de efeitos especiais com sabor a Grécia antiga. Beowulf é na verdade uma adaptação para cinema de um poema épico escrito em Inglês Arcaico (Old English) de autoria incerta. O dito poema é mesmo considerado como sendo a mais antiga forma de expressão escrita em língua Inglesa (ou aquilo que viria a ser a língua Inglesa), sendo comummente atribuído ao século VII d.C., retratando os feitos heróicos de um herói Nórdico chamado Beowulf durante as campanhas migratórias a caminho do território que viria a ser inglês. É certo que há outras opiniões, mas a ideia central é que o poema terá sido transmitido no território Inglês por descendentes do povo desse herói. É portanto um poema de lendas, de tempos em que realmente haveria o confronto entre os valores de um passado guerreiro e um presente em que os "reis" se começariam a assumir como fontes de poder e estabilidade.
Zemeckis, juntamente com Neil Gaiman (prolífico escritor inglês e autor principal do argumento), parece ter tido muito cuidado com o tratamento destas questões, algo que valoriza o filme. No entanto, essa atenção por si só é limitativa… Zemeckis falha no essencial: fazer de Beowulf e dos seus protagonistas personagens complexas e pluri-dimensionais. O resultado é um bom pedaço de entretenimento, "à-là-hollywood", com imensos momentos de tensão, acção, efeitos especiais… mas um produto vazio e sem margem de desenvolvimento de sentimentos, tensões emocionais. As personagens saiem bem definidas visualmente, mas sem arestas limadas psicologicamente. No mínimo, esperar-se-ia que não fosse o aparato tecnológico a conquistar a audiência (que conquista!), mas sim a dimensão humana que o épico sempre exaltou (recorde-se os belíssimos épicos literários, onde o ser humano é sublimado!).
O argumento de Neil Gaiman, com parceria de Roger Avary, está muito bem limado. Recria de forma leve, interessante e didáctica (repare-se no recurso a uma forma simplificada de Old English nas linhas de Grendel e sua mãe) o universo original de Beowulf e acaba por recuperar alguns dos pontos centrais que compõem as personagens. Contudo, a prevalência de cenas de acção dominadas por violência gratuita (é certo que seriam tempos violentos) e a tecnologia levada ao excesso, passando pela aposta em em jogos de câmara inuteís e sem qualquer dimensão crítica, desvalorizam o filme. No fim, resta-nos um Zemeckis que continua a procurar o espaço do seu "pai" cinematográfico, Steven Spielberg, continuando a apostar nos modelos familiares que tão bem caracterizam a indústria de Hollywood. Em suma, Beowulf é sem dúvida inovador, dado o recurso a tecnologia 3-D de alta definição e animação que se assume como de ponta. Visualmente, o filme funciona muito bem mesmo, já que esteticamente Zemeckis consegue ser sublime, mais ainda quando põe a técnica ao serviço da criatividade. No entanto, Beowulf não convence.
Classificação - 2 Estrelas Em 5
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