Com John Cusack, Luke Evans, Alice Eve
James McTeigue foi o homem que nos trouxe “V For Vendetta”, o ambicioso e muito interessante filme futurista que colocou Natalie Portman e Hugo Weaving (este por detrás de uma máscara do icónico Guy Fawkes) a combaterem contra um regime político extremamente autoritário. Essa obra de 2005 foi um sucesso (crítico e comercial) tremendo, o que abriu as portas da ribalta a um cineasta que até então nunca havia assumido as rédeas da realização. McTeigue conseguiu fazer de “V For Vendetta” uma obra tão apelativa que as comparações com os Irmãos Wachowski (que tinham assinado o argumento) não tardaram a surgir. E isto foi essencialmente o que nos levou a conferir uma oportunidade a “The Raven”. Mais do que vermos como o escritor do séc. XIX Edgar Allan Poe se safava na pele de um detetive em busca de respostas, estávamos curiosos para ver se James McTeigue ainda possuía a chama de génio que tanto furor fizera em 2005. Infelizmente, a verdade é que essa chama se extinguiu. Ou se não se extinguiu por completo, pelo menos encontra-se moribunda. Pois apesar de não ser um desastre de proporções bíblicas, “The Raven” deixa mesmo muito a desejar, sendo tão enfadonho e académico como forçado e pouco verosímil.
A narrativa apresenta-nos um Edgar Allan Poe (John Cusack) em fase decadente da carreira outrora brilhante e promissora. Passando mais tempo a esvaziar copos na taberna do que a escrever sonetos extasiantes, o poeta vive zangado com o mundo que o rodeia e faz das tripas coração para ver um dos seus textos publicados no jornal dirigido por Maddux (Kevin McNally). De resto, a sua vida amorosa também não vai de vento em popa, já que conquistou o coração da bela e amável Emily Hamilton (Alice Eve), mas simplesmente não consegue convencer o pai desta – o Capitão Hamilton interpretado por Brendan Gleeson – de que é o homem indicado para desposar a sua única filha. Este é o ponto em que a sua vida se encontra quando misteriosos (e brutais) homicídios começam a atormentar a pacata cidade de Baltimore. Um implacável serial killer parece estar a inspirar-se nos contos sangrentos de Poe para degolar e estripar vítimas sem ligação aparente. E apercebendo-se disto mesmo, o destemido Detetive Fields (Luke Evans) decide recorrer aos préstimos do poeta para tentar antecipar os movimentos do assassino e desmascará-lo de uma vez. Mas será Edgar Allan Poe suficientemente expedito para interpretar as charadas do assassino e adivinhar os seus intentos diabólicos?
O grande problema de “The Raven” é que é perfeitamente vulgar do início até ao fim. Aparte alguns pormenores técnicos de importância menor e uma ou outra cena mais arrojada ou criativamente interessante, nunca chega a acontecer algo que impressione realmente o espectador e retire a película da abjeta vulgaridade. “The Raven” torna-se cada vez mais aborrecido à medida que o tempo passa, e isso deve-se essencialmente a uma narrativa demasiado forçada e a uma química entre personagens bastante frágil e pouco convincente. A nível de fotografia, de guarda-roupa e de direção artística, “The Raven” encontra-se até acima da média, inserindo o espectador em cenários realistas e quase palpáveis. Mas praticamente tudo o resto acaba por falhar, dando a sensação de que os recursos fornecidos pelos produtores não foram bem aproveitados. A suposta amizade que se constrói entre Poe e o Detetive Fields não convence ninguém, e logo aí o filme falha, porque aposta demasiado no carisma de uma relação que não funciona. John Cusack também não ajuda à festa, pois não consegue fazer de Poe a personagem forte e carismática que se impunha. De facto, Cusack parece interpretar todas as personagens da sua carreira da mesma maneira, assumindo-se como um ator faz-tudo que não é péssimo, mas que também não é nada de especial. A certa altura a narrativa parece começar a progredir em modo de piloto-automático, como algo que não está a correr bem mas que tem de ser levado até ao fim porque o contrato está assinado. E James McTeigue não teve desta vez o olho para dar a volta às contrariedades, regressando à ribalta com uma obra menor que só poderá denegrir a sua imagem enquanto cineasta.
Classificação – 2,5 Estrelas em 5