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terça-feira, 9 de junho de 2009

Crítica - Doubt (2008)

Realizado por John Patrick Shanley
Com Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams

Dúvida. Incerteza. Desconfiança. Incredulidade. Objecção. Eis aqui alguns sinónimos de um único sentimento capaz de destruir vidas, que está presente e que caminha na sociedade, mudando rotas e abrindo caminhos para novas decisões, sejam elas benéficas ou não. Sem sombra de dúvidas é contrito o facto de como o cérebro e o coração são capazes de confundir o Ser Humano, num jogo de “Razão Vs. Emoção”. Um pequeno acto ou impulso pode tornar-se um passo para o julgamento e, incertezas à parte, a curiosidade que nos aguça e o desejo que temos de desvendar algo que nos mortifica é grande, a ponto de ultrapassarmos o limite psíquico humano e provocar momentos únicos, prazerosos e egocêntricos.
Dúvida, um título minúsculo e simples para um filme, porém recheado de infindáveis explicações, relata ainda mais esta questão por se passar inteiramente em 1964, dentro de uma escola paroquiana. Directora da Saint Nicholas, a Irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep, numa interpretação memorável e convicta) é uma pessoa muito rígida e acredita que através do medo e da disciplina fará com que a educação juvenil seja eficiente. Em contrapartida, padre Flynn (Philip Seymour Hoffman, indiscutível) faz de tudo para quebrar algumas regras burocráticas dessa sociedade, exorcizando os rígidos costumes da escola. No meio-termo está a Irmã James (Amy Adams), a pura-alma e ingénua do local, capaz de cegar-se sobre certos assuntos, mantendo consigo a paz espiritual.
A chegada do jovem Donald Miller, o primeiro rapaz negro aceito em Saint Nicholas (por causa das constantes mudanças políticas da época), faz com que as pragas mundanas despertem. Devido ao preconceito sofrido pelo rapaz e sua difícil adaptação, o Padre Flynn torna-se no seu único amigo e confidente, mas certas atitudes presenciadas pela Irmã James a fazem relatar tais pontos de vista à directora – interesse que também lhe trará crédito, pois já havia sido criticada por não expor os problemas da sala de aula para um superior. Após constante interrogatório e fofocas entre as Irmãs, o Padre, “vítima” desta imprudência, é perseguido pela directora, que impõe sua decisão de expulsá-lo da escola a todo custo. Estamos obviamente a falar de pedofilia mas em nenhum momento este problema é mencionado directamente e objectivamente, o que faz com que nenhuma criança entenda a história real do filme. O argumento bem elaborado (que concorreu ao Óscar 2009) mostra-nos a visão de um Padre amigo que tem a intenção de ajudar, a luta de uma mulher que almeja poder e sua mente atormentada pela (in)certeza de um episódio imperdoável e da luta de James, que teme a frieza da directora mas que quer acreditar no bom coração de um homem livre de crendices. O ponto alto da dúvida na trama dá-se no momento em que a Irmã Aloysius conversa com a mãe de Donald (Viola Davis, esbanjando confiança e perfeita interpretação), conversa que deixa qualquer um de boca aberta, pelo grande realismo vivido numa mundo social que muitos desconhecem.
Excelente até mesmo no seu desfecho final, Dúvida esclarece, ao mesmo tempo em que deixa uma dúvida pairando no ar, de acordo com a história que quer descrever, mas aprofunda-se mais nas questões humanas, fazendo-nos mergulhar e observar que até mesmo no mundo religioso todos são providos de ganância, poder, falsidade, ignorância, preconceito, injustiça, corrupção e dúvida. É o Ser Humano disfarçado sob sua melhor máscara.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

Crítica - Doubt (2008)

Realizado por John Patrick Shanley
Com Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams

Dúvida. Incerteza. Desconfiança. Incredulidade. Objecção. Eis aqui alguns sinónimos de um único sentimento capaz de destruir vidas, que está presente e que caminha na sociedade, mudando rotas e abrindo caminhos para novas decisões, sejam elas benéficas ou não. Sem sombra de dúvidas é contrito o facto de como o cérebro e o coração são capazes de confundir o Ser Humano, num jogo de “Razão Vs. Emoção”. Um pequeno acto ou impulso pode tornar-se um passo para o julgamento e, incertezas à parte, a curiosidade que nos aguça e o desejo que temos de desvendar algo que nos mortifica é grande, a ponto de ultrapassarmos o limite psíquico humano e provocar momentos únicos, prazerosos e egocêntricos.
Dúvida, um título minúsculo e simples para um filme, porém recheado de infindáveis explicações, relata ainda mais esta questão por se passar inteiramente em 1964, dentro de uma escola paroquiana. Directora da Saint Nicholas, a Irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep, numa interpretação memorável e convicta) é uma pessoa muito rígida e acredita que através do medo e da disciplina fará com que a educação juvenil seja eficiente. Em contrapartida, padre Flynn (Philip Seymour Hoffman, indiscutível) faz de tudo para quebrar algumas regras burocráticas dessa sociedade, exorcizando os rígidos costumes da escola. No meio-termo está a Irmã James (Amy Adams), a pura-alma e ingénua do local, capaz de cegar-se sobre certos assuntos, mantendo consigo a paz espiritual.
A chegada do jovem Donald Miller, o primeiro rapaz negro aceito em Saint Nicholas (por causa das constantes mudanças políticas da época), faz com que as pragas mundanas despertem. Devido ao preconceito sofrido pelo rapaz e sua difícil adaptação, o Padre Flynn torna-se no seu único amigo e confidente, mas certas atitudes presenciadas pela Irmã James a fazem relatar tais pontos de vista à directora – interesse que também lhe trará crédito, pois já havia sido criticada por não expor os problemas da sala de aula para um superior. Após constante interrogatório e fofocas entre as Irmãs, o Padre, “vítima” desta imprudência, é perseguido pela directora, que impõe sua decisão de expulsá-lo da escola a todo custo. Estamos obviamente a falar de pedofilia mas em nenhum momento este problema é mencionado directamente e objectivamente, o que faz com que nenhuma criança entenda a história real do filme. O argumento bem elaborado (que concorreu ao Óscar 2009) mostra-nos a visão de um Padre amigo que tem a intenção de ajudar, a luta de uma mulher que almeja poder e sua mente atormentada pela (in)certeza de um episódio imperdoável e da luta de James, que teme a frieza da directora mas que quer acreditar no bom coração de um homem livre de crendices. O ponto alto da dúvida na trama dá-se no momento em que a Irmã Aloysius conversa com a mãe de Donald (Viola Davis, esbanjando confiança e perfeita interpretação), conversa que deixa qualquer um de boca aberta, pelo grande realismo vivido numa mundo social que muitos desconhecem.
Excelente até mesmo no seu desfecho final, Dúvida esclarece, ao mesmo tempo em que deixa uma dúvida pairando no ar, de acordo com a história que quer descrever, mas aprofunda-se mais nas questões humanas, fazendo-nos mergulhar e observar que até mesmo no mundo religioso todos são providos de ganância, poder, falsidade, ignorância, preconceito, injustiça, corrupção e dúvida. É o Ser Humano disfarçado sob sua melhor máscara.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Crítica - Doubt (2008)

Realizado por John Patrick Shanley
Com Philip Seymour Hoffman, Meryl Streep, Amy Adams

O encenador e guionista John Patrick Shanley, estreia-se na realização cinematográfica com este “Doubt”, uma fiel adaptação da bem sucedida peça de teatro, escrita e dirigida pelo próprio Shanley. Em 2004 este talentoso encenador norte-americano estreou no circuito off-Broadway a polémica peça “Doubt: A Parable”, uma encenação teatral que lidava com inúmeras temáticas polémicas como a relação da pedofilia e homossexualidade com a Igreja Católica. Após inúmeros elogios e críticas positivas, a peça transitou para a Broadway em 2005, tendo posteriormente vencido importantes prémios pelo seu polémico texto, entre os vários galardões conquistados destaca-se o Tony e o Pulitzer. No final de 2007, John Patrick Shanley juntou-se ao produtor Scott Rudin e aos estúdios Miramax para adaptar esta sua famosa peça de teatro ao cinema e o resultado final desta parceria, encontra-se finalmente em exibição em Portugal após ter surpreendido a crítica norte-americana que premiou este filme com alguns prémios e nomeações de destaque.
O filme leva-nos até à Nova York de 1964, mais precisamente até ao bairro Bronx onde encontramos uma congregação católica que vive uma época de conflito entre o visionário padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman) e a rígida freira Aloysius Beauvier (Meryl Streep), directora da escola St. Nicholas. Esta situação conflituosa entre duas proeminentes figuras da comunidade católica do Bronx, começou após uma missa celebrada pelo padre Flyn, onde este incorporou um pequeno sermão sobre a dúvida e a incerteza, algo que desagradou profundamente à freira Aloysius que passou a questionar a fé e o comportamento do padre. Na tentativa de provar as suas suspeitas, Aloysius pede à ingénua irmã/freira James (Amy Adams) que observe com atenção os comportamentos dos alunos, na tentativa de encontrar um indício que comprove uma má conduta do sacerdote e quando esta revela-lhe que o padre Flynn presta demasiada atenção a um dos rapazes da escola, a directora acredita ter encontrado o que precisava para desmascarar e afastar Flyn da congregação e do mundo religioso. A irmã Aloysius não tem nenhuma prova concreta mas a dúvida instala-se e vai dividir irremediavelmente a comunidade.

Como se pode comprovar pelo resumo narrativo previamente efectuado, a história de “Doubt” assenta fundamentalmente no intenso duelo titânico entre a irmã Aloysius e o padre Flyn, duas personagens brilhantemente construídas que apesar de pertencerem ao mesmo meio religioso, assumem personalidades completamente distintas. Dum lado temos a irmã Aloysius, uma pessoa bastante reservada e tradicional que rege a sua vida e a sua escola pelos princípios rígidos e imutáveis da igreja católica sem nunca os questionar, no outro lado praticamente oposto temos o padre Flyn, um religioso moderado que prefere pautar a sua vida pelos ideias de flexibilidade e modernidade, contradizendo por vezes os ensinamentos mais rígidos do Vaticano. Este choque de fé e personalidade resulta num interessante duelo dogmático e psicológico sobre a vida religiosa e sobre a actualidade da sua conduta e pensamento, de certa forma o filme contrapõem duas correntes que ainda hoje são defendidas pelos vários sectores do catolicismo. O conflito entre as duas personagens torna-se ainda mais apetecível com a inclusão da pedofilia, um problemático tema que tem minado constantemente a reputação da Igreja Católica. A partir deste momento, inicia-se uma verdadeira jornada de dúvida e incerteza, exteriorizada na divisão da congregação em dois lados, os apoiantes do padre e os apoiantes da freira. Entre ataques e defesas dos dois lados, o filme explica as fundamentações inquisitórias sem prova da irmã Aloysius que parecem conter uma certa lógica, no entanto, todos os ataques contra o padre Flyn são fortemente refutados e de certa forma explicados, (Spoiler Alert) o que cria um intenso clima de dúvida que nunca se dissolve já que no final,o padre é promovido e transferido para outra localização sem que nada seja provado. No entanto, através dos vários diálogos e acções das personagens, podemos implicitamente tecer alguns juízos que podem conduzir a uma conclusão meramente pessoal.
Para além deste intenso duelo que culmina numa magnífica cena onde as duas personagens protagonizam um confronto verbal soberbo, existe outro duelo mais secundário mas igualmente importante entre as personalidades e mentalidades da irmã Aloysius e da irmã James. Neste particular confronto mental, contrapõem-se a rigidez e a descrença da irmã Aloysius nas atitudes de terceiros com a amabilidade e inocência da irmã James que na sua mais íntima pureza, acredita sempre na inocência de terceiros, até prova em contrário. Ora estes duelos e fortes diálogos que deles advêm, permite-nos conhecer um pouco melhor as três principais personagens do filme e todos os seus problemas e dúvidas interiores, é claro que o maior destaque é dado à irmã Aloysius e às suas diferentes camadas de personalidade, uma exterior que é rígida e solene e outra interior que nos apresenta uma freira manipulador e extremamente preconceituosa.
Às principais problemáticas discutidas e abordadas pelo argumento, juntam-se outras mais laterais mas igualmente importantes. Neste campo narrativo secundário, destaco sem surpresa a homossexualidade inerentemente ligada à pedofilia e exteriorizada pelo jovem que é supostamente molestado pelo padre Flyn. O tema nunca é directamente puxado pelas conversas porque é compreensivelmente abafado pelo escândalo da pedofilia, no entanto está subjacente a esse hediondo crime e às suas repercussões no jovem rapaz que através do magnífico diálogo entre a sua mãe e a irmã Aloysius, é retratado como um aluno difícil e presumivelmente gay. Sobre este jovem também recaiu outra temática, a raça. Durante o filme são bem patentes os problemas que a sua cor de pele provoca na escola, nomeadamente na directora que não vê com bons olhos a presença de um rapaz negro na sua instituição. Não nos podemos esquecer que a história do filme passa-se em 1964, uma época difícil para os EUA e para o Mundo que ainda recupera da fatídica morte do presidente J.F.Kennedy e que ainda mantém um elevado número de estereótipos e preconceitos, no seio da sociedade e da igreja. Esse ambiente negro e incerto é bem retratado pelo filme que não poupa referências aos muitos problemas da época.

Ao brilhante argumento junta-se um talentoso elenco que transmite maravilhosamente ao público, a profunda história deste portentoso drama. Foi neste conjunto de actores e actrizes que recaiu a grande responsabilidade de transmitir na perfeição ao espectador, uma história polémica pautada por um clima de dúvida permanente. Essa responsabilidade foi assumida com grande talento e qualidade por todo o elenco sem excepção mas entre os vários profissionais que participaram no filme, destaco as grandes prestações de Philip Seymour Hoffman, Meryl Streep, Amy Adams e Viola Davis. A experiente Meryl Streep dá vida à irmã Aloysius, uma personagem complexa que representa o centro da história e que foi bem assumida pela talentosa Streep que mantém o profissionalismo e carisma do passado sem nunca descurar na vertente emocional. Philip Seymour Hoffman também nos fornece uma prestação de qualidade que é claramente pautada pela subjectividade, porque a sua personagem pode ser vista como um vilão ou como um mártir. O elenco secundário é marcado pela pequena participação de Viola Davis que apesar de só participar numa cena, consegue marcar o espectador com a sua intensidade emocional e amplo realismo. A jovem actriz Amy Adams, um dos grandes nomes da nova geração de actores, também nos brinda com uma grande prestação que nos mostra um faceta mais dramática e profissional da actriz. Em suma, todo o elenco assume uma prestação bastante positiva mas estes quatro actores destacam-se pela sua qualidade extraordinária que recentemente foi reconhecida pela Academia, que nomeou este quarteto para as categorias de representação dos Óscares.
O realizador/guionista John Patrick Shanley não pretende com este filme atacar concretamente a igreja católica e as suas crenças, pretende sim apresentar uma história intensa sobre preconceitos e dúvidas que marcam presença no enredo do princípio ao fim e que acabam por não ter qualquer conclusão explicita. Pelo meio da interessante história, encontramos cenas de elevada intensidade e qualidade, apimentadas por diálogos intelectualmente subjectivos de grande valor narrativo. Em suma, “Doubt” é um magnífico drama que através de uma incrível narrativa, brilhantemente interpretada por um maravilhoso elenco, consegue realçar algumas questões importantes da nossa sociedade e da nossa fé.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

Crítica - Doubt (2008)

Realizado por John Patrick Shanley
Com Philip Seymour Hoffman, Meryl Streep, Amy Adams

O encenador e guionista John Patrick Shanley, estreia-se na realização cinematográfica com este “Doubt”, uma fiel adaptação da bem sucedida peça de teatro, escrita e dirigida pelo próprio Shanley. Em 2004 este talentoso encenador norte-americano estreou no circuito off-Broadway a polémica peça “Doubt: A Parable”, uma encenação teatral que lidava com inúmeras temáticas polémicas como a relação da pedofilia e homossexualidade com a Igreja Católica. Após inúmeros elogios e críticas positivas, a peça transitou para a Broadway em 2005, tendo posteriormente vencido importantes prémios pelo seu polémico texto, entre os vários galardões conquistados destaca-se o Tony e o Pulitzer. No final de 2007, John Patrick Shanley juntou-se ao produtor Scott Rudin e aos estúdios Miramax para adaptar esta sua famosa peça de teatro ao cinema e o resultado final desta parceria, encontra-se finalmente em exibição em Portugal após ter surpreendido a crítica norte-americana que premiou este filme com alguns prémios e nomeações de destaque.
O filme leva-nos até à Nova York de 1964, mais precisamente até ao bairro Bronx onde encontramos uma congregação católica que vive uma época de conflito entre o visionário padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman) e a rígida freira Aloysius Beauvier (Meryl Streep), directora da escola St. Nicholas. Esta situação conflituosa entre duas proeminentes figuras da comunidade católica do Bronx, começou após uma missa celebrada pelo padre Flyn, onde este incorporou um pequeno sermão sobre a dúvida e a incerteza, algo que desagradou profundamente à freira Aloysius que passou a questionar a fé e o comportamento do padre. Na tentativa de provar as suas suspeitas, Aloysius pede à ingénua irmã/freira James (Amy Adams) que observe com atenção os comportamentos dos alunos, na tentativa de encontrar um indício que comprove uma má conduta do sacerdote e quando esta revela-lhe que o padre Flynn presta demasiada atenção a um dos rapazes da escola, a directora acredita ter encontrado o que precisava para desmascarar e afastar Flyn da congregação e do mundo religioso. A irmã Aloysius não tem nenhuma prova concreta mas a dúvida instala-se e vai dividir irremediavelmente a comunidade.

Como se pode comprovar pelo resumo narrativo previamente efectuado, a história de “Doubt” assenta fundamentalmente no intenso duelo titânico entre a irmã Aloysius e o padre Flyn, duas personagens brilhantemente construídas que apesar de pertencerem ao mesmo meio religioso, assumem personalidades completamente distintas. Dum lado temos a irmã Aloysius, uma pessoa bastante reservada e tradicional que rege a sua vida e a sua escola pelos princípios rígidos e imutáveis da igreja católica sem nunca os questionar, no outro lado praticamente oposto temos o padre Flyn, um religioso moderado que prefere pautar a sua vida pelos ideias de flexibilidade e modernidade, contradizendo por vezes os ensinamentos mais rígidos do Vaticano. Este choque de fé e personalidade resulta num interessante duelo dogmático e psicológico sobre a vida religiosa e sobre a actualidade da sua conduta e pensamento, de certa forma o filme contrapõem duas correntes que ainda hoje são defendidas pelos vários sectores do catolicismo. O conflito entre as duas personagens torna-se ainda mais apetecível com a inclusão da pedofilia, um problemático tema que tem minado constantemente a reputação da Igreja Católica. A partir deste momento, inicia-se uma verdadeira jornada de dúvida e incerteza, exteriorizada na divisão da congregação em dois lados, os apoiantes do padre e os apoiantes da freira. Entre ataques e defesas dos dois lados, o filme explica as fundamentações inquisitórias sem prova da irmã Aloysius que parecem conter uma certa lógica, no entanto, todos os ataques contra o padre Flyn são fortemente refutados e de certa forma explicados, (Spoiler Alert) o que cria um intenso clima de dúvida que nunca se dissolve já que no final,o padre é promovido e transferido para outra localização sem que nada seja provado. No entanto, através dos vários diálogos e acções das personagens, podemos implicitamente tecer alguns juízos que podem conduzir a uma conclusão meramente pessoal.
Para além deste intenso duelo que culmina numa magnífica cena onde as duas personagens protagonizam um confronto verbal soberbo, existe outro duelo mais secundário mas igualmente importante entre as personalidades e mentalidades da irmã Aloysius e da irmã James. Neste particular confronto mental, contrapõem-se a rigidez e a descrença da irmã Aloysius nas atitudes de terceiros com a amabilidade e inocência da irmã James que na sua mais íntima pureza, acredita sempre na inocência de terceiros, até prova em contrário. Ora estes duelos e fortes diálogos que deles advêm, permite-nos conhecer um pouco melhor as três principais personagens do filme e todos os seus problemas e dúvidas interiores, é claro que o maior destaque é dado à irmã Aloysius e às suas diferentes camadas de personalidade, uma exterior que é rígida e solene e outra interior que nos apresenta uma freira manipulador e extremamente preconceituosa.
Às principais problemáticas discutidas e abordadas pelo argumento, juntam-se outras mais laterais mas igualmente importantes. Neste campo narrativo secundário, destaco sem surpresa a homossexualidade inerentemente ligada à pedofilia e exteriorizada pelo jovem que é supostamente molestado pelo padre Flyn. O tema nunca é directamente puxado pelas conversas porque é compreensivelmente abafado pelo escândalo da pedofilia, no entanto está subjacente a esse hediondo crime e às suas repercussões no jovem rapaz que através do magnífico diálogo entre a sua mãe e a irmã Aloysius, é retratado como um aluno difícil e presumivelmente gay. Sobre este jovem também recaiu outra temática, a raça. Durante o filme são bem patentes os problemas que a sua cor de pele provoca na escola, nomeadamente na directora que não vê com bons olhos a presença de um rapaz negro na sua instituição. Não nos podemos esquecer que a história do filme passa-se em 1964, uma época difícil para os EUA e para o Mundo que ainda recupera da fatídica morte do presidente J.F.Kennedy e que ainda mantém um elevado número de estereótipos e preconceitos, no seio da sociedade e da igreja. Esse ambiente negro e incerto é bem retratado pelo filme que não poupa referências aos muitos problemas da época.

Ao brilhante argumento junta-se um talentoso elenco que transmite maravilhosamente ao público, a profunda história deste portentoso drama. Foi neste conjunto de actores e actrizes que recaiu a grande responsabilidade de transmitir na perfeição ao espectador, uma história polémica pautada por um clima de dúvida permanente. Essa responsabilidade foi assumida com grande talento e qualidade por todo o elenco sem excepção mas entre os vários profissionais que participaram no filme, destaco as grandes prestações de Philip Seymour Hoffman, Meryl Streep, Amy Adams e Viola Davis. A experiente Meryl Streep dá vida à irmã Aloysius, uma personagem complexa que representa o centro da história e que foi bem assumida pela talentosa Streep que mantém o profissionalismo e carisma do passado sem nunca descurar na vertente emocional. Philip Seymour Hoffman também nos fornece uma prestação de qualidade que é claramente pautada pela subjectividade, porque a sua personagem pode ser vista como um vilão ou como um mártir. O elenco secundário é marcado pela pequena participação de Viola Davis que apesar de só participar numa cena, consegue marcar o espectador com a sua intensidade emocional e amplo realismo. A jovem actriz Amy Adams, um dos grandes nomes da nova geração de actores, também nos brinda com uma grande prestação que nos mostra um faceta mais dramática e profissional da actriz. Em suma, todo o elenco assume uma prestação bastante positiva mas estes quatro actores destacam-se pela sua qualidade extraordinária que recentemente foi reconhecida pela Academia, que nomeou este quarteto para as categorias de representação dos Óscares.
O realizador/guionista John Patrick Shanley não pretende com este filme atacar concretamente a igreja católica e as suas crenças, pretende sim apresentar uma história intensa sobre preconceitos e dúvidas que marcam presença no enredo do princípio ao fim e que acabam por não ter qualquer conclusão explicita. Pelo meio da interessante história, encontramos cenas de elevada intensidade e qualidade, apimentadas por diálogos intelectualmente subjectivos de grande valor narrativo. Em suma, “Doubt” é um magnífico drama que através de uma incrível narrativa, brilhantemente interpretada por um maravilhoso elenco, consegue realçar algumas questões importantes da nossa sociedade e da nossa fé.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5