domingo, 1 de abril de 2012

Crítica - Wrath of the Titans (2012)

Realizado por Jonathan Liebesman
Com Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Rosamund Pike

Raramente nos deparamos com situações em que as sequelas suplantam o filme original. Quando o ponto de partida já é periclitante e não apresenta as fundações necessárias para se construir uma estrutura sólida, dificilmente se encontram maneiras de dar a volta à situação e superar o material de base. No entanto, quanto mais não seja pela esperança de que os envolvidos tenham aprendido a lição e corrigido os erros anteriormente efectuados, entramos sempre na sala de cinema dispostos a dar uma segunda oportunidade a uma história que havia já fracassado. Oitenta ou noventa por cento das vezes essas esperanças caem por terra como um frágil castelo de cartas e chegamos finalmente à conclusão de que aquele material já não tem salvação possível. E, infelizmente, este “Wrath of the Titans” não foi capaz de se inserir nos dez ou vinte por cento que fogem a esta regra miserável. De facto, se esta continuação das mitológicas aventuras de Perseus estivesse ao nível da epopeia original já não podíamos falar de uma grande proeza, dada a mediania desta última. Mas o problema é que “Wrath of the Titans” consegue ser ainda mais enfadonho e insatisfatório que “Clash of the Titans”, pelo que a mudança de realizador não trouxe nada de vantajoso. É certo que os efeitos especiais são de topo e que a conceptualização de algumas personagens mitológicas é de encher o olho, mas isto nunca foi e nunca será mais do que suficiente para dar vida a uma obra minimamente satisfatória a todos os níveis.



Passados alguns anos desde a última grande empreitada para salvar o mundo do apocalipse, Perseus (Sam Worthington) tem um filho chamado Helius (John Bell) e vive como modesto pescador numa vilazinha vulgar após ter recusado a oferenda dos Deuses para ocupar um lugar merecido no Olimpo. Io – a mãe do seu filho interpretada no filme original por Gemma Arterton – morreu e deixou-o a sós com a difícil tarefa de educar e proteger Helius no decurso da sua vida. Desejando apenas viver em paz e educar o rebento de acordo com os ideais de Io, Perseus vive então como um ilustre anónimo entre um bando de aldeãos e não quer sequer ouvir falar de guerras ou novas epopeias heróicas. Mas num dia como tantos outros, Zeus (Liam Neeson) desce à Terra para avisar Perseus de que o fim do Olimpo se encontra mais próximo do que nunca, pois, em virtude de os seres humanos terem deixado de lhes prestar a devida vassalagem, os seus poderes de Deuses estão a diminuir drasticamente e as paredes do monte Tártaro ameaçam ruir a qualquer instante. O que significa que os Titãs – inimigos mortais dos Deuses – estão prestes a libertar-se, trazendo consigo a inevitável vingança e destruição do mundo terreno. A princípio, Perseus não compreende a razão pela qual Zeus procura a sua ajuda, pois ele é um simples mortal que nada poderá fazer contra tão formidáveis adversários. Mas Zeus apressa-se a lembrar-lhe que ele é um semi-deus e não um mero mortal, pelo que carrega às costas responsabilidades bem mais elevadas do que os demais. E perante o iminente despoletar do fim do mundo, Perseus lá se convence que tem mesmo de regressar ao campo de batalha, até porque essa é a única forma de assegurar a sobrevivência de Helius.



“Clash of the Titans” viu-se completamente arruinado pelo seu argumento infestado de desequilíbrios narrativos e lugares-comuns perfeitamente inglórios. Esperava-se então que “Wrath of the Titans” tratasse o seu argumento com todo o cuidado, para corrigir aquilo que tão claramente havia falhado na obra original. Porém, eis o problema: “Clash of the Titans” ainda tinha um argumento, por muito forçado e rebuscado que fosse; “Wrath of the Titans”, por sua vez, nem isso possui, fazendo exactamente o contrário do que deveria fazer para salvar o seu pescoço e dar um novo fôlego à saga mitológica. De facto, é com grande pesar que anuncio que esta sequela de Jonathan Liebesman não tem história. Pelo menos não na verdadeira acepção dessa palavra. Ao invés de um filme com princípio, meio e fim bem definidos, “Wrath of the Titans” é uma espécie de spin-off em formato de videojogo, como uma missão de bónus que nos é dada a jogar depois de termos terminado o jogo principal. Praticamente não há espaço para as personagens crescerem e para a trama se desenrolar naturalmente e de forma convincente. “Wrath of the Titans” é uma espécie de “God of War” lançado para a nova Playstation Vita. Perseus vê-lhe ser atribuída uma missão caída do nada e, praticamente sem pensar duas vezes, lá desata ele a correr pelo globo fora, enfrentando umas criaturas esporádicas pelo caminho até dar de caras com o Big Boss final. Alguns poderão achar que estou a exagerar. Mas infelizmente, “Wrath of the Titans” apresenta uma estrutura narrativa mais próxima de um videojogo do que de um filme minimamente aceitável.



O curioso é que até na comparação com o mundo dos videojogos esta película de Jonathan Liebesman fica a perder. Por incrível que pareça, até “God of War” apresenta uma estrutura narrativa mais sólida, bem como um rol de personagens mais profundas e carismáticas. É verdade que Liam Neeson e Ralph Fiennes ainda perfumam um pouquinho a película com o seu talento natural. Mas com uma matéria-prima tão fraquinha, nem mesmo eles conseguem estar ao nível do que já nos habituaram. Na pele do herói relutante, Sam Worthington não escapa também ao piloto automático que já havia demonstrado na obra original. E na pele de Ares – o temível Deus da Guerra –, Édgar Ramírez mais parece um menino mimado a quem acabaram de tirar a chupeta. Uma vez mais, até o Ares de “God of War” consegue ter uma presença bem mais ameaçadora e explosiva no decorrer da narrativa. Por entre tanta coisa que fica abaixo da média, salvam-se apenas os efeitos especiais deslumbrantes, a conceptualização de alguns cenários gigantescos e a caracterização das personagens mitológicas, com especial destaque para os Makhai e para Chronos – o grande Titã que proporciona bons momentos de acção no último terço da película. Como conclusão, será justo dizer que “Wrath of the Titans” não é o desastre do século, até porque não se encontra assim tão longe do nível apresentado pela obra original. Mas é uma obra que reflecte bem aquilo que a indústria cinematográfica de Hollywood tem de pior.


Classificação – 2 Estrelas Em 5

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