domingo, 22 de abril de 2012

Crítica - Battleship (2012)

 
Realizado por Peter Berg
Com Taylor Kitsch, Liam Neeson, Brooklyn Decker, Rihanna

Saímos desiludidos da sala de cinema. Estávamos à espera de ver Taylor Kitsch a proferir números e letras durante duas horas com os olhos postos em pequenos navios de plástico cinzento, e em vez disso vemo-lo a comandar um navio de guerra real numa batalha infernal contra um bando de extraterrestres. E nós que estávamos tão ansiosos de o ouvir dizer: “D4? Pumba! Toma lá, que já te afundei o porta-aviões!”… Ok, é claro que estamos a brincar. Na verdade, a versão cinematográfica do famosíssimo jogo de tabuleiro chamado “Battleship” (“Batalha Naval” em terras lusitanas) jamais poderia ser excessivamente fiel às suas origens, sob pena de se tornar o maior fracasso da História do cinema. Só mesmo o cenário de batalha naval traça algum paralelismo com o jogo de origem. Tudo o resto foi criado de raiz para oferecer aos espectadores alguns dos momentos cinematográficos mais espetaculares de 2012, e dessa forma rebentar com os box-office internacionais. Pois até pelo casting de Rihanna (sim, a cantora pop) se percebe que “Battleship” nunca pretendeu ser uma obra artística e subtil, tendo sido arquitetado desde o início com o singular objetivo de dar nas vistas e proporcionar bons momentos de cinema-pipoca ao público mainstream. E o certo é que, surpreendentemente ou não, consegue fazer isso mesmo com uma dose elevada de sucesso, apresentando-nos momentos de ação de cortar a respiração, apoiados em efeitos especiais de deixar qualquer um embasbacado. Temos aqui então o primeiro grande blockbuster do ano, capaz de satisfazer a ânsia de adrenalina do público mais jovem e capaz também de recolher considerações positivas por parte de alguns segmentos da crítica especializada, por muito que a narrativa teime em tropeçar nas armadilhas do costume. 

   

Alex Hopper (Taylor Kitsch) não sabe o que fazer da vida. Minimamente culto e inteligente, ele demonstra grande potencial para fazer algo de especial com a sua existência. Mas a teimosia, o excesso de testosterona e a queda natural para grandes encrencas fazem dele um vagabundo vulgar. Com o intuito de conquistar o coração de Samantha (Brooklyn Decker), ele volta a entrar em desacatos e em problemas com as forças de autoridade. E é aí que o seu irmão mais velho (Alexander Skarsgård) entra em ação, forçando-o a alistar-se na marinha como forma de dar a volta a uma vida miserável e encarar o futuro com olhos de esperança. Como sempre, Alex acaba por fazer asneira da grossa no momento mais inoportuno de todos, o que lhe vale um valente raspanete por parte do Almirante Shane (Liam Neeson) e a garantia absoluta de que será expulso da marinha assim que surgir a melhor oportunidade. Porém, durante aquilo que não deveria passar de um exercício de rotina, um objeto de dimensões gigantescas afunda-se no mar a escassos metros de onde todos se encontravam. E quando se percebe que o objeto é na verdade uma nave alienígena, a marinha entra imediatamente em modo de batalha. Uma batalha que poderá determinar o destino de toda a humanidade… 

   

Sejamos francos: por todas as razões e mais alguma, nunca chegámos a acreditar que “Battleship” pudesse ser mais do que um filme de verão para entreter as massas. Um daqueles filmes com muito fogo-de-vista, mas pouco sumo artístico. E a verdade é que ele não passa disso mesmo, confirmando as expectativas que havíamos criado. No entanto, será justo dizer que acaba por ser melhorzinho do que estávamos à espera. Em certos pontos faz-nos lembrar o “Iron Man” de Jon Favreau e Robert Downey Jr.. As personagens principais possuem uma certa atratividade que nos faz querer passar algum tempo com elas, a ação está bem doseada ao longo do filme, os efeitos especiais são tão espantosos quanto o trailer deixava antever, a banda-sonora detentora de músicas bem conhecidas dá azo a alguns momentos de salutar irreverência, e o génio de Peter Berg permite que surjam sequências de comédia bem conseguidas que nos aproximam das personagens. Após visitar o planeta Marte na pele de John Carter, Taylor Kitsch volta aqui à Terra para se entender com outra horda de extraterrestres malignos. E o seu carisma natural faz com que a empatia com o público surja facilmente, ganhando ele alguns pontos na sua afirmação enquanto ator principal de películas multimilionárias. Liam Neeson apresenta-se também na boa forma habitual na pele de um Almirante rezingão e sem papas na língua, e até Rihanna (que tantas dúvidas suscitou) não se safa nada mal (apesar de também não deslumbrar por aí além). Por todas estas razões, “Battleship” afasta-se então a passos largos do rótulo de blockbuster fracassado, possuindo todos os condimentos para agradar ao seu público-alvo.

   

O problema, contudo, estará sempre no outro público. O público mais exigente e pouco dado a fogos-de-artifício. Pois apesar de demonstrar alguma irreverência que o torna bem mais competente e meritório do que todos os “Transformers” e “Twilights” deste mundo, “Battleship” acaba por não escapar totalmente às armadilhas clássicas do género, tombando em muitos lugares-comuns e infantilidades ridículas que deitam quase tudo a perder. Pois vejamos: temos o herói relutante que começa por ser um vagabundo sem futuro, mas que acaba por se revelar o maioral a quem todos batem palmas; temos a gaja boa que se apaixona perdidamente pelo herói; temos o nerd a servir de comic-relief e a comportar-se como um caguinchas ao longo de toda a película, apenas para salvar toda a gente no final e demonstrar que até os nerds podem ser heróis; temos o soldado ferido que comprova que ainda pode ser útil à sociedade; temos as personagens a eliminar os mauzões da fita enquanto dizem palavrões para a câmara com um arzinho todo cool; e para terminar em beleza, temos os Estados Unidos da América a salvar o mundo. Sabemos que estes blockbusters têm como objetivo primordial fazer o máximo de dinheiro possível. E para atingir tal objetivo, sabemos que recorrem consecutivamente a todas as fórmulas hollywoodescas que lhes garantem o retorno do investimento efetuado, mesmo que tais fórmulas estejam mais gastas que um pneu ao fim de 150.000 quilómetros de rodagem. Mas se por um lado ficam satisfeitos com os lucros conseguidos, por outro lado têm de estar preparados para arcar com as mesmas críticas de sempre. Tal modo de fazer cinema é racional e compreensível, mas torna-se desgastante e francamente desapontante para o espectador mais exigente. De modo que terminamos com a seguinte apreciação: “Battleship” decerto encherá as medidas dos fãs dos grandes blockbusters e do público mais jovem, mas dificilmente convencerá um público mais adulto e com pouca vontade de ver coisas que já viu mil e uma vezes.

Classificação - 2,5 Estrelas em 5

0 comentários :

Postar um comentário