sábado, 21 de janeiro de 2012

Crítica - The Girl With The Dragon Tattoo (2011)

Realizado por David Fincher
Com Daniel Craig, Rooney Mara, Stellan Skarsgard, Christopher Plummer, Robin Wright

David Fincher tem uma notória predilecção pelos thrillers negros, chocantes e violentos quanto baste para deixar qualquer um de cabelos em pé. Depois de “Seven” e “Zodiac”, eis que o cineasta norte-americano nos leva por uma nova incursão ao arrepiante e desconcertante submundo do crime, todo ele um reflexo daquilo que a sociedade humana tem de mais podre e deplorável. Desta feita, Fincher serve-se do famoso best-seller de Stieg Larsson para dar seguimento a essa sua visão do mundo decididamente fria, cinzenta e até mesmo trágica. Mais do que um remake (o próprio realizador recusou peremptoriamente essa classificação), “The Girl With The Dragon Tattoo” é uma versão alternativa dos escritos de Larsson, não desdenhando, apesar de tudo, a herança deixada pelos filmes originais suecos. Esses filmes encabeçados por uma Noomi Rapace em ascensão meteórica eram já suficientemente louváveis para figurarem na História do cinema por conta própria. Assim sendo, houve desde logo quem olhasse com desconfiança para esta versão norte-americana (o que é bastante compreensível, dada a torrente de remakes absurdos e estapafúrdios que tem contaminado as salas de cinema internacionais no decurso dos últimos anos). Todavia, o simples nome de David Fincher trouxe alguma credibilidade ao projecto, não denegrindo a imagem do franchise sueco e contribuindo até para a expansão do fenómeno Millennium. Se esta nova versão do primeiro tomo da trilogia de Larsson é melhor ou pior que o original sueco, isso ficará ao juízo de cada espectador. O que podemos aqui assegurar sem margem para dúvidas é que o “The Girl With The Dragon Tattoo” de Fincher cumpre com quase tudo aquilo que prometia, oferecendo-nos duas horas e meia de investigações policiais alucinantes e personagens que ficarão connosco durante algum tempo.


Depois de ver a sua vida profissional andar para trás com um processo de difamação do qual saiu derrotado, Mikael Blomkvist (Daniel Craig) demite-se da revista Millennium onde trabalhava como jornalista e embarca numa viagem até ao norte da Suécia para reunir com Henrik Vanger (Christopher Plummer), um empresário reformado que decide recorrer aos seus préstimos para investigar o desaparecimento de uma jovem familiar. A princípio, Mikael mostra-se reservado e com pouca vontade de aceitar a proposta de Henrik. Mas quando este lhe promete a cabeça de Wennerström (Ulf Friberg) – o homem que o processou por difamação –, Mikael sabe de imediato que não tem escolha senão fazer tudo o que Henrik quiser. Assim começa um processo de investigação às escondidas, que leva Mikael a tomar conhecimento de todos os podres de uma família de empresários verdadeiramente difícil de aturar. Cada vez mais perdido numa investigação que parece não ter solução possível, Mikael decide então contactar a problemática e determinada Lisbeth Salander (Rooney Mara), uma hacker com dificuldades de integração social que prova ser uma aliada valiosíssima logo nos primeiros dias de colaboração. Motivada pelo objectivo de deter e condenar um assassino de mulheres, Lisbeth dá tudo o que tem para resolver este autêntico quebra-cabeças, ao mesmo tempo que começa a desenvolver uma relação de intimidade com o seu parceiro de pesquisa. Mas à medida que o tempo passa, tanto Mikael como Lisbeth vêem as suas vidas seriamente ameaçadas, já que o assassino se encontra mais próximo do que poderiam imaginar. E a perversão deste serial-killer parece não ter limites, o que torna tudo ainda mais electrizante…


Tenho de confessar que estava à espera de algo mais chocante e escabroso, apesar de não estarmos perante uma obra para todos os públicos. É certo que há aqui dois ou três momentos verdadeiramente arrepiantes, podendo desde já adiantar que o público feminino terá grandes probabilidades de sair abalado da sala de cinema. Mas isso já seria de esperar num filme que tem como título português “Os Homens que Odeiam as Mulheres”. Por todos os rumores que haviam circulado e até pelos posters que foram sendo lançados, esperava-se que este “The Girl With The Dragon Tattoo” fosse um dos filmes mais intensos e perturbadores dos últimos anos, até pela marca Fincher que lhe estava associada. Porém, a verdade é que, fora dez ou quinze minutos de violações e abusos sexuais, esta obra acaba por desabrochar como um thriller policial perfeitamente casual. Não necessariamente convencional, mas longe de ser a grande bomba de negrume que se chegou a imaginar, o que não abona muito a seu favor. O dedo mágico e preciso de Fincher mostra-se de forma bastante clara. Como fabuloso contador de histórias que é, o cineasta norte-americano prende a atenção do espectador por inteiro, levando-o a esperar sempre mais de um enredo que nem parece ter quase três horas de duração. As duas horas e meia passam a voar, e isso é dizer muito. Mas o argumento de Steven Zaillian torna-se por vezes algo confuso e enrolado, embora seja arrojado e vá directo ao assunto. A sensação com que ficamos é que sem Rooney Mara e a sua fantástica Lisbeth Salander, “The Girl With The Dragon Tattoo” não seria mais que um thriller a roçar o vulgar. De facto, e de forma algo improvável, é Mara quem rouba o espectáculo quase por completo, deixando para segundo plano actores como Daniel Craig e Stellan Skarsgard com a sua interpretação felina e visceral da hacker mais associal de todos os tempos. E é uma pena que assim seja num filme que se esperava que fosse mais completo e emblemático. Em suma, vale pelo estilo visual de Fincher, a intensidade interpretativa de Mara e a banda-sonora invulgar da dupla Trent Reznor/Atticus Ross. Sem esquecer uma fabulosa sequência de créditos iniciais que fará com que os espectadores que cheguem cinco minutos atrasados batam com a cabeça na parede durante um bom par de horas.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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