sábado, 16 de julho de 2011

Harry Potter - A Magia dos Livros


Desde há 10 anos a esta parte que amigos meus me têm perguntado o que é que há de tão interessante na saga Harry Potter que faz mexer milhões e cria um fenómeno de fanatismo à escala global. A explicação leva horas e nem sempre serve de grande coisa, porque não é uma coisa que se possa descrever sucintamente. À primeira vista, são uma data de livros sobre um miúdo franzino caixa-de-óculos com uma cicatriz na testa que um dia descobre que é feiticeiro e vai viver aventuras com os amigos para um castelo e lutar contra o mau da fita. Se alguém vir o primeiro ou os dois primeiros filmes, apenas porque quer ter uma ideia do que trata e não tem paciência para ler os livros, é isto que pensa. Histórias sobre magia é coisa que não faltam por aí. Então o que torna a saga Harry Potter tão especial?


Hão-de haver tantas respostas a esta pergunta como fãs. Pode ser por se passar no nosso mundo, nos nossos dias, num universo camuflado mesmo debaixo dos nossos narizes, e não numa galáxia distante nem numa terra imaginada num tempo já muito ido, o que para o efeito “fugir à realidade” é muito mais prático. Pode ser por o herói não ter à primeira vista nem dons nem poderes especiais, não ser o mais inteligente nem o mais capaz. Pode ser por falar da eterna batalha entre o Bem e o Mal e portanto ser tão reconhecível e tão cativante. Mas nenhuma desta razões racionais explica a emoção que é pegar num destes livros e não conseguir parar, não explica a epopeia de 10 anos que estes fãs partilharam com as personagens, chorando com elas, sentindo a sua dor e o seu medo, muitos deles crescendo com elas, tornando-se adultos como elas. Não explica como também muitos adultos (eu incluída) acompanharam o Harry até ao fim, como se deixaram transportar para um outro universo, como viveram intensamente a história de personagens fictícias qual crianças.


Para mim, a obra literária é especial porque ainda me lembro do que senti ao ler cada um dos livros, deixaram uma marca indelével. Porque choro sempre exactamente nas mesmas partes, não importa quantas vezes os tenha lido. Porque em cada livro, sob a capa de cada história, há sentimentos muito fortes e muito bonitos, maravilhosamente escritos. Porque, no seu conjunto, é a mais detalhada e sentida descrição de um percurso de maturidade, desde a infância até à idade adulta, passando pelo período sombrio da adolescência. Porque J.K. Rowling mostrou, através de um mundo imaginado, que o amor é o centro de tudo, é o nosso bem mais precioso, é o que nos define, é uma arma, é uma protecção contra o medo, a raiva, o desespero,... é o derradeiro sentido da vida.


Era uma vez um menino que tinha medo da Morte. Tanto medo que rasgou a alma em pedaços e esconde-os, na esperança de assim viver para sempre. Mas com a alma dilacerada não se ama. Se não se ama, somos apenas medo, raiva e desespero. Não somos vida, por isso é que não podemos morrer. E é por isso que o rival à altura é alguém que tem a marca do amor no seu sangue, mesmo tendo apenas 1 ano de idade. Uma alma imaculada, intacta. Que, mesmo crescendo sem afecto, alojando dentro de si um pedaço desse medo, raiva e desespero, cresce para ser uma boa pessoa, capaz de amar, capaz de continuar a amar depois da perda, e capaz de se sacrificar por esse amor. É esta a essência de Harry Potter. É esta a razão por que é tão cativante, independentemente da idade, da nacionalidade, do sexo. É esta a razão por que a saga foi uma viagem marcante e inigualável, que vai deixar um vazio insubstituível, quer tenha sido acompanhada pelos livros, pelos filmes ou por ambos.

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