domingo, 3 de julho de 2011

Crítica - Transformers: Dark of the Moon (2011)

Realizado por Michael Bay
Com Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Whiteley, Josh Duhamel, Patrick Dempsey, Frances McDormand, John Turturro

Michael Bay tinha prometido que esta terceira incursão pelo mundo dos Transformers nada teria a ver com a anterior. O megalómano realizador californiano garantiu a toda a gente que tinha aprendido com os erros do filme anterior e que, como tal, este “Transformers: Dark of the Moon” ia regressar às origens e surpreender meio mundo. Não me fiei muito na sua palavra, mas decidi dar o benefício da dúvida a um cineasta que, convenhamos, também não é o pior realizador do mundo. Mas enfim, conforme se esperava, o terceiro tomo desta saga (consecutivamente) apocalíptica pouco se diferencia do segundo capítulo, voltando a presentear o espectador com duas horas e meia de bombas e explosões sem qualquer sumo narrativo.
Sam Witwicky (Shia LaBeouf demasiadamente acelerado) entrou numa nova fase da sua vida. Os tempos de estudante fazem parte do passado. De tal forma que até a sua namorada do liceu (a Mikaela de Megan Fox) desapareceu do mapa por completo. Agora, Sam vive com Carly (Rosie Huntington-Whiteley a cumprir o seu papel de sex-bomb da película) e procura desesperadamente entrar no mercado de trabalho. Mas tal tarefa não se afigura fácil, até porque Sam não consegue esquecer o passado glorioso ao lado dos Autobots, vivendo num constante estado de angústia por não o deixarem integrar a equipa militar que combate os Decepticons um pouco por todo o mundo. E é quando Sam já se convenceu que terá de passar a vida a aturar as excentricidades de um empresário tresloucado (interpretado por John Malkovich) que os confrontos alienígenas dos Transformers voltam a cair-lhe em cima da cabeça. Pois os Autobots descobrem uma nave espacial perdida na face escura da lua. Uma nave espacial que poderá conter a arma mais devastadora de todos os tempos. E só com Sam a seu lado é que os Autobots poderão impedir que os Decepticons deitem mãos a essa arma…


Uma vez mais, a narrativa deixa muito a desejar, o que comprova que Bay não aprendeu assim tanto com os erros previamente cometidos. Para além de repetitiva (os pontos de contacto com os filmes anteriores são mais que muitos, dando a sensação de já estarmos a assistir aos mesmos eventos desde 2007, ano de estreia do filme original), a narrativa esbarra no habitual conjunto de lugares-comuns e banalidades infantis, não senso propriamente muito convincente. Era aqui que Bay mais deveria ter trabalhado, pois o principal handicap desta saga sempre esteve no argumento. Por muito espectaculares que os efeitos especiais sejam (e são, de facto, absolutamente extraordinários), sem uma boa base narrativa que nos faça acreditar nas personagens e nos eventos relatados, dificilmente poderemos sair agradados da sala de cinema. Para além de óbvio, isto é básico e fácil de compreender. E quanto mais depressa Bay entender isto, mais depressa se transformará num realizador digno de respeito. Pois ele poderia bem ser um James Cameron, ou um Steven Spielberg. Mas a sua falta de sensibilidade para o lado mais intimista e minimalista da Sétima Arte torna-o um realizador banal, incapaz de integrar o espectáculo de pirotecnia numa narrativa sólida e equilibrada.
Ninguém duvida que “Transformers: Dark of the Moon” seja uma obra de puro entretenimento. Estamos aqui perante o protótipo do blockbuster de Hollywood. Aquele filme que desperta paixões e emoções, inserindo o espectador num vórtice de acção frenética que não lhe permite desviar o olhar. Tecnicamente, este terceiro capítulo da saga roça a perfeição. Os efeitos especiais são dignos de um Óscar e a escala dos sets de rodagem é de deixar qualquer um boquiaberto. Mas infelizmente, os efeitos especiais isolados não fazem um filme. Um filme na verdadeira acepção da palavra é composto por inúmeras camadas, mais complexas e intricadas que as de uma cebola. E excluindo os aspectos mais técnicos, “Transformers: Dark of the Moon” é de uma vulgaridade e inconsequência verdadeiramente dolorosas.


“Transformers: Revenge of the Fallen” apresentava-nos robôs que mais pareciam rappers a imitar uma mistura entre Eminem e Puff Diddy, e também robôs de saias que nos levavam a pensar se estaríamos a ver um desenho-animado para maiores de 4 anos. Ora bem, “Transformers: Dark of the Moon” cortou (e bem) com essas personagens. Mas por outro lado, brinda-nos com robôs trolhas, robôs italianos e robôs anões saídos de uma qualquer fábula dos montes irlandeses. O que, mais uma vez, põe a nu o facto de que Bay não aprendeu mesmo nada com os erros anteriores. A humanização (e consequente infantilização) de alguns Transformers foi precisamente aquilo que arruinou o segundo filme. E neste terceiro capítulo, Bay continua a brincar com aquilo que devia ter sido erradicado por completo do argumento. Lá por termos robôs a construir alguma coisa, não quer dizer que eles tenham de falar como emigrantes irlandeses que mandam piropos às mulheres mais jeitosas da rua. Lá por termos um Ferrari, não temos de pô-lo a falar como um mafioso saído da série “The Sopranos”. Podem parecer pormenores sem interesse nenhum, mas isto apenas contribui para a infantilização da película e para o desinteresse de um público mais maduro e pouco dado a gags de gargalhada fácil.
O elenco em geral também não apresenta aqui o melhor trabalho dos seus currículos, isso é certo. Se mesmo em “Transformers: Revenge of the Fallen”, Shia LaBeouf e o seu Sam Witwicky permaneciam genuínos e interessantes, neste terceiro capítulo deixaram de o ser. Shia LaBeouf oferece-nos uma interpretação que parece ter sido consumada sob o efeito de ecstasy ou cocaína. É certo que a sua personagem vive um momento conturbado da sua vida, mas o actor optou por um caminho de overacting que nem parece dele. Rosie Huntington-Whiteley (apesar de se ir desembaraçando relativamente bem) também parece ter integrado o elenco apenas para servir o propósito do lema “carne para canhão”. Não há praticamente uma cena em que ela não apareça com vestidos todos sexy e saltos-altos do tamanho de uma montanha (aliás, a cena de introdução da personagem começa com um close-up da sua roupa interior, pelo que Bay nem teve o cuidado de ser discreto). E estrelas de créditos firmados como John Turturro e Frances McDormand também não estão propriamente deslumbrantes, sendo melhor pensarem duas vezes antes de assinarem contrato para um quarto capítulo…


A linguagem demasiado techno chega também a irritar. Qualquer dia somos obrigados a tirar um curso de informática só para percebermos o que raio as personagens estão a dizer. Mas este é um filme feito a pensar nos jovens, pelo que ainda se compreende esta abordagem puramente cibernética. O que não se compreende é a falta de ritmo da película. Sim, isso mesmo: falta de ritmo. Pode parecer um paradoxo, mas por entre tanto tiro e explosão (só a batalha final demora cerca de 50 minutos…), o espectador mais exigente quase adormece de tanto olhar para o relógio. Apesar de serem os momentos mais espectaculares da película, as cenas da batalha final são também as mais dolorosas. Pois os tiros e as explosões sucedem-se, mas as personagens parecem estar sempre no mesmo sítio. Isto denota a falta de pulso narrativo do realizador, que deveria ter visto que uns bons trinta minutos a menos só fariam bem à película.
Em suma, “Transformers: Dark of the Moon” é um filme feito a pensar na juventude. Tem guerra, acção a rodos, carros cheios de estilo, gajas boas e muita tecnologia. Consegue ser melhor que o capítulo anterior. Mas como esse capítulo foi um autêntico desastre, também não se pode dizer que se esteja perante uma grande proeza. É entretenimento puro e duro, sem dúvida. Razão pela qual deve agradar a uma boa parte do público mais jovem, interessado apenas em passar um bom bocado com os amigos numa sala de cinema. Mas como filme na verdadeira acepção da palavra, continua a deixar muito a desejar. Razão pela qual muitos serão aqueles que depressa o apelidarão de lixo cinematográfico.


Classificação – 2 Estrelas Em 5

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