sábado, 11 de junho de 2011

Crítica - X-Men: First Class (2011)

Realizado por Matthew Vaughn
Com James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Rose Byrne, Jennifer Lawrence, January Jones

Quando “X-Men: First Class” foi anunciado, não hesitei em torcer o nariz. Não sendo um fã confesso dos mutantes mais famosos da Marvel (nem de qualquer super-herói em especial), devo dizer que não estava nos meus planos ver este filme. Primeiro, porque o último tomo da trilogia original (“X-Men: The Last Stand”, de Brett Ratner) já denotava um grande decréscimo qualitativo, a todos os níveis. Segundo, porque esta prequela cheirava a tentativa desesperada de manter o franchise a circular nos cinemas, apenas e só com os cifrões das receitas em mente. Porém, quando vi que o realizador se chamava Matthew Vaughn, os meus planos alteraram-se por completo. Não esqueçamos que Vaughn é o realizador do brilhante e enormíssimo “Kick-Ass”, um dos filmes-sensação do ano transacto. E este “X-Men: First Class” era a oportunidade perfeita para ver se “Kick-Ass” tinha sido um mero acaso faustoso, ou se estávamos realmente perante um dos realizadores mais talentosos da nova geração de cineastas. Felizmente, Vaughn comprova aqui que é, de facto, um caso sério de talento e brilhantismo. Pois, fazendo jus ao seu subtítulo, este novo capítulo da saga X-Men afirma-se como um filme de primeiríssima classe.


Esqueçam o Cyclops, a Storm, a Rogue e outros que tais. Tal como prometia, “X-Men: First Class” leva-nos às origens dos confrontos entre humanos e mutantes, numa altura em que estes últimos ainda passavam despercebidos na sociedade e em que a escola do Professor X ainda nem passava pela cabeça do próprio. Aqui, Charles Xavier (James McAvoy) e Erik Lehnsherr (Michael Fassbender) são dois jovens à procura do seu próprio caminho. Dois jovens que constroem uma amizade enorme entre si e que longe estão de saber que se irão tornar grandes rivais e inimigos, enquanto Professor X e Magneto, respectivamente. Sebastian Shaw (Kevin Bacon) planeia despoletar uma guerra nuclear entre Estados Unidos da América e Rússia. Uma guerra que transformaria os humanos em pó e apenas fortaleceria os membros da sua raça – os mutantes. Ciente de que está a lidar com algo que a ultrapassa por completo, Moira MacTaggert (Rose Byrne) entra em contacto com Charles Xavier para lhe pedir ajuda em nome da CIA. E Charles não perde tempo. Ajudado por Cerebro – uma maquineta construída pelo cientista Hank McCoy (Nicholas Hoult) – Charles vagueia mentalmente pela Terra em busca de jovens mutantes que estejam dispostos a unir-se à sua causa. É assim que junta uma equipa onde se incluem os nomes de Mystique (Jennifer Lawrence), Havok (Lucas Till), Banshee (Caleb Landry Jones), Beast (o alter-ego de Hank McCoy), entre outros. E é assim que dá de caras com Erik Lehnsherr, um homem que sofreu na pele as barbaridades do Nazismo e que procura matar Sebastian Shaw, para se vingar das atrocidades que este cometeu sobre a sua pessoa. Dando início à tal amizade que, com o tempo, acaba por se tornar uma relação de pura rivalidade entre ambos…


Já há algum tempo que não via um filme que me colasse os olhos ao ecrã com tamanha eficácia. “X-Men: First Class” é simplesmente brilhante, do início ao fim. O argumento é sólido, sensível e inteligente. E fiel ao seu talento, Matthew Vaughn não o desaproveita, presenteando-nos com uma aventura que prima tanto pela fluidez com que se desenrola como pela profundidade dramática das suas personagens. O melhor que se pode dizer desta obra é que ela é extremamente equilibrada. O equilíbrio entre a acção, o drama e a comédia está muito bem conseguido, fazendo com que o espectador se apaixone pelas personagens e siga as suas desventuras com todo o prazer. Personagens essas que, curiosamente, são o ponto mais forte da película. Algumas cenas de acção caem um pouco na infantilidade irrealista, mas as personagens que as concretizam nunca deixam de ser autênticas e verosímeis. O que apenas comprova os talentos de Vaughn, que demonstra dominar por completo a linha ténue entre entretenimento puro e fio narrativo de grande consistência dramática.
Todos os actores cumprem os seus papéis de forma exemplar. Mas há um trio que se destaca claramente. E esse trio é formado por James McAvoy, Jennifer Lawrence e especialmente Michael Fassbender. O coração do filme encontra-se nas prestações destes actores e nas causas que movem as respectivas personagens. James McAvoy e o seu Charles Xavier são o rosto da serenidade e da incorruptibilidade. Jennifer Lawrence e a sua Raven/Mystique representam a inocência e o temor da anormalidade. E Michael Fassbender e o seu Magneto, para além de serem absolutamente arrepiantes, encarnam o padecimento incontornável e a vingança como resposta a actos de exacerbada violência (tanto física como psicológica). De resto, Fassbender tem aqui uma performance verdadeiramente extraordinária. Mostrando os seus dotes de poliglota, o actor de origem alemã rouba o espectáculo quase por inteiro, dando uma profundidade à personagem de Magneto que nem mesmo Sir Ian McKellen conseguiu dar. Se Fassbender precisava de um grande filme para dar o salto para o estrelato e se afirmar como um dos melhores actores da sua geração, “X-Men: First Class” é esse filme. Depois disto, podemos ter a certeza de que ele vai aparecer em muito mais fitas de qualidade indiscutível.


Os filmes de super-heróis tendem a dar uma visão do mundo a preto e branco, oferecendo-nos personagens (sobretudo os vilões) perfeitamente unidimensionais. Meritoriamente, Vaughn não caiu nesse erro, brindando-nos com personagens de múltiplas camadas, o que apenas contribui para a sua credibilização aos olhos do público. Roubando descaradamente a frase a outro dos grandes blockbusters deste Verão, pode dizer-se que este “X-Men: First Class” tem more than meets the eye.
Mais do que respeitar o legado de Bryan Singer (realizador dos dois primeiros filmes da saga), Vaughn homenageia esse legado. E ainda bem que o faz, pois o resultado é estrondoso. Preparem-se para dois cameos absolutamente deliciosos… E para não estragar a surpresa, mais não digo sobre esta matéria. “X-Men: First Class” é muito mais do que um filme de super-heróis bonzinhos a lutarem contra as forças das trevas. Esta prequela cheia de classe e equilíbrio narrativo é muito mais profunda que isso, afirmando-se mesmo como a melhor fita de super-heróis desde o fantástico “The Dark Knight”, de Christopher Nolan. Esqueçam a ideia de que filme de super-heróis é para meninos. Esta nova incursão pelo mundo dos X-Men é para espectadores de todas as idades, sejam eles adolescentes à procura de adrenalina, sejam adultos à procura de uma história com tudo no sítio. Se quem não é fã deste universo sai da sala de cinema com um sorriso enorme nos lábios, então os fãs dos valorosos mutantes da Marvel têm inúmeras razões para se sentirem absolutamente delirantes.


Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

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