segunda-feira, 2 de maio de 2011

Espaço Memória – La Dolce Vita (1960)

Realizado por Frederico Fellini
Com Marcello Mastroianni, Anita Ekberg, Anouk Aimée, Alain Cuny

La Dolce Vita é um filme de tal modo emblemático que já pouco resta a dizer sobre ele. Ainda assim gostaria de lembrar que marca a transição de Fellini do neo-realismo inicial para um caminho em direcção ao surrealismo. Filmado inteiramente a preto e branco como os filmes neo-realistas, La Dolce Vita retrata não a classe dos explorados mas sim a decadente alta e mediática sociedade italiana ao longo de sete noites eivadas de mulheres belas e ocas e de homens, sobretudo do jornalista Marcello (Marcello Mastroianni), em busca de um sentido para a sua própria vida no meio daquele caos moral. Esta ideia da crise total de valores é pioneira e visível logo na cena inicial quando a cidade é sobrevoada por um Cristo preso a um helicóptero.
Marcello vai deambular durante este período que corresponde a quase três horas de filme entre a namorada neurótica, menáges, orgias, festas e tareias. Há qualquer coisa de sufocante neste filme como sufocante é o fascínio de Marcello pelas mulheres bonitas que o rodeiam, lembremo-nos por exemplo da sua noite com a diva (Anita Ekberg) na Fonte de Trevi, ou o assédio constante dos paparazzi em torno das personagens. O próprio nome paparazzo vem do nome do amigo do jornalista, Paparazzo.


Riquíssima a todos os níveis e obra de grande influência sobre o cinema que se lhe seguiu, La Dolce Vita recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e foi nomeado para os Óscares de Melhor Realizador, Melhor Argumento, Melhor Direcção Artística e Melhor Guarda-Roupa, tendo recebido apenas este último. Outro elemento a reter é a contínua falta de comunicação entre as personagens, ou porque falam línguas diferentes, ou porque entre elas reina o vazio, ou ainda na cena final porque o ruído não permite que Marccello compreenda os sinais da jovem na praia, tal como todas as restantes personagens estão demasiado submersas na vertigem da depravação glamourosa para se ouvirem a si mesmas. Resta-lhes o monstro marinho que é pescado no final do filme metáfora da monstruosidade do resultado das suas vidas.

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