domingo, 22 de maio de 2011

Crítica - Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides (2011)

Realizado por Rob Marshall
Com Johnny Depp, Penélope Cruz, Geoffrey Rush, Ian McShane, Kevin McNally

Se há coisa que se pode dizer dos filmes de Rob Marshall é que eles estão muito longe de serem consensuais. Até mesmo “Chicago”, o seu filme de estreia nos cinemas, que arrecadou 6 Óscares e conquistou o coração de muitos cinéfilos, não obteve críticas consensuais, tendo o realizador falhado mesmo a sempre apetecível nomeação para melhor realizador do ano. Marshall afirma-se assim como um líder das operações deveras invulgar. Por um lado, nota-se que o talento está lá, até porque os seus filmes não são maus de todo. Mas por outro lado, principalmente a nível narrativo, há sempre qualquer coisa que falha, deixando o espectador com um certo travo na boca. Aquilo que mais salta à vista é a dificuldade que Marshall tem em manter a mesma dinâmica narrativa até ao fim das suas películas. Estas tão depressa são pautadas por momentos de grande classe como por momentos de absoluto desequilíbrio narrativo. E infelizmente, “Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides” não escapa a esta espécie de imagem de marca do realizador norte-americano.
Esta quarta entrega da saga de sucesso produzida por Jerry Bruckheimer traz-nos de volta às tresloucadas desventuras do carismático Capitão Jack Sparrow (como sempre, fabuloso Johnny Depp). Desta vez, com Will Turner e Elizabeth Swann já muito para lá do horizonte, Sparrow vê-se capturado pela guarda real inglesa. Numa conversa deliciosa com o Rei George (Richard Griffiths), descobre que Barbossa (não menos fenomenal Geoffrey Rush) – seu grande rival – se aliou às forças da coroa britânica para desvendar o paradeiro da mítica Fonte da Juventude. Temendo pelo seu próprio pescoço e não querendo deixar a glória das glórias para Barbossa, Jack escapa então das garras do Rei (ao seu bom estilo, diga-se), apenas para cair nas malhas do temível Blackbeard (Ian McShane) e da sua filha Angelica (Penélope Cruz). A bordo do assombroso Queen Anne’s Revenge, Jack fica a saber que Blackbeard persegue também a Fonte da Juventude com toda a avidez e é assim que se inicia uma corrida cheia de peripécias. Uma corrida onde não faltarão zombies, sereias, explosões, golpes de espada… e as habituais matreirices entre os protagonistas, para ver quem consegue levar a melhor e engolir a água da imortalidade em primeiro lugar.


Toda a equipa de produção admitiu que este quarto título do franchise pretendia afastar-se das “matemáticas” dos dois últimos filmes, aproximando-se novamente do espírito puramente aventureiro da obra original. O problema é que, por muito boas que as intenções fossem, “Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides” fica muito longe de atingir esse objectivo primordial, sendo claramente inferior aos três filmes que o precederam. E de quem é a culpa disto? Principalmente, do realizador Rob Marshall e do argumento desenvolvido pelo duo Ted Elliott/Terry Rossio (curiosamente, os argumentistas da trilogia original).
Desta vez, Elliott e Rossio espalharam-se ao comprido, revelando-se incapazes de imprimir a mesma dose de frescura e imprevisibilidade a este quarto tomo da saga. “Pirates of the Caribbean: On Stanger Tides” é o primeiro filme da saga Pirates que cai numa previsibilidade enfadonha e numa linha de actos narrativos marcados pela conveniência artificial. Um dos pontos fortes desta saga sempre esteve na fluidez com que as aventuras decorriam, jamais caindo na previsibilidade e conseguindo sempre surpreender o espectador até ao derradeiro minuto das películas. “Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides”, porém, não herda esse ponto forte dos seus progenitores, apresentando-nos uma narrativa muito pouco natural e, por vezes, até mesmo demasiado forçada. Mas a verdade é que este problema não é da responsabilidade exclusiva dos argumentistas, que, como é óbvio, não desaprenderam os seus talentos de um dia para o outro. A verdade é que Rob Marshall se revela incapaz de dar a volta a um argumento, porventura, menos habilidoso, precisamente porque Marshall não tem o mesmo traquejo de Gore Verbinski (o realizador da trilogia original). Sente-se muito a mudança de realizador. Com a criatividade e o arrojo artístico de Verbinski, a saga ganhava uma aura de surrealismo que assentava como uma luva na bizarrice de Jack Sparrow. Com Rob Marshall, os piratas perdem algum encanto, não apenas pelo facto da sua câmara não ser tão segura como a de Verbinski, mas também por se notar que o realizador deste quarto capítulo não se sente tão à-vontade com sequências de acção explosiva.


Apesar de sabermos que a história de Will Turner e Elizabeth Swann ficou bem encerrada, sente-se também a falta deste carismático duo de pombinhos. Os produtores bem que se aperceberam de que era preciso arranjar um novo par romântico. E foi dessa necessidade que surgiram Sam Claflin e o seu Philip, e Astrid Berges-Frisbey e a sua Syrena. Mas reconheçamo-lo: nenhum destes actores possui a tarimba (e o impacto mediático) de Orlando Bloom e Keira Knightley, pelo que o filme fica órfão daquela componente clássico-romântica que tanta falta faz a este género de filmes. Penélope Cruz fica também um pouco aquém das expectativas. Esperava-se que ela fosse um verdadeiro contraponto de Johnny Depp, afirmando-se como a mulher que mais mexeria com os miolos de Jack Sparrow. Mas a sua Angelica não nos aquece nem arrefece. E o derradeiro pecado de Rob Marshall foi ter desaproveitado por completo Ian McShane e a sua construção do pérfido Blackbeard. Conjuntamente com Johnny Depp e Geoffrey Rush, Ian McShane é um dos grandes trunfos desta aventura. Mas tanto o argumento como a abordagem do realizador não lhe permitiram explodir por completo no ecrã. E por muito intrigante que seja, o seu Blackbeard nunca chega verdadeiramente a ser "o pirata que todos os piratas temem".
Claro que, apesar de todos estes pontos mais negativos, “Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides” não deixa de possuir vários pontos positivos. Quando estão juntos no ecrã, Johnny Depp e Geoffrey Rush fazem as delícias do espectador. A rivalidade das suas personagens continua bem apimentada e quem beneficia disso é a audiência, que sorri sempre que eles entram em cena. Nos aspectos puramente técnicos da película, destaque para a banda-sonora de Hans Zimmer – que continua tão imponente e grandiosa como sempre – e também para a fotografia, a direcção artística, o guarda-roupa, enfim, todos os aspectos que sempre tornaram este franchise muito especial, desde o seu ambicioso início.


Que fique bem claro que “Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides” está longe de ser o maior fiasco do ano. Longe disso. Porém, é preciso dizer que fica muito aquém das expectativas, fazendo-se notar (pela negativa) a mudança de realizador e o desaparecimento de algumas personagens importantes. Este mais recente filme de Rob Marshall não deverá defraudar o entusiasmo daqueles que simplesmente queiram assistir a duas horas de aventura cool e bem-humorada. Quanto mais não seja porque Jack Sparrow continua em muito boa forma. Mas os fãs mais fervorosos da saga não deixarão de sentir a falta do génio criativo de Gore Verbinski. E nós por cá não podemos deixar de pensar que o talento de Marshall está mesmo nos musicais da Broadway. Razão pela qual não nos admiraríamos nada que Jerry Bruckheimer resgatasse outro realizador para a mais que esperada quinta aventura do pirata mais famoso de todos os tempos.


Classificação – 3 Estrelas Em 5

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