quarta-feira, 9 de março de 2011

Crítica - Rango (2011)

Realizado por Gore Verbinski
Com Vozes de Johnny Depp, Isla Fisher, Abigail Breslin, Ned Beatty, Alfred Molina, Bill Nighy, Ray Winstone

“Rango” não precisou de muito tempo para se tornar um dos filmes mais apetecíveis da nova temporada cinematográfica. O primeiro trailer bastou para que todos ficássemos cientes de que estávamos perante uma das obras mais peculiares de 2011. A expectativa passou, desde logo, a ser elevadíssima, até porque tínhamos aqui a oportunidade de voltar a presenciar os dotes de Johnny Depp num filme de animação. Para além disso, o facto do realizador se chamar Gore Verbinski (realizador da trilogia “Pirates of the Caribbean”) despertou também alguma curiosidade, já que não é todos os dias que um realizador de live action se aventura pelos trilhos da animação. Por tudo isto e muito mais, “Rango” foi encarado como um dos filmes mais promissores deste início de ano. E a verdade é que, por entre muitas piadas de bom gosto e um design de animação assombroso, “Rango” acaba por não desiludir… muito.


A história debruça-se sobre um extrovertido e solitário camaleão de estimação (fabuloso Johnny Depp), com uma queda para o mundo artístico e um certo problema de identidade pessoal. Por mero acidente do destino, o pobre camaleão vê-se abandonado no meio de um cálido e infindável deserto. Terrivelmente deslocado do seu habitat natural, lá aproveita a ajuda de Beans (Isla Fisher) para se deslocar até Dirt – uma cidade sem lei no meio do deserto, onde todo o comércio se desenrola em redor do abastecimento de água. Desesperadamente ansiando obter a aprovação dos seus novos conterrâneos, o camaleão adopta uma identidade fictícia, dizendo que se chama Rango e que é um dos pistoleiros mais sagazes e temidos de todo o faroeste. Encantados com a ilusão de estarem na presença de um novo (e tão desejado) herói, os populares de Dirt depressa o acolhem como se ele fosse uma estrela de Hollywood. Mas é então que todas as reservas de água da cidade desaparecem misteriosamente. E Rango – entretanto nomeado xerife de Dirt – terá de comprovar que é tão astuto e corajoso como afirmou ser. Uma tarefa que se complica com a chegada de Rattlesnake Jake (sempre competente Bill Nighy) e do seu bando de malcheirosos rufias do oeste…
“Rango” é, acima de tudo, um filme divertidíssimo de se ver. As gargalhadas são mais que muitas e estão quase todas relacionadas com o linguarudo e azarado protagonista, que facilmente se afirma como uma das personagens mais cómicas e bem conseguidas dos últimos anos. A primeira meia hora do filme é simplesmente avassaladora. Tanto a nível artístico como narrativo, “Rango” inicia a corrida com grande competência, oferecendo ao espectador tudo aquilo que se pode esperar duma obra desta natureza. O problema é que, após um começo tão auspicioso, a película vai perdendo algum fulgor com o passar dos minutos, alcançando a linha de chegada com alguns gags menos conseguidos e um fio narrativo a tombar já para o previsível.


Mas, felizmente, isto não chega para dar cabo de uma das obras mais irreverentes e criativas dos últimos tempos. O cunho de um realizador habituado a outras andanças faz-se sentir com algumas cenas que nos apanham de surpresa e nos fazem sorrir de autêntico prazer. SPOILER Cenas como a encenação de uma peça teatral para apanhar um bando de ladrões, ou a triste caminhada de um camaleão com vontade de morrer em plena noite no deserto, fazem-nos encarar este “Rango” com outros olhos. Olhos que irradiam respeito, misturado com uma leve pitada de admiração pelo trabalho efectuado por todas as mentes criativas envolvidas neste projecto.
Mas não é só a realização de Verbinski que nos desperta a atenção. Mais do que qualquer outra coisa, aquilo que nos salta à vista é o enorme talento de um senhor chamado Johnny Depp. De facto, Depp é o verdadeiro camaleão do cinema contemporâneo, razão pela qual só mesmo ele poderia interpretar este camaleão com traços de personalidade algo bizarros. Tudo o que Depp faz parece ser bem feito. Seja a filmar em live action, seja a dar vozes a personagens animadas, neste momento, não há ninguém como Johnny Depp no cinema contemporâneo. Ele mete-se em tudo. Não há um género cinematográfico que lhe escape. E a sua competência (e, já agora, genialidade) salta sempre cá para fora. Se o camaleão auto-intitulado Rango é uma personagem completa e com diversas camadas de profundidade dramática, muito disso se deve a Johnny Depp (que uma vez mais, apesar de não aparecer no ecrã, cria aqui uma personagem absolutamente singular e inesquecível). Quanto ao resto do elenco, ninguém deixa nada a desejar, mas também ninguém se consegue sequer aproximar do carisma de Depp e do seu adorável Rango.


A nível visual, estamos também perante uma obra que apresenta alguns momentos de grande qualidade. Os cenários são diversos, as personagens principais são bem trabalhadas e as sequências de acção são tão cómicas como empolgantes. Apenas as personagens secundárias deixam algo a desejar, já que detêm todas um aspecto físico muito semelhante e, como tal, difícil de distinguir (algo que se nota principalmente nas cenas em que há ajuntamentos da população).
Que fique bem claro que “Rango” é um dos filmes mais criativos e divertidos deste início de 2011. As gargalhadas são um valor seguro, os detalhes artísticos conseguem impressionar mais do que uma vez, a banda-sonora de Hans Zimmer insere-nos por completo no oeste americano e a narrativa apresenta momentos de salutar arrojo cinematográfico. Contudo, a perda de gás a determinada altura da película é demasiado notória e a forma algo abrupta como encerra deixa-nos com um desagradável travo na boca. O que é uma pena, especialmente para uma obra que podia vir a ser bem mais do que aquilo que é.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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