sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Crítica - Megamind (2010)


Realizado por Tom McGrath
Com Will Ferrell, Brad Pitt, Tina Fey, Jonah Hill, Ben Stiller

A DreamWorks Animation não teve um ano muito constante ou satisfatório. É verdade que este famoso estúdio conseguiu lançar uma fantástica tríade de obras animadas que acabaram por conseguir arrecadar vários milhões de dólares nas bilheteiras norte-americanas e mundiais mas também é verdade que esses valores comerciais ficaram atrás daqueles que foram obtidos por “Tangled” e “Toy Story 3” da Pixar/Disney. A crítica especializada também louvou “How To Train Your Dragon” e ficou relativamente satisfeita com “Shrek Forever After” e “Megamind”, no entanto, acabou por considerar “Toy Story 3 como o indiscutível favorito à conquista do Óscar de Melhor Filme de Animação. A Pixar/Disney voltou então a vencer a DreamWorks em todas as vertentes, uma derrota que certamente irá desmotivar este famoso estúdio que encerrou os seus lançamentos anuais com este “Megamind”, um filme relativamente mais fraco que “Toy Story 3” ou “Tangled” mas que não se assume como uma produção medíocre, muito pelo contrário, é uma razoável obra animada que nos oferece uma narrativa cómica e colorida que é acompanhada por uma vertente visual bem trabalhada e por um soberbo elenco vocal. A sua história é protagonizada por Megamind (Will Ferrell), um temível e solitário vilão que quer conquistar Metro City, no entanto, todos os seus planos malévolos acabam sempre por ser frustrados pelo seu maior rival, Metro Man, um herói invencível que o aterroriza desde a sua infância. Após várias tentativas, Megamind derrota Metro Man mas esta sua vitória acaba por não ser tão saborosa como previa porque ele chega à conclusão que a sua vida maléfica não tem sentido se não tiver um rival à sua altura, assim sendo, ele decide criar um novo herói para Metro City, alguém que possa substituir Metro Man e devolver sentido à sua existência, alguém como Tighten (Jonah Hill), um herói que inicialmente se assume como o novo salvador de Metro City mas que subitamente se revolta contra esta e contra o próprio Megamind, obrigando assim este vilão a se tornar no herói que Metro City tanto precisa.


Os primeiros minutos de “Megamind” fazem uma clara alusão a “Superman” (1978) e mostram como é que Metro Man e Megamind se tornaram rivais e como é que um se tornou num famoso super-herói com uma personalidade narcisista e o outro num super-vilão solitário com uma personalidade muito pouco maléfica. À semelhança de “Despicable Me”, “Megamind” é protagonizado por um vilão que não é verdadeiramente um vilão mas sim uma personagem insegura e solitária que apenas se quer vingar da sociedade que o ostracizou e tal como o Gru de “Despicable Me”, Megamind acaba por abandonar a malignidade para se tornar no herói que o seu mundo/cidade tanto precisa. A fórmula do vilão que se torna herói não é a única semelhança entre “Despicable Me” e “Megamind” porque ambos utilizam a figura dos Minions (lacaios ou assistentes) para conferir algum humor adicional à história. O Minion deste filme é muito divertido mas não é tão adorável e carismático como os Minions de “Despicable Me”, no entanto, Minion cumpre a sua função de apoiar Megamind e também protagoniza alguns momentos hilariantes, sendo o maior aquele que nos aparece nos créditos finais. O próprio vilão deste filme, Tighten, tem algumas semelhanças físicas e mentais com o Vector da obra da Illumination Entertainment porque ambos representam os típicos nerds que subitamente se vêm com o poder para realizar todos os seus sonhos, no entanto, Tighten acaba por ser um pouco mais complexo que Vector porque nos mostra que nem todas as pessoas têm o carisma necessário para serem heróis e que o poder nas mãos erradas pode acarretar graves consequências. A rivalidade entre Metro Man e Megamind peca por ser curta, no entanto, é suficientemente longa para nos oferecer alguns dos melhores momentos humorísticos do filme, momentos esses que envolvem várias picardias recheadas de sarcasmo e ironia. É importante referir que Megamind e Metro Man obedecem a uma construção muito interessante que os classifica como os maiores rivais mas que também os caracteriza como os maiores amigos, algo que fica patente no sentimento de vazio que Megamind sente quando “mata” Metro Man e quando este passa tacitamente o seu papel de herói a Megamind durante a conclusão da história. A vertente romântica entre Megamind e Roxanne Ritchi é um bocado superficial e não acrescenta muito ao filme, servindo apenas como um dos meios para fundamentar a mudança de Tighten para o lado dos maus e de Megamind para o lado dos bons. A sua conclusão não é surpreendente ou inovadora porque se limita a castigar os maus e a presentear os bons com um final feliz. A história de “Megamind” não é original até porque esta contém vários elementos que vimos abordados em “Despicable Me” ou em outras obras animadas mas, ainda assim, este filme consegue nos apresentar uma história alegre que é protagonizada por personagens igualmente divertidas que obedecem a uma construção estereotipada mas eficaz.


A vertente visual de “Megamind” é extremamente positiva. Tom McGrath criou um mundo animado fluido e muito rico em cor onde somos constantemente confrontados com referências ao mundo dos super-heróis. As personagens também estão muito bem animadas e os cenários são ricos em pormenores, algo que se torna notório quando vemos Metro City. A sua banda sonora é composta por uma série de músicas mundialmente conhecidas como "Highway to Hell" dos AC/DC, “Welcome to the Jungle" dos Guns N' Roses ou "Bad" de Michael Jackson, músicas energéticas que normalmente não teriam lugar numa obra animada mas que se enquadram muito bem neste “Megamind”. O seu elenco vocal é de luxo. Will Ferrell empresta a sua voz e o seu carisma cómico a Megamind, um vilão que beneficia claramente com a voz deste actor que nem sempre nos oferece performances reais de qualidade. Após “Sinbad: Legend of the Seven Seas” (2003) também da DreamWorks, Brad Pitt volta a entrar numa obra animada mas desta vez empresta a sua voz a uma personagem secundária que aparece poucas vezes no ecrã, no entanto, Brad Pitt acaba por aproveitar as suas poucas falas para nos oferecer uma performance razoável que acaba por valorizar o filme. Tina Fey (Roxanne) e Jonah Hill (Tighten) também têm boas performances vocais secundárias. “Megamind” não é um filme complexo ou inovador mas é uma obra muito divertida que nos oferece uma vertente visual muito polida e cuidada, características que são suficientes para conquistar o público mas que muito dificilmente vão conquistar a Academia.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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