sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Espaço Memória – Merry Christmas Mr. Lawrence (1983)

Este espaço pretende evocar filmes fundamentais de um passado mais ou menos recente cuja importância lhes garante um lugar de honra na História do Cinema.

Realizado por Nagisa Oshima
Com David Bowie, Ryuichi Sakamoto, Tom Conti, Takeshi Kitano

Basta o nome de Oshima para despertar no público uma imensa curiosidade. Merry Christmas Mr. Lawrence é uma obra-prima na construção de tipos humanos. Num campo de concentração japonês, em 1942, os aliados rendidos são dominados pelos japoneses que os desprezam pela sua falta de honra. Entre os prisioneiros sobressai a figura do Major Jack “Strafer” Celliers (David Bowie), um oficial que, procurando redimir-se por uma culpa pessoal da sua juventude, arrisca tudo para ajudar os amigos. Elucidativa é a imagem do inicial suposto fuzilamento em que a personagem é filmada qual um Cristo na cruz. Mas não é só Bowie que brilha, John Lawrence (Tom Conti) é das figuras mais humanas da obra. Ele compreende a cultura japonesa, fala japonês e tenta por isso servir de intermediário entre os dois exércitos explicando aos restantes soldados as motivações estranhas dos japoneses. Este comportamento fá-lo parecer um cobarde, um traidor e um fraco aos olhos dos dois exércitos, mas não podemos deixar de concordar que ainda que pouco heróico ele é das mais plausíveis figuras recriadas. Do lado japonês as personagens são ainda mais enigmáticas, o Capitão Yonoi (Ryuichi Sakamoto) é um exemplo de como as crenças culturais moldam um carácter, legitimam as atitudes e nos levam, enquanto espectadores, a não encontrar personagens negativas entre as figuras principais. Todos eles são homens, todos tentam dar o seu melhor enquanto soldados e todos, cada um ao seu modo e dentro do seu sistema de valores, age em prol do Bem.


O filme concorreu a Cannes em 1983 e, embora não tenha ganho, é considerado por muitos um filme de culto. O argumento foi escrito a partir das obras de Laurens van der Post sobre a sua experiência enquanto prisioneiro de guerra. Imortal é também a banda sonora do filme composta pelo próprio Sakamoto, cujo tema “Forbidden Colours” correu mundo. Para além do choque de culturas, da profundidade dos caracteres, o filme aborda questões tabu fundamentais como a das relações homossexuais entre simples soldados de ambos os exércitos, ou a pura amizade que a partilha de tão duras condições acaba por criar entre todos os homens ali presentes. Há imagens inesquecíveis no filme, cuja fotografia é de Toichiro Narushima, como a do castigo final de Celliers, ou a da refeição de flores. Sem dúvida que Merry Christmas Mr Lawrence é um filme que marcou uma geração e uma originalíssima visão da Segunda Grande Guerra.

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