domingo, 14 de novembro de 2010

Crítica - RED (2010)

Realizado por Robert Schwentke
Com Bruce Willis, Mary-Louise Parker, John Malkovich, Helen Mirren, Morgan Freeman, Brian Cox, Karl Urban, Richard Dreyfuss

Basta olhar com atenção para a constituição do elenco de actores acima mencionado para facilmente percebermos que estamos perante um filme muito especial. Nos dias que correm, é cada vez mais raro depararmo-nos com um filme que consegue juntar tantas estrelas (umas já consagradas – como Helen Mirren, John Malkovich ou Morgan Freeman –, outras em claro estado de ascensão – como Mary-Louise Parker) dispostas a deixarem de lado os seus egos e simplesmente divertirem-se no set de rodagem. “RED” é um daqueles filmes que tem como objectivo máximo entreter o espectador e fazê-lo passar um bom bocado na mágica escuridão da sala de cinema. Um pouco à imagem de películas como “Burn After Reading” dos irmãos Coen, “RED” é, acima de tudo, uma obra maravilhosamente despretensiosa; uma obra que, misturando comédia inteligente com acção desenfreada, consegue fazer uma sátira mordaz ao mundo da espionagem, sem, contudo, entrar por caminhos demasiado sérios e mensagens políticas algo demagógicas.


Frank Moses (Willis) é um agente da CIA reformado que, pela primeira vez na sua vida, tenta tirar algum tempo para si mesmo, relaxando na sua confortável moradia dos subúrbios e procurando levar uma vida relativamente normal. Não tendo mais que passar os dias a olhar por cima do ombro com receio do ataque de um qualquer agente inimigo, Frank despende as suas energias a cortejar uma jovem telemarketer chamada Sarah Ross (Parker). Apesar de não se conhecerem, ambos percebem que existe uma certa química entre eles e decidem combinar um encontro para, finalmente, terem a oportunidade de levar a relação para um outro patamar. Poucos dias antes desse encontro, porém, Frank é atacado de surpresa por um bando de agentes encapuzados sem qualquer tipo de problema em premir o gatilho das suas metralhadoras. Obrigado a reviver os fantasmas do passado, Frank faz uso de toda a sua perícia para se livrar dos agentes e salvar a sua vida. Apercebendo-se de que o seu passado ainda tem pontas soltas que lhe podem ser fatais, Frank embarca então numa última aventura que o levará a “raptar” a jovem Sarah Ross e a reunir a equipa de agentes da CIA que, em tempos, foi considerada uma das mais perigosas, letais e eficazes equipas de todos os serviços secretos norte-americanos. Com a ajuda do lunático Marvin Boggs (hilariante John Malkovich), da mortífera Victoria (sempre elegante Helen Mirren) e do prestável Joe Matheson (Freeman), Frank inicia uma luta marginal contra a própria CIA, com o intuito de desocultar uma conspiração governamental e de salvar a vida a todos os seus companheiros de antigamente.


Aquilo que mais importa realçar deste “RED” é que se trata de uma obra extremamente divertida e descomplexada. Mais do que nos apresentar um argumento surpreendentemente original e sequências dramáticas dignas de um Óscar da Academia, “RED” esforça-se, acima de tudo, por oferecer ao espectador quase duas horas da mais ritmada e tresloucada das aventuras. Sejamos francos: não estamos perante o filme mais deslumbrante dos últimos anos. Porém, estamos certamente perante um dos mais refrescantes. O admirável e sempre competente elenco de fabulosos actores vale pelo filme inteiro, facilmente fazendo esquecer toda e qualquer falha relativa a um argumento algo previsível (ainda que divertido e refrescante). Dá um gozo tremendo ver actores como Helen Mirren e John Malkovich pegarem em bazucas e dispararem a torto e a direito, sempre com um sorriso demarcadamente irónico e bem-disposto no rosto. Tal como no já referido “Burn After Reading” e, por exemplo, “Ocean’s Eleven” de Steven Soderbergh, o divertimento dos variados actores vem à tona de forma perfeitamente evidente. Nota-se claramente que todos estão ali a passar um bom bocado e essa boa-disposição acaba, inevitavelmente, por contagiar mesmo o mais carrancudo dos espectadores.
“RED” deixa pormenores como o realismo da narrativa para trás das costas, precisamente para ampliar o espírito de sátira e de entretenimento inerentes à própria película. Robert Schwentke (realizador germânico de obras como o adorável “The Time Traveler’s Wife” e o intenso “Flightplan”) dá espaço para que os seus actores assumam posição de destaque e mesmo as sequências de mais fervorosa acção não escapam a deliciosos pormenores cómicos que desenham um sorriso na cara dos espectadores. Algumas transições de planos estão também muito bem conseguidas, servindo-se de diversos postais de turismo para situar o espectador na actualidade da narrativa e contribuindo para o ritmo bem vivaço com que toda a aventura se desenrola.


“RED” é um daqueles filmes raros que privilegiam o humor inteligente e o entretenimento bem fomentado, em detrimento de uma aura de negrume e de morbilidade que, de uma forma geral, mais agradam os críticos e os cinéfilos mais exigentes. A Sétima Arte está a passar por uma fase em que os filmes mais adorados e premiados são sempre os dramalhões ou os filmes de mensagem política e social. Se antigamente, o que as pessoas gostavam de ver eram as coboiadas em que o protagonista encerrava a película a beijar a sua amada e a sorrir para a câmara, hoje em dia a crítica tende a valorizar mais os filmes que acabam com a morte trágica desse mesmo protagonista. O negrume parece estar na moda. E, pessoalmente, eu até sou adepto desse negrume, porque acho que está mais de acordo com a realidade em que vivemos. Porém, de vez em quando, é um prazer enorme assistir a uma obra que se afasta completamente desse negrume e que pretende apenas fazer com que o espectador se ria às gargalhadas. Tais obras são como uma imensa lufada de ar fresco. E é isso mesmo que este “RED” é: uma lufada de ar fresco que, apesar de não ficar para a História da Sétima Arte, consegue entreter o espectador e cumprir por inteiro os seus propósitos.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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