sábado, 20 de novembro de 2010

Crítica - Copie Conforme (2010)

Realizado por Abbas Kiarostami
Com Juliette Binoche, William Shimell, Jean-Claude Carrière

O cineasta iraniano Abbas Kiarostami tem uma enorme simpatia pelas mulheres e pela sua mística feminina, assim sendo, não é de estranhar que a esmagadora maioria das suas obras se centrem em mulheres fortes e misteriosas que se vêm envolvidas em situações complexas que exaltam as suas melhores características. O seu novo trabalho, “Copie Conforme”, também segue esta fórmula feminista porque a sua história é centrada numa mulher forte e audaciosa que se vê subitamente envolvida num romance idílico que a vai obrigar a confrontar os seus maiores medos. É verdade que o seu enredo é extremamente subjectivo e intelectual mas também é verdade que não aborda temáticas tão complexas ou polémicas como aquelas que foram abordas em obras como “Shirin (2008) ou “Taste Of Cherry” (1997), no entanto, este “Copie Conforme” não é um drama banal ou comercial, muito pelo contrário, é um interessante “exame” filosófico e intelectual sobre o amor/relações e o tempo mas também sobre a essência da nossa existência. A sua história é protagonizada por James (William Shimell), um conhecido filósofo artístico e escritor inglês que vai até Lucignano na Toscana (Itália) para apresentar o seu mais recente livro sobre o valor artístico da cópia/réplica no mundo das artes. Após a sua conferência, James conhece Elle (Juliette Binoche), uma simpática galerista francesa que vive em Itália com o seu filho pré-adolescente. James e Elle decidem passear por Lucignano e durante esse passeio acabam por ser confundidos por um casal e por brincadeira decidem encenar esses papéis, no entanto, essa amigável encenação acaba por os aproximar romanticamente.


A sua narrativa é difícil de resumir ou de criticar porque a sua interpretação está muito dependente da opinião pessoal de cada espectador, no entanto, é possível identificar alguns dos temas que Kiarostami fez questão de destacar, assim sendo, somos confrontados com inúmeras alusões à arte e ao tempo, umas são mais subtis e significativas que outras mas a verdade é que ambos os temas estão intimamente ligados às duas personagens que protagonizam esta obra e aos seus temas centrais – o amor e a vida. James e Elle são especialistas em arte, assim sendo, esta está profundamente ligada às suas vidas que foram construídas e desenvolvidas à volta de certos ideias artísticos que ambos valorizam à sua maneira e que de certa forma tentam incutir às suas relações. James e Elle também estão ligados pelo tempo e pela sua inerente crueldade, no entanto, Elle acabou por ser a mais afectada pela irreverência do tempo e da própria vida, uma ideia que fica claramente patente na segunda metade desta obra. O aparente clima romântico entre James e Elle também é desenvolvido com muita delicadeza e qualidade, nunca atingindo um nível excessivamente romântico ou melodramático porque é pautado por uma extrema simplicidade que lhe confere um certo realismo e credibilidade, no entanto, este romance serve apenas como um mero complemento à verdadeira essência desta obra que tem como principal objectivo explorar a natureza da humanidade e a forma como esta é modificada e afectada por certas condicionantes. “Copie Conforme” é composto por maravilhosos diálogos entre James e Elle, diálogos esses que nos oferecem todos os elementos necessários para compreendermos esta produção que valoriza a nossa inteligência e a nossa sensibilidade através de vários apelos à nossa precepção, apelos que assumem a forma de metáforas e ironias que tornam mais complicada a nossa tarefa de objectificar este “Copie Conforme”. A sua conclusão acompanha a subjectividade da introdução e do desenvolvimento, deixando portanto o espectador sem muitas respostas a muitas perguntas que vão sendo levantadas, no entanto, cabe ao próprio espectador oferecer as respostas e preencher as lacunas com a sua própria interpretação dos vários acontecimentos desta obra e do extenso diálogo entre James e Elle. “Copie Conforme” é um maravilhoso trabalho de Abbas Kiarostami, um filme extremamente interessante que é ambientado num maravilhoso cenário e que nos obriga a reflectir sobre os vários temas e as várias questão que são levantadas pelos inúmeros diálogos entre James e Elle, duas personagens que são brilhantemente interpretadas por Juliette Binoche e William Shimell.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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