segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Crítica - Resident Evil: Afterlife (2010)

Realizado por Paul W. S. Anderson
Com Milla Jovovich, Ali Larter, Shawn Roberts, Wentworth Miller

Após três incursões pelo apocalíptico universo da maléfica Umbrella Corporation e seu precioso T-Virus, os responsáveis dos estúdios Screen Gems optaram por devolver o importante posto da realização a Paul W. S. Anderson – realizador do primeiro (e desastroso) filme da saga. Colocados nas mãos de realizadores inexperientes e relativamente desconhecidos, “Resident Evil: Apocalypse” e “Resident Evil: Extinction” não conseguiram obter as estrondosas receitas de box-office que os seus produtores desejariam e, pior do que isso, mantiveram a qualidade artística da saga em níveis verdadeiramente medíocres. Daí que, para este quarto filme da saga, Paul W. S. Anderson tenha sido o eleito para retomar as rédeas do franchise com um grande objectivo em mente: recuperar a atenção do público para este seu Resident Evil (sublinhe-se o “seu”, já que esta saga cinematográfica pouco ou nada respeita o espírito dos fantásticos videojogos nos quais se baseia), que parecia prestes a morrer sem que ninguém desse por isso.


O grande problema é que Paul W. S. Anderson está longe de ser um salvador da pátria. Reconheço que o homem filma com muito mais “pinta” do que os seus antecessores; mas por outro lado, é um péssimo director de actores e parece escrever os seus argumentos com um pensamento única e exclusivamente centrado no número de explosões que a película irá conter (deixando para segundo plano aspectos tão fulcrais como o realismo da narrativa e a profundidade dramática das múltiplas personagens). De facto, este “Resident Evil: Afterlife” é um filme de encher o olho. Pela primeira vez, os zombies estão verdadeiramente assustadores (fazendo-nos até saltar da cadeira por uma ou duas vezes, imagine-se!); os cenários de destruição conseguem surpreender-nos pela forma como estão cautelosamente arquitectados; e até algumas das sequências de acção nos fazem acenar a cabeça de aprovação, oferecendo-nos pouco mais de hora e meia de um entretenimento cheio de estilo. Porém, há sempre o reverso da medalha… E neste caso, ele prende-se com o facto de Anderson dar mais valor a cenas cheias de estilo do que a um fio narrativo minimamente sólido e convincente.
Aquilo que imediatamente nos salta à vista é a forma descarada como o realizador inglês usa e abusa dos irritantes slow-motions, das descabidas explosões e dos anedóticos golpes de karaté contra possantes monstros de três metros de altura. Anderson esforça-se tanto por nos entregar uma película cheia de estilo… que, inevitavelmente, acaba por enterrar “Resident Evil: Afterlife” num show de patetice irrealista que, por vezes, até arranca gargalhadas da audiência.


Para ajudar à festa, a fraca narrativa continua a não ajudar muito, até porque nos traz mais do mesmo que já tínhamos visto nas obras anteriores (sim, até mesmo o twist final do costume está presente (!), sempre previsível e nada surpreendente, apenas para garantir uma possibilidade de dar seguimento ao franchise…). “Resident Evil: Afterlife” começa com Alice (Jovovich em piloto automático) a tomar de assalto as instalações japonesas da Umbrella Corporation, aparentemente guardadas por um infernal bando de ceguinhos com metralhadoras a disparar pólvora seca. Depois de um violento confronto com o presidente da referida corporação – Albert Wesker (carrancudo Shawn Roberts ainda a meditar sobre a forma como conseguiu ser escolhido para o papel, tal é a evidência da sua falta de talento) –, Alice viaja até ao Alasca em busca de um refúgio designado de Arcadia, local onde é suposto estar a decorrer uma concentração dos sobreviventes que não se encontram infectados pelo T-Virus. É na busca desse refúgio que Alice reencontra Claire Redfield (Ali Larter mais preocupada em manter o penteado do que em oferecer-nos uma prestação decente), agora possuída por um aparelho em forma de aranhiço metálico que não a infectou com o terrível vírus, mas que a deixou com marcas de um Alzheimer deveras preocupante. Enquanto aguarda que Claire recupere a memória perdida, Alice retoma a sua busca por Arcadia, sempre na esperança de encontrar outros sobreviventes que adiram à sua causa de destruir a corrupta Umbrella Corporation. A certa altura, ambas acabam por aterrar o avião em que viajam na arruinada cidade de Los Angeles. Uma cidade que trará novos conhecimentos, novos aliados, novos inimigos, um reencontro de cariz familiar… e também um novo confronto com o grande vilão de óculos escuros e cabelo sufocado em gel barato (Albert Wesker, para quem não conhece o universo Resident Evil).
Como facilmente se compreende, “Resident Evil: Afterlife” não marca pontos com a sua narrativa relativamente limitada. Nem, tão-pouco, apresenta grandes pontos fortes no que concerne as interpretações do elenco. Como já tive oportunidade de referir, na minha opinião, Paul W. S. Anderson não é um bom director de actores. E esta obra é a prova perfeita disso mesmo. Larter e Roberts são extremamente limitados e nunca conseguem incutir um mínimo de profundidade dramática às suas personagens. Wentworth Miller (no papel do famoso Chris Redfield) também não está muito melhor, exagerando sobremaneira na forma como tenta atribuir a imagem de “durão” à sua personagem. E quanto a Milla Jovovich (de longe a mais experiente e talentosa actriz de todo o elenco), a sua interpretação de Alice cumpre mas está a milhas de nos encantar.


Esqueçam o rótulo de filme de terror (é preferível nem entrarmos por aí, porque senão haveria muito mais de negativo a dizer). Acima de tudo, e contrariando completamente o espírito do videojogo que o inspira, “Resident Evil: Afterlife” é um filme de acção pura e dura. Claro que existem alguns elementos assustadores, com máximo destaque para as caracterizações e conceptualizações dos vários monstros, que finalmente fazem jus àquilo que o videojogo nos oferece. Porém, o principal objectivo deste filme é entreter; e não assustar. Aqui não faltam cambalhotas, explosões e duelos de pistolas ao bom estilo do criativo “The Matrix”. No seu todo, “Resident Evil: Afterlife” acaba por agradar ao olhar do espectador mais impressionável e menos exigente. Pois para além de boas sequências de acção, pouco ou nada mais tem para nos oferecer.
Em suma, este último tomo da saga não difere muito dos anteriores. Talvez seja superior em termos puramente técnicos. Mas está muito longe de convencer em termos artísticos. Para aqueles que simplesmente procuram diversão e uma boa dose de pancadaria com mortos-vivos à mistura, “Resident Evil: Afterlife” afirma-se como a escolha perfeita. Vejam-no com o vosso grupo de amigos e decerto obterão bom entretenimento. Já para todos os outros que não se contentam com cinema puramente “pipoqueiro” e pouco sofisticado, a última obra de Paul W. S. Anderson certamente vos repelirá da mesma forma que um crucifixo repele um sequioso vampiro das trevas.

Classificação – 2,5 Estrelas Em 5

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