sábado, 4 de setembro de 2010

Crítica - Brothers (2009)


Realizado por Jim Sheridan
Com Jake Gyllenhaal, Natalie Portman, Tobey Maguire, Sam Shepard

O realizador dos aclamados “My Left Foot: The Story of Christy Brown” (1989) e “In the Name of the Father” (1993), Jim Sheridan, aceitou a difícil missão de criar uma versão norte-americana de “Brødre” (2004) de Susanne Bier, um excelente filme sobre os traumas psicológicos e as consequências sociais que os conflitos armados têm nos soldados e nas suas famílias. O trabalho de Sheridan, “Brothers”, não é tão ousado ou tão intelectual como o trabalho de Bier, no entanto, não deixa de ser um bom filme dramático. A sua história é protagonizada por Sam (Tobey Maguire) e Tommy Cahill (Jake Gyllenhaal), dois irmãos que têm duas vidas completamente distintas porque enquanto Sam é um soldado responsável e exemplar com uma família aparentemente perfeita, Tommy é um solteirão irresponsável e sem qualquer meio de subsistência. A vida destes dois irmãos é drasticamente alterada quando Sam é enviado para o Afeganistão, onde durante uma missão rotineira o helicóptero onde seguia é tragicamente abatido nas montanhas e Sam é dado como morto, cabendo agora ao seu irmão a difícil tarefa de confortar a sua família, no entanto, Tommy vai criando laços cada vez mais fortes com Grace (Natalie Portman), sua cunhada, e com as suas duas sobrinhas, Elsie e Maggie, uma situação que acaba por não agradar a Sam que afinal se encontra vivo e que agora regressa a casa após ter sido libertado do seu infernal cativeiro que lhe causou vários traumas emocionais.


O enredo de “Brothers” é relativamente interessante mas não é muito inovador ou audacioso, muito pelo contrário, é um enredo que se centra em temáticas muito comuns, mais concretamente, nos vários problemas que afectam o quotidiano de uma simples família norte-americana. Sam (Tobey Maguire) e Tommy (Jake Gyllenhaal) são dois irmãos, um herói e um rebelde, que sempre se deram bem apesar das suas obvias diferenças, no entanto, esta sua relação de amizade e de irmandade foi sempre posta à prova pela sua família que sempre privilegiou Sam, um individuo que sempre teve a sorte do seu lado e que sempre teve mais e melhores conquistas pessoais que o seu irmão Tommy, um verdadeiro estorvo para a sociedade e para o seu pai, Hank (Sam Shepard), um homem que sempre enalteceu Sam e sempre criticou Tommy por este não ter nenhuma responsabilidade ou maturidade. A vida e a rotina desta família é fortemente alterada quando Sam “morre em combate” e Tommy é forçado a assumir as responsabilidades do seu falecido irmão, uma mudança que altera drasticamente a dinâmica desta família porque para além de aproximar Tommy do seu pai e da família do seu irmão, também vai acabar com a forte amizade entre Tommy e Sam porque quando este regressa descobre que tanto a sua mulher, Grace, como as suas filhas, Elsie e Maggie, acabaram por se aproximar muito do homem que antes odiavam mas que aparentemente assumiu o seu papel de homem de família na perfeição. Os ciúmes de Sam são exacerbados pelos vários traumas (stress pós-traumático) que sofreu durante o tempo em que esteve sob a “custódia” dos rebeldes talibãs no Afeganistão que o torturaram e o obrigaram a cometer inúmeras atrocidades contra os seus próprios camaradas. A narrativa de “Brothers” aborda convenientemente todos estes conflitos e todas estas problemáticas familiares, no entanto, poderia ter gasto muito mais tempo a explorar a reintegração de Sam na sociedade e o crescer da sua paranóia e desconfiança para com Tommy e Grace, duas personagens que nunca traíram verdadeiramente Sam mas que estiveram muito próximo de o fazer. O triângulo amoroso que se vai estabelecendo entre Tommy, Grace e Sam nunca chega a ser um verdadeiro triangulo romântico porque Tommy e Grace nunca se assumem como um casal ou confessam os seus verdadeiros sentimentos e quando Sam regressa eles nunca mais se voltam a aproximar romanticamente, no entanto, esta vertente acaba por ser fundamental para a trágica conclusão da história. As várias cenas que nos mostram o cativeiro de Sam no Afeganistão são muito boas e mostram como é que um herói altruísta e um soldado exemplar se transforma num paranóico assassino que traiu todos os seus valores e crenças para salvar a sua vida. Em suma, “Brothers” é composto por uma história interessante mas ocasionalmente melodramática que nos faz reflectir sobre os efeitos corrosivos dos conflitos armados e sobre a capacidade que os seres humanos têm em crescer e superar as adversidades que a vida lhes coloca.


O experiente Jim Sheridan não transformou “Brothers” num mau remake de “Brødre” mas também não conseguiu superar a frontalidade e a criatividade desta obra nórdica que é menos artificial e comercial que a sua versão norte-americana. A vertente técnica de “Brothers” é bastante aceitável e é notório que Jim Sheridan prestou muita atenção aos pormenores e não divergiu muito do estilo cinematográfico que Susanne Bie utilizou em “Brødre”. A fotografia de Frederick Elmes é bela e coerente com o estado de espírito das personagens principais, este facto é especialmente notório na maioria das cenas que nos mostram Sam no Afeganistão porque estas são pautadas por cores escuras e esbatidas que demonstram a crueldade da sua situação. O elenco de “Brothers” também nos oferece uma prestação extremamente positiva. Tobey Maguire e Natalie Portman conseguem duas interpretações bastante maduras e convincentes e Maguire consegue mesmo uma das suas melhores performances dos últimos anos. Jake Gyllenhaal não está tão bem como Tobey Maguire mas também nos apresenta uma performance positiva. As pequenas actrizes, Bailee Madison e Taylor Geare, também se destacam pela positiva. “Brothers” é um bom filme dramático que deverá agradar a todos os espectadores que apreciem este tipo de filmes, no entanto, não é uma obra tão realista ou tão cativante como a versão nórdica.

Classificação - 3,5 Estrelas Em 5

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