domingo, 26 de setembro de 2010

Crítica - After.Life (2009)

Realizado por Agnieszka Wojtowicz-Vosloo
Com Christina Ricci, Liam Neeson, Justin Long

Mais um filme que chega às salas de cinema portuguesas com um ano de atraso. E curiosamente, depois do surpreendente “Drag Me To Hell”, mais um filme que aborda uma temática sobrenatural, classificando-se dentro do género do Thriller/Terror. Aliás, as últimas semanas têm sido marcadas pela estreia desenfreada de inúmeros filmes deste género cinematográfico, o que nos deixa com a sensação de que as distribuidoras portuguesas elegeram o mês de Setembro para “despachar” dos seus poeirentos arquivos tudo aquilo que pudesse estar relacionado com o campo do Fantástico.
Se assim foi, para esta semana decidiram reservar-nos um filme que, como tantos outros antes de si, aborda aquilo que o ser humano mais receia: a morte; ou melhor, o que está para além dela. De facto, este é o maior mistério da existência humana. Haverá mesmo uma vida após a morte? E se sim, de que forma se desenrola essa mística viagem para o reino do Além? Pelas mãos de inúmeros artistas e ao longo de muitos séculos, as mais diversas formas de arte debruçaram-se sobre este tema, presenteando-nos com as suas particulares crenças e interpretações. E em pleno século XXI, mais propriamente no ano de 2009, Agnieszka Wojtowicz-Vosloo decidiu também partilhar connosco a sua visão muito própria do pós-vida.


“After.Life” dá-nos a conhecer Anna Taylor (Ricci), uma jovem professora primária absolutamente desencantada com o rumo que a sua vida tomou. Irreversivelmente ferida pelo seu próprio historial de vida, Anna desenvolve uma personalidade fria e rígida, perfeitamente incapaz de expressar grandes emoções devido ao eterno receio de vir a sofrer um qualquer desgosto. Como seria de esperar, tal personalidade acaba por prejudicar a saúde do relacionamento com o seu namorado Paul Coleman (Long). E é após uma acesa discussão com Paul, que uma chorosa Anna se mete no carro e, ao conduzir de regresso a casa, acaba por colidir com um pesado camião de mercadorias. Várias horas mais tarde, confusa e desnorteada, Anna acorda no interior de uma morgue, deitada sobre uma gélida cama de mármore e sem conseguir mexer um único músculo. E como se isto não bastasse para alarmá-la sobremaneira… ela dá de caras com um homem chamado Eliot Deacon (Neeson), que lhe garante que ela morreu e lhe diz que está na altura de preparar o seu funeral. E perante tão macabra situação, sentindo o seu coração palpitar e os seus pulmões absorverem ar, Anna conclui que está perante um insano psicopata e tenta por todos os meios escapar a tão trágico destino. Mas será que é Eliot quem sofre de perturbações mentais, ou estará a defunta alma de Anna em simples estado de negação? Essa é a grande questão…
O principal objectivo deste “After.Life” passa sempre por deixar o espectador em constante estado de dúvida. Mesmo quando a narrativa se desenrola num determinado sentido, a cena seguinte apresenta-nos algo de novo e volta a enterrar-nos no campo da incerteza. Tão depressa temos a certeza de que Eliot Deacon é um vilão sem escrúpulos, como poucos minutos mais tarde já começamos a acreditar que talvez ele não passe de uma vítima incompreendida. Este é um daqueles filmes que está sujeito a inúmeras interpretações. Garantidamente, cada espectador sairá da sala de cinema com as suas próprias interpretações e conclusões. Até porque o filme termina de forma deveras misteriosa, nunca nos facultando uma resposta clara e concreta quanto àquilo que acabámos de visionar. “After.Life” não é como um policial que termina com a apreensão do criminoso e com o espectador a compreender tudo o que se passou. Muito pelo contrário, esta trata-se de uma obra que pretende fomentar uma certa polémica e discussão entre a audiência.


Ora, muitas das vezes, tal pretensão revela-se positiva e satisfatória. Quanto mais não seja pelo facto de a narrativa se afastar daquilo que todos já estão à espera, trazendo assim algo de fresco para o espectador se deliciar. Porém, tal abordagem pode igualmente desabrochar como um pau de dois bicos. Principalmente se o argumento for mal trabalhado e deixar algumas arestas por limar. O que, infelizmente, é o que acontece em “After.Life”. Não que o seu argumento (também escrito por Wojtowicz-Vosloo) seja fraco ou fastidioso. Simplesmente, na sua ambição de deixar os miolos do espectador a andar à roda, acaba por se tornar algo confuso (sobretudo na recta final), caindo num certo irrealismo que nos faz duvidar da autenticidade das personagens.
E no que às personagens diz respeito, a de Liam Neeson vale o filme por completo. Christina Ricci e Justin Long cumprem com as exigências do seu trabalho de forma extremamente competente, mas é, sem dúvida, Liam Neeson quem absorve todas as luzes da ribalta. Na fria e arrepiante personagem de Eliot Deacon, concentra-se toda a mensagem que a película pretende transmitir. Sem qualquer tipo de constrangimento, a realizadora de origem polaca serve-se de Deacon para criticar uma sociedade que, por muito que tenha, nunca parece saciar-se e é absolutamente incapaz de dar o devido valor à vida. E é nestes dois pontos que se encontram as virtudes desta obra; na excelente interpretação de Neeson e na mensagem que a sua personagem nos tenta transmitir (ainda que de forma cruel e pouco convencional).
Em suma, “After.Life” afirma-se como um filme interessante e de agradável visionamento. Mas ainda assim, é garantido que depressa será relegado para o mais que provável esquecimento. A confusa e enjoada personagem de Christina Ricci não consegue convencer-nos totalmente da credibilidade das suas acções e, apesar de relativamente original, a narrativa acaba por se perder num obscuro túnel de pontas soltas e acontecimentos pouco convincentes. O que faz com que a película desagúe numa mediania que nem nos aquece, nem nos arrefece.

Classificação – 3 Estrelas Em 5

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