sexta-feira, 30 de julho de 2010

Espaço Memória - Belissima (1951)

Realizado por Luchino Visconti
Com Anna Magnani, Walter Chiari, Tina Apicella, Gastone Renzelli

Este filme consegue juntar, num só, o meu realizador preferido, a minha actriz favorita e um argumento que me é excepcionalmente caro. Bellissima fica na História atrás de obras como Il Gatopardo ou Rocco e i il suoi fratelli mas não deixa de ser uma obra fascinante. Este encanto do filme deve-se, sem sombra de dúvida, à fortíssima interpretação de Magnani, num papel de uma mãe que sonha a todo o custo fazer a sua pequena filha, Maria (Tina Apicella), singrar no mundo do cinema. Não se trata do american dream mas é, indubitavelmente, o Cinencittà sogno, numa Roma do pós-guerra onde o cinema é ainda uma máquina de ilusões. Os filmes deslumbram, não só enquanto Maddalena e Spartacu Cecconi assistem ao cinema ao ar livre visível do seu quintal, e Maddalena se encanta com a existência de outros mundo para além do seu, mas também quando um realizador faz castings para encontrar uma menina para um filme e todas as mães imaginam ter em casa uma futura estrela.


Magnani é o ponto mais forte da obra, como já disse, com a sua beleza difícil, temperamento explosivo, coração na boca e atitude terra-a-terra domada, no entanto, pelas quatro estaladas habituais que o marido lhe dá para a acalmar. Que maior realismo podíamos esperar de uma actriz? Esta personagem, aparentemente transparente, acaba por se revelar muito complexa, pois ela, em nome de uma ilusão, de um amor infinito à filha, não se coíbe de explorar o seu trabalho, mentir ao marido, gastar mais do que tem, permitir aproximações adúlteras a Alberto Annovazzi (Walter Chiari), em troca de um suborno que facilite a selecção da pequena Maria. É ingénua, voluntariosa, apaixonada e muito sonhadora a ponto de só com o choque que apanha na sala de visionamento do casting da filha perceber como a estava a maltratar e cair, então, num desespero sem fim tão tolo como a ilusão inicial.
Esta denúncia do mundo intrincado do cinema onde sexo pode comprar arte, onde o trabalho infantil tem toques de glamour, onde a realidade pode ser completamente destruída pelo sonho é uma auto-reflexão muito interessante, uma análise do cinema sobre si mesmo e aquilo que envolve, digna de nota e ainda muito actual. Este filme nunca recebeu até hoje o reconhecimento de que merecia, tendo apenas sido galardoado com uma distinção do Sindicato dos Jornalistas italiano para a interpretação de Anna Magnani, no entanto considero-o uma das mais simples mas mais incisivas obras do profícuo realizado italiano.

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