domingo, 18 de abril de 2010

Crítica - Clash of the Titans (2010)

Realizado por Louis Leterrier
Com Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Gemma Arterton, Alexa Davalos, Mads Mikkelsen

Para além de ser um videojogo fabuloso a todos os níveis, “God of War” – a épica tragédia grega do solitário e atormentado guerreiro espartano chamado Kratos – teve também o mérito de voltar a colocar a fantástica e sangrenta mitologia grega na ribalta da cultura popular. Apercebendo-se do sucesso e do imenso potencial (a nível estético e visual) desta eterna mitologia, Hollywood não demorou muito a entrar na onda da Grécia Antiga. Tal como seria de esperar, a indústria cinematográfica norte-americana percebeu que a mitologia grega voltava a estar na ordem do dia e logo aproveitou para pôr em marcha vários projectos relacionados com esta temática. Este “Clash of the Titans” é o primogénito desta nova onda de fantásticos épicos situados na cruel Grécia Antiga.


Apesar de os nossos céus ainda se encontrarem preenchidos por negras e tenebrosas nuvens, é inevitável a sensação de que o Verão está a chegar. Pelo menos no que ao cinema diz respeito, a época mais quente do ano aproxima-se a passos largos. “Clash of the Titans” é o primeiro grande blockbuster do ano e marca a entrada oficial da Sétima Arte na adorada/odiada época dos blockbusters “hollywoodescos”. Estamos perante um filme que cumpre essencialmente ao nível dos efeitos especiais e de toda a sua estética visual. Uma obra que tem as suas falhas/incongruências a nível de argumento, mas que contém uma componente visual opulenta e que nos apresenta uma grande aventura repleta de acção e CGI do mais alto gabarito. Não tendo sido idealizado para o formato 3D desde a sua fase inicial, “Clash of the Titans” acaba por não tirar o máximo partido desta revigorada tecnologia. Principalmente nestas obras de grande e apelativa componente visual, o 3D costuma funcionar na perfeição, enaltecendo ainda mais a espectacularidade da acção. Porém, é preciso que essa aposta seja conceptualizada logo de início, numa fase de pré-produção. Caso contrário, o assombro do 3D emerge apenas em 30 ou 40% da película, não se revelando muito eficaz nem capaz de provocar o encanto desejado. Ainda assim, esta criativa obra de Louis Leterrier está muito bem filmada e consegue fazer com que a opulência dos cenários e das sequências de acção cativem a atenção do espectador.
Tendo como base a película homónima de 1981, “Clash of the Titans” conta-nos a história de um órfão pescador chamado Perseus (Worthington). Perseus desconhece as suas próprias origens e vive com o tormento de não saber o propósito da sua existência na Terra. Porém, num dia como tantos outros, tudo vai mudar. Numa feroz e inesperada ofensiva de Hades (Fiennes) – o Deus do Submundo – contra os humanos que se erguem contra os impiedosos Deuses do Olimpo, a família adoptiva de Perseus é assassinada e este vê-se subitamente abandonado na decadente cidade de Argos. É aí, após uma série de incidentes, que Perseus fica a saber que é filho de Zeus (Neeson) - Rei do Olimpo - e portanto, um semideus. Começando a tomar conta dos seus próprios poderes e impressionantes capacidades de guerreiro, Perseus une esforços com uma legião de soldados e parte numa épica viagem de vingança contra o maldoso Deus que o privou de todos os que o amavam. Ao longo do caminho, numa peregrinação que o levará a enfrentar lendárias criaturas como a Medusa e o Kraken, Perseus contará com a ajuda da misteriosa Io (Arterton) e chegará à conclusão de que, num desigual confronto entre Deuses e mortais, os seus heróicos actos ditarão o futuro de Argos e de toda a humanidade.


Tenho que ser justo. Analisando o filme no seu todo, “Clash of the Titans” apresenta um ponto forte e dois pontos fracos. O ponto forte prende-se com a já abordada magnífica componente visual, que aproveita todo o potencial da mitologia grega para nos oferecer uma aventura sobrenatural cheia de acção, heroísmo e sublimes efeitos especiais. Nesse ponto, a mais recente obra de Leterrier não tem como defraudar as expectativas do espectador. O problema está nos seus dois pontos fracos: um defeituoso argumento (uma vez mais) e a correria desenfreada da narrativa onde as personagens não encontram qualquer espaço para se aprofundarem e afirmarem devidamente. Por um lado, nota-se a triste exigência dos produtores em lançar o filme com uma duração nunca superior a duas horas. É um fenómeno cada vez mais comum no cinema actual. As produtoras pensam apenas nas receitas do box-office e praticamente exigem aos seus realizadores que nunca ultrapassem essa duração de tempo na montagem final, de forma a que se possam realizar mais sessões por dia e assim recolher mais uns trocados no lucro final. E isto, infelizmente, em detrimento da qualidade da película. Pois vejamos: se a história decorre com uma pressa desenfreada e as personagens não têm tempo para se aprofundarem, o resultado final vai ser completamente inócuo e vazio de significado. Não podemos ter duas personagens a conhecer-se numa cena e na seguinte já estarem aos abraços como se fossem melhores amigos há muitos anos. É preciso dar tempo para que a história se consolide e para dar aquela sensação de verdadeira peregrinação e sentido de aventura à película. Como já antes referi, basta atender ao exemplo da trilogia “The Lord of the Rings”. Acham que o fenomenal resultado seria o mesmo se Peter Jackson tivesse optado por convergir a grande viagem de Frodo e seus companheiros num único filme de duas horas? Obviamente, não.


Por outro lado, não deixa de ser verdade que o débil argumento deste “Clash of the Titans” não oferece grandes possibilidades de fazer algo melhor. Aqui e ali, notam-se demasiados clichés e uma imaturidade que começa a ser excessivamente comum nas produções bombásticas de Hollywood. O maior exemplo dessa infantilidade é a sofrível e perfeitamente desnecessária cena final, e dito isto, numa altura em que cada vez mais se discutem a qualidade e competência dos cineastas actuais, levanto aqui uma pertinente questão: dado que o trabalho de Leterrier é perfeitamente competente e dado que, nos últimos tempos, a causa dos fiascos parece sempre abater-se sobre os argumentos, talvez não estejamos em crise de cineastas; o mais provável é estarmos em crise de argumentistas e para o bem do cinema mundial, é urgente descobrir novos argumentistas. Os argumentistas criativos, originais e capazes de fugir aos habituais clichés e happy endings da Sétima Arte norte-americana.
Mas enfim, já muito foi dito e o que realmente importa realçar é que “Clash of the Titans” se afirma como o típico blockbuster de Hollywood: acção a rodos, grandes cenários, fantásticos efeitos especiais e um argumento que deixa muito a desejar. Como tal, estamos perante um filme perfeito para quem se quiser divertir numa tarde de sábado com um balde de pipocas na mão. Para aqueles que vêem o cinema como algo mais, “Clash of the Titans” poderá fazer-vos sair da sala com um sorriso amarelo num rosto ligeiramente desapontado.

Classificação – 3 Estrelas Em 5

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