quinta-feira, 18 de março de 2010

Crítica - Solomon Kane (2009)

Realizado por Michael J. Bassett
Com James Purefoy, Pete Postlethwaite, Rachel Hurd-Wood, Max von Sydow

Tive a oportunidade de visionar “Solomon Kane” – o mais recente trabalho do jovem realizador Michael J. Bassett – na cerimónia de abertura da recentemente terminada 30ª edição do FantasPorto. Apesar de estar longe de ser um filme brilhante, “Solomon Kane” é daqueles filmes que consegue chamar a atenção e cativar a grande maioria dos espectadores. Seja pela atraente e apelativa componente visual, seja pela simpatia que o grande público habitualmente tem para com este tipo de épicos fantásticos que nos transportam para mundos onde o heroísmo, a bravura e a aventura reinam sem fim, o certo é que “Solomon Kane” praticamente esgotou as duas sessões da abertura oficial do festival internacional de cinema do Porto. E como se isso não bastasse, apesar da crítica em geral não ter muito de positivo a dizer acerca do filme, “Solomon Kane” venceu mesmo o Prémio do Público do “Fantas” 2010. Distinção imerecida? Exagerada? Tudo leva a crer que sim.


Não que esta obra do género “fantástico” seja abominavelmente má ou desprezível; mas como tantos outros filmes do género, “Solomon Kane” não consegue levar a bom porto uma primeira meia hora de bom nível, acabando por sofrer dos males de um argumento com inúmeras falhas e com uma notável impotência para aproveitar o enorme potencial e carisma da sua personagem principal. Culminando numa película modesta, previsível e frustrantemente decepcionante.
A narrativa leva-nos a acompanhar as aventuras de Solomon Kane (Purefoy), um guerreiro errante, poderoso, arrogante e ganancioso. Sem casa onde se albergar, Kane vive para a guerra e para o furor da conquista, adoptando o caos da batalha como seu único verdadeiro habitat. É no fervor de mais uma sanguinária conquista que o impiedoso guerreiro dá de caras com o Ceifeiro do Diabo. Esta poderosa, temível e impressionante criatura diz-lhe que, em virtude dos seus pecados e de todas as vidas humanas que tirou, Kane está condenado a morrer naquele mesmo instante, devendo ajustar contas com o Diabo nos Infernos. Mas, vigoroso e batalhador, Solomon Kane não está disposto a morrer ainda… Tal determinação leva-o a combater a criatura e a escapar do seu anunciado tormento. Porém, apesar disto, a alma de Kane fica irremediavelmente condenada e, após vários meses de reclusão e meditação, o guerreiro acaba por encontrar uma única escapatória para a sua maldição: se quiser salvar a sua alma, Solomon Kane terá de ajudar uma pobre família a escapar das garras do Mal. Pois ele ainda está a tempo de fazer valer os seus talentos em nome do Bem e de uma causa nobre e decente.


O grande (e único) trunfo do filme reside no arrojo da sua componente visual. “Solomon Kane” coloca o espectador no centro de batalhas arrebatadoramente épicas e cenários morbidamente apelativos. Muitas estranhas criaturas se escondem nas sombras e não hesitam em fazer frente à icónica e determinada personagem. O que enaltece o espírito de aventura, algo essencial para que este tipo de películas tenha o mínimo sucesso no grande ecrã. James Purefoy consegue trazer algum carisma à personagem, representando com sucesso aquela figura do guerreiro errante, solitário e ferido por um passado trágico. Como se percebe, a junção de tal personagem com um ambiente fantástico semelhante a um pós-apocalipse, tinha potencial para nos oferecer muito mais. Porém, o defeituoso e previsível argumento amputa qualquer possibilidade de criar algo diferente, dotando “Solomon Kane” da (infelizmente) habitual série de clichés imaturos, irrealistas e terrivelmente previsíveis.
De facto, após um primeiro terço de filme empolgante, enérgico e cativante, a narrativa acaba por ir perdendo força com o passar dos minutos. A certa altura e apesar dos esforços de Purefoy, tudo começa a decorrer de forma muito “certinha” e “hollywoodesca”, conferindo a “Solomon Kane” a inglória etiqueta de “apenas mais um filme épico de acção”. Para os adeptos de épicos vistosos e recheados de criativos efeitos especiais, “Solomon Kane” não terá como desiludir. Para os defensores de um cinema mais exigente e dotado de rasgos de genialidade fora do vulgar, esta obra de Michael J. Bassett depressa cairá no esquecimento.

Classificação – 3 Estrelas Em 5

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