sábado, 13 de março de 2010

Crítica - The Lovely Bones (2009)

Realizado por Peter Jackson
Com Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Stanley Tucci, Susan Sarandon

Muito se tem dito e escrito sobre a mais recente obra cinematográfica de Peter Jackson, genial criador da colossal trilogia “The Lord of the Rings” e da criativamente interessante nova versão de “King Kong”. A ideia generalizada que se tem imposto é a de que “The Lovely Bones” é um autêntico fracasso; um filme medíocre e inaceitável para o currículo de tão aclamado e prestigiado realizador. Nesta crítica, tentarei colocar um pouco de água na fervura.


Decerto, ninguém esperaria que “The Lovely Bones” pudesse suplantar a imensa qualidade da trilogia épica de Frodo e do anel Um. “The Lord of the Rings” é a grande obra-prima do realizador neo-zelandês. Uma obra-prima que, tão cedo, não conseguirá ser ultrapassada. Tendo isto em conta, já se saberia de antemão que “The Lovely Bones” dificilmente escalaria os píncaros da mesma montanha gloriosa que a trilogia épica escalou. Verdade seja dita, esta última obra de Jackson é, acima de tudo, um curioso e original ensaio sobre a vida após a morte. Um filme que, apesar de estar uns furos abaixo das expectativas e daquilo a que Jackson já nos habituou, não deixa de ser interessante, competente e (a espaços) dotado de uma complexidade emocional relevante.
A narrativa lenta e propositadamente ponderada conta-nos a trágica e cruel história de Susie Salmon (Ronan), uma jovem rapariga igual a tantas outras que, num fim de tarde depois das aulas, é ludibriada e assassinada por um perverso e perturbador molestador sexual chamado George Harvey (Tucci). Após a sua morte, o espírito confuso e perplexo de Susie é transportado para um encantador reino paralelo entre o Céu e a Terra. Nesta bela, curiosa, mas também sinistra espécie de Purgatório, Susie é convidada a esquecer os acontecimentos passados da sua vida terrena, de forma a dar entrada no divino e eterno Paraíso. Contudo, enquanto a identidade do seu assassino não for desvendada e enquanto justiça não for feita, Susie recusa-se a abandonar aquele local onde, de forma fantasmagórica, consegue visionar o autêntico e devastador calvário por que a sua família é obrigada a passar. E de uma forma discreta e indirecta, Susie vai ajudar a sua família a identificar George Harvey como principal suspeito do seu assassinato, provocando uma espiral de acontecimentos fatídicos e difíceis de controlar…


Adaptado do aclamado romance homónimo de Alice Sebold, “The Lovely Bones” decorre numa espécie de estrutura narrativa partida em dois espaços: o espaço celestial donde Susie observa os acontecimentos terrenos e o espaço terrestre onde a sua família tenta reorganizar-se e sobreviver à cruel e impensável tragédia. Isto faz com que, por vezes, a narrativa se torne cansativa, aborrecida e extenuante. O bizarro reino para onde Susie é transportada oferece-nos alguns momentos de beleza e criatividade abissais. É nestas sequências que a paixão de Jackson pelo fantástico sobressai. Porém, o que se afirma como um dos pontos fortes da película acaba por se afirmar também como um dos seus pontos fracos. As sequências deste mundo celestial são visualmente arrebatadoras, mas acabam por “matar” um pouco a narrativa. Entre cenas delirantes de um mundo excêntrico e bizarro, e cenas puramente dramáticas de uma família à beira de um esgotamento emocional, o que desabrocha é um filme desequilibrado e sem poder para captar a atenção do espectador e envolvê-lo no drama da narrativa.
Percebe-se que a história original tinha potencial para muito mais. Nunca li o romance de Alice Sebold, portanto não posso afirmar se a falha se encontra na matéria-prima ou na adaptação dos argumentistas. O que é certo é que “The Lovely Bones”, apesar de interessante e visualmente apelativo, acaba por falhar redondamente. Falta-lhe qualquer coisa. Falta-lhe um qualquer toque de génio que o afaste da mediocridade e o eleve a um patamar de excelência superior. Assim sendo, “The Lovely Bones” não é o filme horrível que muitos apregoam… mas também não consegue ser a obra brilhante que muitos mais desejavam ver no grande ecrã.


O grande destaque do filme (e que destaque!) acaba por ser Stanley Tucci. No papel de um abusador sexual tímido, complexado, reservado e incrivelmente perverso, Tucci apresenta-nos o maior desempenho da sua carreira. A forma como interpreta esta nefasta personagem deixa qualquer um de boca aberta e acredito sinceramente que, não fosse a excepcional performance de Christoph Waltz em “Inglourious Basterds”, Tucci seria certamente o grande favorito a vencer o Oscar de Melhor Actor Secundário, atribuindo a este filme uma espécie de prémio de honra ou de consolação (já que, antes de estrear, “The Lovely Bones” chegou a ser apontado como um dos grandes favoritos da temporada de prémios).
Infelizmente para os detractores do brilhante Peter Jackson, devo dizer que o realizador neo-zelandês continua bem vivo e acordado. “The Lovely Bones” pode não passar de um filme razoável e levemente interessante, mas ainda assim, consegue ser uma obra actualmente pertinente e apresentar-nos alguns rasgos de génio merecedores de uma ida ao cinema mais próximo.

Classificação – 3 Estrelas Em 5

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