sábado, 18 de abril de 2009

Crítica - The Lion King (1994)

Realizado por Roger Allers e Rob Minkoff
Com Matthew Broderick, Jeremy Irons, James Earl Jones, Rowan Atkinson, Whoopi Goldberg

A Disney – o conceito Disney, desde o homem que deu nome ao estúdio até ao próprio estúdio, passando por todos os subprodutos e “filhos” desse mesmo conceito – é lendária. É inegável o papel fundamental que teve desde os primórdios da animação enquanto cinema, e ainda mais enquanto cinema de qualidade, e a sua contribuição para a evolução contínua e revolucionária que a animação veio sofrendo. É um marco de várias gerações e hoje em dia, com a introdução e desenvolvimento da animação 3D, continua a ser uma referência. A razão, na minha opinião, é muito simples: a qualidade dos argumentos e a qualidade artística de quem está por trás. O facto de nunca se dar primazia a efeitos especiais de encher o olho em detrimento de histórias consistentes e personagens densas – aliás, o grande problema do cinema norte-americano em geral – mas sem deixar de ser inovador em termos visuais e técnicos. É por isso que continua a agradar a um amplo espectro de pessoas e idades, porque fala ao coração sem sentimentalismos de 2ª categoria.


Provavelmente, até hoje, o expoente máximo desta máquina de fazer sonhar é “O Rei Leão”, por várias razões. À partida, pelas profundas temáticas que aborda, mas também do ponto de vista técnico e artístico. Simba é um leãozinho ingénuo e arrogante, filho do líder Mufasa e herdeiro do seu território. Enquanto que o pai entende do seu papel em manter o equilíbrio entre todas as espécies e a sua responsabilidade em zelar pela paz, Simba quer ser rei para ser feita a sua vontade e não obedecer a ninguém. Porém, a inveja e a ganância do seu tio Scar vão levar a uma tragédia da qual o pequeno leão pensa ser o responsável e leva-o a fugir da sua terra para fugir das consequências. Passados muitos anos de viver sem ponta de responsabilidade com os seus novos amigos Timon (uma suricata) e Pumba (um javali) e enterrando a sua culpa e a sua vergonha, Simba reencontra a sua amiga de infância Nala que lhe conta que Scar é agora rei e a sua terra um deserto árido e esgotado de recursos porque ele não respeitou o equilíbrio entre as espécies. Relembrando o passado com a ajuda de Rafiki, o babuíno ancião, Simba reúne a coragem para voltar e enfrentar não só o tio mas também os seus fantasmas e retomar o lugar que é seu por direito.


Este filme é um hino à vida, ao amor, ao mundo. Fala sobre a passagem de criança a adulto e do quão doloroso isso é, da noção do ciclo da vida e de como todos estamos ligados e que, portanto, todas as nossas acções têm implicações directas na vida daqueles que nos rodeiam. Fala do caminho que temos de percorrer para nos conhecermos e amadurecermos, para podermos descobrir o nosso lugar no mundo, sempre pagando o preço da perda da inocência. Fala da existência do Mal como parte integrante de tudo, até da nossa família. Fala da importância do equilíbrio e do respeito em todos os elementos da nossa vida, independentemente de raças, posições hierárquicas, berço, do ponto de vista social, ambiental, até político. Chega de princesas perfeitas e frágeis, há que enfrentar desafios, crescer, enriquecer. É uma obra magnífica, única, de uma sensibilidade extrema, com simbolismos inteligentes com toque shakespeariano na relação pai/filho, os paralelismos traçados do ciclo da vida com o dia e a noite, no território ser delimitado por aquilo que a luz alcança, a chuva como elemento purificador depois de um fogo “redentor”.


Por outro lado, do ponto de vista técnico e estético, é também obra primeiríssima. Foi um dos primeiros filmes a utilizar componente digital, para a cena da debandada dos gnus, os movimentos e a anatomia dos leões, bem como comportamentos, técnicas de luta, etc., foram estudados ao pormenor, conferindo um realismo até então raro no historial Disney. É um importante ponto de viragem na verosimilhança das personagens animais, habitualmente antropomorfizados ou caricaturados em excesso, mas ao mesmo tempo alcançando um nível de expressividade incrível. E, no entanto, mantendo todos os elementos típicos presentes: as personagens cómicas, inesquecíveis na pele de Timon e Pumba, as canções inspiradíssimas de Elton John, dizendo o que ficava por dizer, rematadas com uma partitura arrepiante de Tim Rice que soube na perfeição cantar a natureza, ambas perfeitamente à altura do nível emocional do filme e conferindo ainda mais espessura às cenas dramáticas.


Em suma, um marco da animação, um marco do cinema, uma fábula real encantadora sobre uma criança que nasceu com tudo e vai ter de perder tudo para merecer a sua herança, não só material mas sobretudo ideológica e emotiva, e desvendar o sentido da sua vida.


Classificação - 5 Estrelas Em 5

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