domingo, 19 de abril de 2009

Crítica - Hercules (1997)

Realizado por Ron Clements e John Musker
Com Tate Donovan, Danny DeVito, James Woods, Susan Egan, Bobcat Goldthwait

Há muito muito tempo, na Grécia Antiga, nasce um novo deus no Olimpo, filho de Zeus e de Hera. O seu nome é Hércules. Na festa de comemoração, todos os deuses são convidados excepto Hades, o deus do Submundo. Considerado a ovelha negra da família e com um plano diabólico para usurpar do Olimpo, Hades ordena aos seus capangas Dor e Pânico que raptem Hércules e que o levem para a Terra para o tornarem humano e matarem-no. Mas antes que a transformação ocorra, o bebé é resgatado por um camponês, que o acolhe em sua casa, restando-lhe uma única pinga de poder divino: a sua força incomensurável. Hércules cresce sabendo que é diferente dos outros meninos, até que um dia os pais adoptivos lhe contam que quando o encontraram ele trazia o símbolo do Olimpo consigo. Hércules decide então ir até ao templo de Zeus para encontrar respostas acerca da sua existência e lá descobre que para recuperar a sua divindade tem de provar o seu valor. Acorre ao treinador reformado Phil, um fauno, para se transformar no guerreiro mais forte e intrépido que o mundo já viu. Entretanto, Hades descobre que ele ainda está vivo e envia todo o tipo de adversários para lutarem contra ele, incluindo a bela Meg, subjugada ao seu poder depois de vender a alma para salvar o seu amado, que a abandona em seguida. Nesta viagem, Hércules vai conhecer o amor, a desilusão, e sobretudo aprender que o valor de uma pessoa não se mede pela força dos seus músculos mas sim pela força do seu coração.


Introduzido com um número de jazz e blues à mistura com gospell e cabaret, protagonizado pelas musas da Grécia Antiga depois de mandarem calar uma voz-off solene e muito pouco empolgante, musas estas que se tornam nas contadoras de história por meio destes números musicais, dos mais originais de sempre, “Hércules” promete logo ser um filme Disney diferente do habitual. Tem um teor de comicidade bastante mais marcante, que vem, por um lado, da própria figura desengonçada de Hércules, que não tem noção da sua força, e por outro da necessidade de aligeirar um pouco o universo da mitologia grega. Até o vilão, na personagem de Hades, com a voz grave e imponente de James Woods, é cativante em termos de dar espectáculo. Mas ao contrário de outros filmes com o mesmo timbre tais como “Pacha e o Imperador” (“The Emperor’s New Groove”, 2000) e “Quinta da Barafunda” (“Home on the Range”, 2004), nunca perde a seriedade e a emotividade quando toca àquilo que é importante. A partir do momento em que Hércules incita a sua demanda para descobrir as suas raízes e, no fundo, descobrir quem é, sente-se que se trata da mais clássica e pura história de busca de identidade e de propósito. E, claro, o percurso conturbado e doloroso desde a infância até à idade adulta, mas aqui, muito importante, sem nunca anular ou contornar a fase da adolescência. Por trás deste filme estão os senhores que nos deram “A Pequena Sereia” (1989) e “Aladino” (1992), por isso nada disto é de estranhar. (Mal posso esperar por "The Princess and the Frog"!)


Na sua viagem de menino a graúdo, Hércules tem um mentor muito pouco heterodoxo, um pinga-amor entre outras coisas, mas que lhe ensina uma coisa muito importante: antes de conseguir seja o que for, o importante é acreditar que se consegue alcançar. Phil prepara-lhe o físico para se defrontar com que tipo de obstáculo for, excepto… uma mulher. Um dos aspectos mais interessantes do filme é o encontro e o desenvolvimento da relação entre Hércules e Meg, totalmente diferente das dinâmicas ideais e perfeitas entre príncipes e princesas. Meg corta logo com essa noção desde a sua primeira fala, quando Hércules lhe pergunta, no expoente máximo de inocência e ingenuidade, se ela não é uma donzela em apuros: “Sou uma donzela… estou em apuros… eu trato disto. Tem um bom dia!”. Por outro lado, Meg é absolutamente manipuladora e sensual, forte e determinada, não acredita no amor porque sofreu um desgosto amoroso que lhe valeu a alma (Inédito!! O amor é imperfeito!!) e como se isso não bastasse é uma agente dupla: age, embora não por vontade própria, a mando de Hades. E, pela primeira vez, isto vai dar azo a uma certa inversão de papéis e de princípios: desta vez é o “príncipe encantado” que se deixa enfeitiçar pela donzela e a donzela apaixona-se, depois de muita luta interior, pela personalidade e bondade do príncipe e não só porque sim. Mas a sua boa-vontade presente não chega para a absolver dos erros passados e Hércules descobre que ela o enganou – fez-se história, a donzela não é perfeita e causa um desgosto amoroso ao herói. E é precisamente por aqui, a partir de uma redenção originada pelo amor, que o nosso herói se ergue em todo o esplendor da sua força e, ao estar disposto a morrer em prol de outrem, encontra aquilo que mais procurava: um lar, uma identidade, uma vida.


Para além de tudo isto é um filme muito rico em cenários e em personagens: cidades e campos, todo o tipo de edifícios, interiores e exteriores, estátuas e templos, florestas e mar, desfiladeiros, e o contraste avassalador entre o Olimpo e o Submundo; camponeses e comerciantes, deuses e mortais, criaturas mitológicas e monstros, batalhas extraordinárias. Uma obra muito interessante e cativante, nada menor em relação ao padrão Disney.


Classificação - 4 Estrelas Em 5

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